Livro trata dos protestos de 2013! Obra pode ser baixada gratuitamente pela internet

Em junho de 2013 o Brasil surpreendeu-se com protestos públicos em série que tomaram as ruas e as praças das metrópoles e cidades de médio e pequeno porte. A palavra de ordem era protestar, e os motivos para tais demonstrações de desagrado frente a realidade eram múltiplos embora fluíssem conjuntamente para um único dilema: as condicionantes historicamente estabelecidas que instruem a relação entre o Estado e a sociedade civil.

O livro “descontent@mento - O que comunicam os protestos brasileiros de 2013” é uma versão abreviada da dissertação de metrado de Vinicius Carrasco, apresentada ao Programa de Pós-graduação em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), em agosto de 2015, acrescida de um novo capítulo, redigido pelo orientador, o professor doutor Claudio Bertolli Filho.

O objetivo da publicação é aprofundar as discussões sobre os protestos populares que ocorreram no Brasil em junho de 2013, conferindo destaque ao papel desempenhado pelas redes sociais digitais na mobilização coletiva e nas discussões sobre o que estava acontecendo. A obra coloca em questão o papel da comunicação, especialmente da comunicação midiática, como um instrumento fundamental no processo de (re)posicionamento dos indivíduos e de diferentes segmentos sociais frente aos governantes e os partidos políticos.

O percurso da obra
O primeiro capítulo do livro tem como meta estabelecer o cotidiano dos protestos, o que incluía não só os movimentos de rua, mas também a reação da polícia, das autoridades políticas e dos meios massivos de comunicação diante do que primeiramente foi denominado de “baderna”.

Nos capítulos seguintes, aborda-se a interdependência entre os movimentos sociais circunstanciados no contexto brasileiro em 2013 e as redes sociais digitais, inquirindo sobre os limites e as possibilidades da vinculação do fluxo de informações favorecidos pelas novas tecnologias de comunicação e a vida social, especialmente no contexto de tensão e crise social. Enfocam-se os condicionamentos que têm pautado o ativismo em rede e as novas características assumidas pelos movimentos sociais, enfatizando-se as discussões sobre o que é e como funciona um movimento social. Para além da esfera virtual, o movimento ganhou corpo nas ruas, para onde aluiu um significativo contingente humano em busca de soluções para os mais diferentes dilemas de vida. Nesse sentido, ocorreu uma espécie de ressignificação do espaço público. Ruas, avenidas e praças, que rotineiramente são utilizadas como canais de trânsito de homens e mercadorias, tornaram-se espaços de convívio coletivo amplo, festas, slogans gritados conjuntamente e protestos contra o governo, a administração pública e as grandes corporações econômicas.

São analisadas em seguida como as vozes que deram corpo aos protestos públicos como as vozes que deram corpo aos protestos públicos foram apresentadas e ressignificadas no território virtual. Enquanto tribuna aberta para falas de diferentes protagonistas e avaliadas como um novo segmento do espaço público, as redes sociais virtuais tornaram-se campo de polifonia, embtes e pactos, impondo aos pesquisadores a busca de explicações para o fenômeno, tanto como ato político quanto como iniciativa comunicacional. Por fim, na conclusão, busca-se avaliar não só o que aconteceu no território virtual e nas ruas da cidade, mas também a importância dos eventos de junho de 2013 para a sociedade brasileira, dado o fato de o que então aconteceu ser apenas o ponto inicial de uma série de protestos de massa que continuam a pontuar as cidades brasileiras até o presente.

Legado
“Os protestos de 2013 deixaram como herança a experiência do que chamo de uma cultura de protesto, uma postura reativa da população que passou a acreditar, em termos, na mobilização popular, na articulação de ações política através de atos de protesto e na utilização das redes sociais e mídias digitais como forma de ativismo, de participação e de exercício da cidadania como forma de ruptura contra a apatia política. Ela é reflexo da indignação e do descontentamento com relação às questões sociais. Concentrou em si toda uma esperança de mudança e transformação social diante da representatividade que a eleição direta fornece, mas que ainda não ocorreu”, afirma Carrasco.

Segundo o pesquisador, passado o período de Copa do Mundo e as eleições de 2014, as tarifas do transporte coletivo voltaram a subir e a qualidade desse serviço pouco melhorou. “A velocidade média dos avanços nesse sentido e de atitudes concretas de governos municipais, estaduais e federais segue a lenta velocidade dos congestionamentos das grandes metrópoles e esbarra em burocracia, falta de vontade política e jogos de interesses de esferas do poder que estão na contramão ou bem distantes do interesse coletivo da população”, destaca

Carrasco afirma que observaram-se eventos entre 2013 e 2015 que, pelas semelhanças em certos níveis dos modelos de articulação, indicam que há uma assimilação ou a apropriação dessa “cultura de protestos” gerada após os eventos de junho nessas outras tentativas como os atos de janeiro contra o aumento da tarifa na capital paulista e dois meses depois as iniciativas de mobilização contra o governo Dilma Rousseff. “Essa apropriação, em alguns momentos, foram até partidárias e utilizadas por grupos que tentaram se aproveitar da força que os brasileiros viram nas manifestações para fazer o jogo sujo da briga pelo poder”, diz. “O que vimos recentemente em todo o país com as manifestações contra as reformas trabalhistas e da previdência é, de certa forma, também parte deste legado das manifestações de 2013 no sentido de participação, engajamento, articulação popular, mobilização em prol da cidadania que até então não se havia experienciado no país”, acrescenta.

