Ópera une alunos, ex-alunos e professores da Escola de Música de Brasília

Há 20 dias, músicos e cantores da Escola de Música de Brasília Maestro Levino de Alcântara tomam os palcos do teatro da instituição para ensaiar a ópera Gianni Schicchi, do compositor Giacomo Puccini. São cerca de cem envolvidos no projeto encabeçado pela nova gestão e produzido com ajuda de alunos, ex-alunos e professores do centro de ensino. Neste fim de semana (23 e 24), eles se apresentam gratuitamente em sessões que começam às 19 horas. O teatro fica na 602 Sul e tem capacidade para 560 lugares.

A peça é a primeira de uma série de inciativas conjuntas na escola de música. “Escolhemos a ópera por ser uma obra que reúne vários elementos musicais: palco, iluminação, orquestra, canto”, explica o vice-diretor da instituição, Davson de Souza. A ideia é que a cada fim de semestre, na formatura, haja uma ópera com formandos no elenco, principalmente no caso dos cantores. “Queremos que cada vez mais alunos estejam envolvidos como parte do processo da aprendizagem”, reforça o educador.

São 14 cantores e cerca de 50 músicos na orquestra regida pelo maestro Deyvison Miranda, além de diretores, produtores, assistentes técnicos e figurinistas. Originalmente, a ópera escrita pelo italiano Giacomo Puccini se passa em Florença, mas foi adaptada para o sertão da Paraíba, com direito a cantoria em português, sotaque e expressões típicas do Nordeste brasileiro. A direção de arte e a produção são de Clara Figueiroa, ex-aluna de canto lírico da Escola de Música de Brasília. “Saí da escola em 2006, mas foi um prazer aceitar o convite e voltar a esse palco.”

A obra adaptada por Clara já foi apresentada em Brasília em 2014, com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Em 2015, ela foi selecionada pelo FAC para circular em seis escolas públicas e aguarda liberação da verba. À época, o espetáculo teve até programa e sinopse em formato de xilogravura e cordel, característicos da região retratada.
De acordo com a diretora da peça, a nova fase nos centros de ensino dialoga com a proposta de inclusão inerente ao trabalho dela. “Costumo distribuir os programas em braile e apresentar com legendas para que surdos ou pessoas com problemas de audição possam acompanhar”, explica.

Mudanças na Escola de Música de Brasília

A temporada de óperas na Escola de Música de Brasília é apenas uma das mudanças propostas pela gestão atual.  No início do segundo semestre, que começa em 15 de agosto, haverá um show com a turma de arranjo para comemorar os cinco anos de existência do curso. Em 22 de agosto, a Torre de TV recebe a terceira edição do projeto Hoje a Aula é Aqui, por meio do qual, alunos da instituição se apresentam em espaços públicos da cidade, como o Parque da Cidade e a Rodoviária do Plano Piloto.

Para a diretora da escola, Edilene Abreu, a interação com o público por meio do projeto foi um dos fatores que contribuíram para o grande interesse nos cursos. A demanda por essas turmas neste semestre foi de 10.567 alunos, que disputaram 1.798 vagas em 30 modalidades — em 2015, foram 5,8 mil candidatos para 900 vagas. “É uma forma de as pessoas conhecerem instrumentos e entenderem como funciona o trabalho na escola”, explica a diretora.

Maranhense em Brasília desde 1995, a educadora, que trabalhava na regional de São Sebastião, aceitou o convite da Secretaria de Educação em abril de 2016 para assumir a direção da Escola de Música de Brasília. “É encantador e desafiador lidar com tantos artistas”, confessa. Assim que chegou ao local, a Edilene reuniu alunos, professores e ex-alunos colaboradores para atuar de forma conjunta. “Tem alunos trabalhando na nossa logomarca, outros reformando instrumentos, é bonito de se ver.”

Desde então, têm sido feitos levantamentos de pontos que devem ser resolvidos com urgência, como a mudança nos currículos e reformas. Para Edilene, o maior desafio é aumentar a autoestima da instituição como um todo.

As medidas de reestruturação da Escola de Música de Brasília tiveram início em meados de abril, depois do afastamento por 60 dias do diretor, Ayrton Pisco, por um processo administrativo disciplinar. A nova gestão ficou incumbida pela Secretaria de Educação a estreitar as relações com o corpo docente e investir em melhorias imediatas para o espaço.

Prestes a se formar, a harpista Verônica Mamede, de 28 anos, e aluna da escola desde 2004, percebeu as mudanças de forma positiva. “Os currículos foram atualizados, mas o que sentimos mesmo foram as reformas nos banheiros e na iluminação”, destaca a moradora de Ceilândia. Os reparos nos banheiros e o investimento na iluminação foram feitos com recursos do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (Pdaf) e executados pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap).

Verônica é um dos 2.340 estudantes matriculados na instituição e em breve apresentará seu recital, no qual dedilhará uma harpa orquestral de 47 cordas. Para alunos como ela, a diretora ainda adianta que há planos de incentivar a colação de grau em grupo. “É uma forma de valorizá-los além do fazer artístico, formalmente, e juntos, como uma escola deve funcionar”, conclui. A próxima seleção de alunos para a Escola de Música de Brasília ocorrerá em novembro. A data e o número de vagas ainda não estão definidos.

Gabriela Moll, da Agência Brasília

==> Foto: Pedro Ventura / Agência Brasília

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