Artigo: Professor e pesquisador, esta é minha profissão! Conquistas e desafios na carreira

O dia dos professores foi em outubro, mas o fato de o final do ano estar se aproximando é também um momento para se lembrar destes profissionais, que afinal são de importância inestimável no ensino básico e mesmo na formação de tantas profissões. Os professores podem ser considerados como grandes astros do ensino, atuando como psicólogos, músicos, comediantes (...) e são campeões no quesito jogo de cintura, principalmente quando o final de mais um ano letivo se aproxima. O fato é que, mesmo diante de tantos desafios que estes profissionais enfrentam a todo o momento em suas carreiras no ensino, muitos estão motivados a ir mais longe e investem tempo e muita disposição se dedicando a cursar um curso de mestrado ou doutorado, em paralelo com a atividade de docente.

É o caso de professores que, buscando uma melhor qualificação em suas áreas de atuação, optam por seguir a carreira de docente e pesquisador. Têm sido cada vez mais comum situações em que professores se dividem entre as aulas (e tudo que elas exigem) e ainda desenvolver experimentos e leitura de artigos, entre outros itens de uma lista enorme de afazeres que a pós-graduação demanda.

Para Raul Ramos, que cursa doutorado em Engenharia Elétrica na UNESP de Sorocaba e é professor no SENAI- São Paulo, os benefícios de se conduzir ambos os trabalhos podem se complementar, pois “assim como realizar uma pesquisa eficiente exige-se metodologia científica, dar aulas também, quando nos deparamos com os diferentes públicos alvos (alunos) os quais devemos atingir o objetivo de ensinar”. Outro ponto também salientado por ele está no exercício constante em transformar os conteúdos para melhor abstração dos alunos. Segundo ele, o ato de “enxergar e explicar algo complicado em termos mais simples exige que ataquemos e investiguemos sempre os níveis fundamentais da ciência. E essa simplicidade de pensamento e questionamento é propiciado pelos alunos em sala e aula.”

Para Juliana Mizael, que é professora na Universidade de Sorocaba (UNISO) e cursa doutorado em Ciências Ambientais na UNESP de Sorocaba, os benefícios da atuação professor/pesquisador também podem envolver melhorias para a própria formação do professor, ao “poder contextualizar os conhecimentos adquiridos nas duas oportunidades. Toda atualização que podemos transferir aos alunos, como a oportunidade de esclarecer dúvidas e situações no ambiente acadêmico, ou aindatodo aprendizado adquirido.”

Nesta parceria, existem também os efeitos benéficos para as próprias instituições, segundo Juliana,“pois onde se trabalha conta com um profissional qualificado da outra instituição, e para a instituição formadora, o privilégio de ter um aluno já atuando na área.” Já Raul complementa a descrição destes benefícios da parceria entre as instituições, baseando-se no aspecto da qualidade do ensino e do aprendizado: “Podemos contribuir para formar alunos mais cientes e críticos em suas respectivas atividades desempenhadas; capazes de fazer questionamentos mais assertivos e de extraírem respostas mais interessantes dos dados observados.”

Entretanto, existem os aspectos desafiadores vinculados à divisão entre as funções de professor e pesquisador. O tempo é um dos principais desafios citados para os dois pesquisadores entrevistados. Para Juliana “a pesquisa exige tempo, dedicação e muita leitura, e dividir essa dedicação com a dedicação como professora, atualização das aulas e atividades extras-classes que as aulas exigem fica um pouco complicado. Porém, quando ambas atividades contribuem para um mesmo objetivo, fica mais agradável e inspirador de se cumprir.” Já para Raul, além da questão do tempo, um dos desafios também refere-se a questão das bolsas de pesquisa, pois “a escassez ou mesmo os baixos valores de bolsas acarretam a necessidade de se acumular mais aulas, reduzindo consequentemente a qualidade das atividades desempenhadas.”

Contudo, mesmo com tantos desafios o contexto geral da situação envolve um tom de poesia, já que os professores são peças fundamentais na formação de cidadãos e de tantas profissões. Ainda que a visão poética a respeito desta profissão seja algo distante da realidade que caracteriza a maneira como tantos alunos vêem seus professores no Brasil, sempre existirá alguém capaz de enxergar algo de bonito e motivador nesta profissão. Como se fosse um dom, uma missão, Raul relata o que o motivou a escolher este caminho belo e ao mesmo tempo árduo, sendo um professor/pesquisador: “a natureza de nosso universo sempre me encantou, e a necessidade de entendê-lo de maneira mais coerente sempre esteve no âmago de minha natureza, levando-me a ser pesquisador antes mesmo de ser um estudante. E do mesmo modo que aprender sempre me animou, ensinar era uma consequência de minha gratidão pelos que me ensinaram”.

Ele conclui sua resposta revelando que, talvez o mais importante nesta história é a lição de que bons exemplos são alimentos para a inspiração, mesmo diante de um trabalho desafiador. Segundo Raul: “talvez pelo fato de ter a mãe professora, sempre acreditei na nobreza dessa atividade e na capacidade dela de mudar as pessoas e consequentemente a sociedade. Independente da atual situação da pesquisa e do ensino no país, ainda tenho um sobejo de esperança de que um dia conseguiremos fazer com que a nossa sala de aula e nosso laboratório de pesquisa sejam devidamente aproveitados como foram feitos para ser!”.

Reportagem escrita por Leila dos Santos Machado, bióloga, mestra em Ciências Ambientais, discente do curso de doutorado em Ciências Ambientais na UNESP Sorocaba

Esta reportagem foi escrita dentro da proposta das disciplinas “Tópicos Especiais em Jornalismo e Divulgação Científica” (Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Unesp-Sorocaba) e “Jornalismo e Divulgação Científica” (graduação em Engenharia Ambiental da Unesp-Sorocaba) oferecidas no campus no segundo semestre de 2017.

==> Foto: Divulgação

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