Lançamento da Editora Planeta expõe a força da poesia falada pela ótica de mulheres

Herança cultural, a poesia falada vem sendo inserida em diversos movimentos e, nos últimos anos, passou a ocupar o espaço público e a trazer à tona temas sociais, culturais e políticos. Idealizado na década de 1980 em Chicago, o poetry slam chegou ao Brasil pelas mãos de uma mulher, Roberta Estrela D'Alva, em 2008 e vem crescendo a cada ano. Os slams são batalhas de poesia, nas quais cada poeta se apresenta sem acompanhamento musical e com tema livre e recebe avaliação de jurados da plateia. Querem nos calar – Poemas para serem lidos em voz alta, lançamento da Editora Planeta, expõe a potência desse movimento sob a ótica de 15 mulheres das cinco regiões do Brasil.

Organizado pela escritora e poeta Mel Duarte, integrante do coletivo Slam das Minas SP, o livro apresenta poesias que permitem "romper com um ciclo de mulheres silenciadas". "(...) a sociedade que vivemos nos cria para obedecer sem questionar, para os afazeres domésticos, para a subserviência, mas não para nos posicionar, para sermos propositoras, para subir num palco e pegar um microfone, e quando assim fazemos, somos interrompidas, desvalorizadas. Dessa forma, nós crescemos com o peso do silenciamento, mas logo entendemos que, se não há espaços que nos valorizam, nós devemos criá-los", afirma Mel na apresentação do livro.

Com ilustrações da artista Lela Brandão, Querem nos calar traz à tona o poder das palavras de mulheres que sempre estiveram presentes na história, apesar de pouco divulgadas: são mulheres pretas, brancas, periféricas, representantes do movimento LGBT, artistas de rua e feministas. "Como apresentar um texto em que a leitura me seduz e aprofunda o meu desejo de escrever um rap? Portanto, não componho aqui uma apresentação da antologia Querem nos calar: poemas para serem lidos em voz alta, mas uma tentativa de falar junto com as autoras dos poemas. Ao compor este texto, me coloco apenas como uma leitora que encontra, nas vozes desta coletânea, um lugar em que as falas de outras mulheres, assim como a minha, se compactuam, se encontram no que está dito, no que está escrito", afirma Conceição Evaristo no prefácio.

Sobre as autoras:
Mel Duarte (org.) nasceu na primavera de 1988 em São Paulo (SP) e teve seu primeiro encontro com a poesia aos 8 anos. É escritora, poeta, slammer, produtora cultural e integrante da coletiva Slam das Minas SP. Em 2016, foi destaque no sarau de abertura da Flip e a primeira mulher a vencer o Rio Poetry Slam. Em 2017, representou a literatura brasileira no Festilab Taag em Luanda, Angola. É também autora dos livros Fragmentos dispersos (2013) e Negra nua crua (2016).

Anna Suav, CRIA 092, natural de Manaus, Amazonas, mulher preta nortista com muito orgulho e axé! Artista, feminista, jornalista, fotógrafa, produtora cultural, MC, poeta, slammer, cantora, compositora, empreendedora e bruxa. Ativista dos movimentos hip-hop e negro. Filha de Navê, "da mesma água que mata a tua sede e outrora te afoga".

Bell Puã é Isabella Puente de Andrade, historiadora e poeta cabra da peste, nascida entre o mangue e o sol da cidade do Recife. Vencedora do Campeonato Nacional de Poesia Falada – Slam BR 2017, representante do Brasil na Poetry Slam World Cup 2018, em Paris, e convidada da programação principal da Flip 2018, integra o coletivo Slam das Minas PE. De libra, das nuvens, busca atropelar as fragilidades e fortalecer os afetos, compondo também o coletivo negro Afronte, desenvolvendo atividades de consciência racial em seu estado.

Bor Blue é poeta marginal que fala sobre sua realidade contra o racismo, o machismo, LGBTfobia. Toca, canta e escreve, compõe músicas que falam de luta, resistência, sobrevivência, e toca carimbó porque acredita que seja uma herança cultural deixada por nossos ancestrais, índios, caboclos, negros. Acredita na arte como ferramenta de transformação nos espaços públicos como feiras, praças e coletivos de Belém. Sua missão é manter essa cultura viva e faz isso com muito amor.

Cristal Rocha nasceu poesia em junho de 2002 e seu amor pelos versos só cresceu desde então. Foi a primeira campeã gaúcha a representar seu estado no Slam BR 2017. Lançou seu livro independente em 2018, Quando o caso escurece, com poesias e ilustrações autorais. Leva sua poesia em eventos como saraus, festivais literários, shows, participações em músicas, escolas e oficinas. É idealizadora e artista do coletivo Poetas Vivos.

Dall Farra é estudante de Geografia na UFRJ, poeta, rapper e slammer de Duque de Caxias, Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Além disso, é integrante do coletivo Poetas Favelados e do coletivo Slam das Minas, que praticam ações poéticas em espaços públicos. Desde os quinze anos, Dall Farra aborda em músicas e poemas assuntos como a discriminação de gênero e classe.