Na análise sobre a herança dos protestos, o pesquisador destaca que do que se vivenciou a partir de 2013, existem aspectos positivos a serem destacados como o da criação de espaços de discussão, expressão e diálogo. “Numa perspectiva otimista, a exemplo de Manuel Castells, acredita-se no potencial comunicativo das redes e movimentos sociais com o uso das tecnologias em conjunto com as ações nas ruas que dão vozes às reivindicações populares. Sob um olhar cético, contudo, reconhecem-se seus limites diante da fragilidade, heterogeneidade dos discursos e mensagens nas redes sociais digitais e a diferença entre manifestação difusa de opinião e ação concreta que nem sempre se traduzem em ativismo”, afirma.

“Tanto as redes sociais quanto as ruas se tornaram espaços públicos de reivindicação e mobilização política coerente com o exercício legítimo da cidadania. O que se observa é que, a mensagem foi clara e esse é um meio para se buscar tais transformações ou mudanças. Nas ruas, as vozes dos brasileiros clamavam por mais atenção a questões sociais e aos serviços básicos como educação, saúde, segurança, que o Estado teoricamente teria o dever de garantir aos cidadãos. Os protestos brasileiros de junho de 2013 e os movimentos sociais envolvidos neles são manifestações legítimas de um descontentamento comunicado, mas que exigirá amadurecimento da sociedade no tocante à resolução das questões por eles comunicadas. Tal descontentamento suscita das autoridades um posicionamento ainda maior e revisão do seu papel ou repensar o modelo de democracia com a legitimação de espaços dialógicos e interativos que permitam ampliar os graus de participação e decisão dos cidadãos”, analisa.

De acordo com Carrasco, os protestos representam um empenho de múltiplas camadas sociais em exercitar a participação política em um contexto no qual o processo democrático ainda se encontra permeado por graves lacunas e por vigorosas críticas não só ao Estado, mas a todos os agrupamentos políticos. Acrescenta-se a isso algo que ainda tem sido pouco explorado pelos estudiosos do evento aqui analisado: as desconfianças em relação às instituições oficiais incitaram a constituição de novos grupos pautados mais pela confluência de interesses e expectativas do que por um alinhamento ideológico mais evidente. Pensa-se também que se constituiu numa etapa sociocultural na qual os sujeitos da pós-modernidade buscavam novas formas de pertencimento, associativismo e colaboração. Representam esperança de mudança e transformação social diante da representatividade que a eleição direta fornece. Entretanto, a população ficou esperando mudanças que não ocorreram em nenhuma das demandas levantadas.

Os autores esperam que a obra e as análises de tais vivências contribuam para suscitar novas discussões e questionamentos que envolvam o papel singular da comunicação e do ativismo em rede na construção de uma sociedade mais transparente, mais dialógica e consequentemente mais cidadã, democrática, igualitária e humana.

Download
A versão digital do livro (e-pub) pode ser baixada gratuitamente aqui. Basta clicar no ícone de download e digitar um e-mail em seguida.

Sobre os autores
Vinicius Carrasco é jornalista, doutorando, mestre pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) e pós-graduado em Comunicação nas Organizações pela Universidade Sagrado Coração (USC). Atualmente é professor dos cursos de Publicidade e Propaganda e Jornalismo nas Faculdades Integradas de Jaú, da Fundação Educacional “Dr. Raul Bauab”, e dos cursos de Jornalismo e Pós-Graduação em Marketing Digital, da USC. Como docente também ministrou aulas para as turmas de Jornalismo e Relações Públicas da Unesp e em cursos de Pós-Graduação do Instituto Passo 1. Profissionalmente tem experiências como assessor de Comunicação em Projetos Educacionais/Educomunicador; produtor e repórter em afiliadas da Rede Globo no interior de São Paulo (TV TEM e EPTV), na Record TV; redator, repórter e colaborador na Agência Folha e Folha de S.Paulo, revistas Época e Exame, Editora Alto Astral e jornais do interior paulista. Foi ex-aluno do 11º Curso Intensivo de Jornalismo Aplicado de O Estado de S. Paulo/Universidad de Navarra (trainee em jornalismo). Durante a graduação foi bolsista do Programa CNPq/Pibic (1998-1999). Possui habilitação específica para o Magistério (Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério” CEFAM) e ministrou disciplinas de Língua Portuguesa e Inglesa nos Ensinos Fundamental e de Jovens e Adultos (EJA). Atualmente pesquisa temas realcionados a cibercultura, jornalismo digital, redes sociais digitais, novas narrativas, documentário, comunicação por dispositivos móveis, telejornalismo, ativismo digital e movimentos sociais.

Claudio Bertolli Filho é mestre em História Social, doutor em Ciências pela USP e livre-docente em Antropologia pela Unesp, onde atualmente é professor. Acesse o currículo lattes de Claudio Bertolli Filho

==> Foto: Divulgação

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