Quando o momento político desilude e as perspectivas são pessimistas,
cabe lembrar de uma teoria, a das elites ou da classe política, que
observa esse mundo com um olhar desencantado. Melhor quando esta teoria é
destrinchada por Norberto Bobbio, um dos maiores pensadores do século XX.
Em um conjunto de textos, reunidos em Ensaios sobre a ciência política na
Itália, lançamento da Editora Unesp, ele confronta as
ideias de Gaetano Mosca e Vilfredo Pareto, pioneiros, na virada do século
XIX para o XX, no estudo da política usando métodos científicos.
Bobbio comenta essa perspectiva realista a partir de dois temas principais: a distinção entre verdade de uma teoria e sua eficácia persuasiva; e a distinção entre o valor científico de uma teoria e seu uso ideológico. Como coloca o próprio autor, essa vertente teórica não recusa a trabalhar com o pensamento utópico e as ideologias, mas “deles se ocupa para tentar entender qual seja sua função no universo político em que os eventos a serem observados, interpretados, descritos e eventualmente justificados ou não justificados são atos humanos”. O pensamento científico surge então como a antítese destas visões, revelando os “arcanos do poder”.
Tal caminho descobre “que o verdadeiro fundamento de todo regime não é nem a força nem o consenso, e sim [...] o consenso manipulado”. Bobbio argumenta que tais ideias mereciam ser retomadas diante do desgaste das ideologias. Se quando a primeira edição é publicada, em 1969, as utopias igualitárias tinham se invertido em “em desapiedada forma de despotismo”, o prefácio de 1996 chamava atenção para as mudanças ocorridas na Itália e no mundo, sem que o interesse “pelo pensamento realista, antiutópico e anti-ideológico dos fundadores da teoria das elites” tivesse desaparecido. Aliás, a desordem de então fornecia “material de reflexão cada vez mais abundante” para a abordagem realista.
Eliminando a ilusão de diminuir o poder da classe política e ampliar a democracia direta, o realismo toma então para si a tarefa de desmistificar a ideologia dominante, que impede a transformação da sociedade. Bobbio constata que, de 68 a 96, a imaginação permanecia fora das portas do poder: nada é menos poético e comum do que a disseminação da corrupção política. Sem nutrir ilusões – e nisso segue Mosca e Pareto –, observa que a democracia na Itália sobreviveu a vários golpes, do terrorismo às diversas máfias. Resta descobrir como fortalecê-la, ao mesmo tempo em que nos preparamos para o pior.
Qualquer semelhança com o Brasil de 2016 não é mera coincidência.
Sobre o autor – Norberto Bobbio (1909-2004), nascido em Turim (Itália), é um dos principais pensadores políticos europeus. De sua obra, a Editora Unesp publicou Estudos sobre Hegel (1989), Direita e esquerda (1995), Os intelectuais e o poder (1997), Elogio da serenidade (2002), O problema da guerra e as vias da paz (2003), Nem com Marx, nem contra Marx (2006), Democracia e segredo (2015) e Política e cultura (2015).
Título: Ensaios sobre a ciência política na Itália
Autor: Norberto Bobbio
Tradução: Luiz Sérgio Henriques
Número de páginas: 361
Formato: 14 x 21 cm
Preço: R$ 76,00
ISBN: 978-85-393-0626-8
==> Foto: Divulgação
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