Danielle Almeida tem 23 anos, criada na periferia de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, no bairro Moreninha. É poeta e atriz sempre que pode. Sua entrega para a escrita começou efetivamente há cinco anos e, desde então, não parou mais de fazer e viver a poesia, a arte. Teve experiências inesquecíveis com os movimentos de slam e diz que, com isso, sua alma de poeta só progrediu. Atualmente integra o coletivo Slam Camélias. Poesia de um coração suburbano é o nome que dá a seu fanzine, e através dele espalha suas poesias pela cidade, dessa forma sabendo que existe e resiste!

Laura Conceição é MC e poeta nascida na região da Zona da Mata Mineira. Em 2017, Laura foi vice-campeã mineira de poesia falada, classificando-se para o Campeonato Brasileiro de Slam. Ainda em 2017, criou o projeto "Poesia na escola", por meio do qual leva poesia e sonhos para crianças e adolescentes. Atualmente, já realizou mais de 45 visitas aos colégios da cidade e região. Aos 22 anos, Laura se formou em Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora e fundou o coletivo de poesia Duas. Ganhou as medalhas Rosa Cabinda e Geraldo Pereira em 2017.

Letícia Brito é poeta. Dedica-se à poesia falada (spoken word/poetry slam) e às microrrevoluções político-sociais em que a poesia incinera, afaga, afeta e transforma. No ano passado, representou o Brasil no Rio Poetry Slam, que reuniu doze poetas competidores de diferentes países e que acontece na Festa Literária das Periferias (Flup). Neste ano integra a banca avaliadora do Flup Poesia Preta; realizou oficina para os professores da rede Sesc nacional e participa do Arte da Palavra do Sesc nacional.

Luiza Romão é atriz, poeta e slammer. Leonina. Feminista. Formou-se em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo (USP). Publicou dois livros pelo selo DoBurro: Sangria (2017) e Coquetel motolove (2014). No teatro, passou por coletivos como: Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, Cia Ato Reverso, Teatro Documentário e Turma 66/EAD. Adora cinema. Dirigiu e atuou nas séries audiovisuais Sangria e Revide.

Luz Ribeiro. Em tempos de redes sociais, Luz prefere pousar em redes de balanços e afetos, de maneira que Luz não possui uma base de seguidores estabelecida, Luz não sonha em ter seguidores, Luz sonha em ter sempre com quem seguir. Luz é coletiva: Poetas Ambulantes, Slam das Minas SP e Legítima Defesa. Autora dos livros (in)dependentes Eterno contínuo (2013) e Espanca-estanca (2017). Paulistana nascida no verão de 1988, Luz é: mar-mãe de Ben e filha-mar de Odoya.

Mariana Felix é escritora, slammer, apresentadora e militante feminista. Tem dois livros publicados de forma independente: Mania (2016) e Vício (2017), ambos com poesias, crônicas e dissertações sobre o empoderamento feminino, a relação da autora com a cidade e o amor. Faz parte do coletivo audiovisual composto apenas por mulheres Prosa Poética, além de integrar o espetáculo Samba Poética.

Meimei Bastos nasceu em 1991, em Ceilândia, Distrito Federal. É escritora, poeta, atriz e arte-educadora formada em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília. Atua em diversos movimentos sociais, promovendo saraus, slams, oficinas, debates, cineclubes e rodas de conversa especialmente direcionados à população negra e periférica. Premiada pela Secretaria de Estado e Cultura do Distrito Federal com o prêmio de Cultura e Cidadania, na categoria Equidade de Gênero. Em 2017, publicou seu primeiro livro, Um verso e mei, pela Editora Malê. Atualmente, coordena o Slam Q'brada.

Negafya, 22 anos, moradora do bairro da Sussuarana, Salvador, Bahia, poeta, MC, artista de rua, produtora cultural, ativista cultural, integrante do grupo de poesia Resistência Poética, idealizadora e produtora do Slam das Minas BA, vice-campeã brasileira de poesia falada (2016), vice-campeã Rio Poetry Slam-Campeonato Mundial de Poesia Falada, graduanda no curso de enfermagem e angocapoeirista. Artista de rua e poeta, durante a apresentação traz denúncias de violências como racismo, machismo e sexismo, além de ter como principais características a expressividade corporal e a linguagem de fácil entendimento do público em geral. Faz da poesia marginal os gritos pretos e femininos de liberdade, resistindo na diáspora africana enquanto ser que transforma a dor em luta.

Roberta Estrela D'Alva é atriz, MC, diretora, pesquisadora e responsável pela chegada dos poetry slams (batalhas de poesia falada) ao Brasil. Membro-fundadora do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e do coletivo transdisciplinar Frente 3 de Fevereiro. Juntamente com Tatiana Lohmman, dirigiu o premiado documentário SLAM – Voz de Levante. Apresentadora do programa Manos e minas, na TV Cultura.

Ryane Leão é mulher preta, professora e poeta cuiabana que vive em São Paulo. Publica seus escritos na página Onde jazz meu coração, escreve em blogs e páginas autorais há mais de onze anos e recita seus poemas em saraus e slams da cidade. Seu trabalho é pautado na resistência das mulheres e focado na luta e no fortalecimento pela arte e pela educação. É filha de Oyá e venta forte no seu peito. Tudo nela brilha e queima, seu primeiro livro, publicado pela Editora Planeta em outubro de 2017, está na décima edição.

Ficha Técnica:
Título: Querem nos calar
Autora: Mel Duarte (Org)
Ilustrações: Lela Brandão
Páginas: 224
Preço: R$ 39,90
Editora Planeta

==> Foto: Divulgação

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