A partir de hoje (sexta-feira 6), a revista Traços começa a
circular em Brasília, levada pelas mãos de 50 moradores de rua, chamados
de porta-vozes da cultura no projeto selecionado pela Lei de Incentivo à
Cultura do Distrito Federal. Os vendedores da publicação mensal foram
escolhidos em parceria com a antiga Secretaria de Desenvolvimento Humano
e Social, pasta que, na reforma administrativa, se uniu às Secretarias
do Trabalho e do Empreendedorismo, e de Políticas para as Mulheres,
Igualdade Racial e Direitos Humanos.
O governador Rodrigo Rollemberg participou do lançamento, acompanhado da esposa, Márcia Rollemberg, e do secretário de Cultura, Guilherme Reis, na noite desta quarta-feira (4), na área externa do Museu Nacional da República. "Esse trabalho vai mudar a vida de quem vende e de quem compra. As pessoas terão um novo olhar sobre a cultura de Brasília", disse o chefe do Executivo, ao adquirir o primeiro exemplar, vendido pelo porta-voz Ricardo Bispo.
Com 23 anos, há cinco na rua, Bispo vê no projeto uma chance de voltar a ter uma moradia e de completar os estudos. "Vai abrir portas. Ainda estou fazendo o ensino médio, mas quero ter uma casa e fazer uma faculdade", contou. Ele e os outros 49 vendedores foram selecionados dentre 73 inscritos, no Centro Especializado para População em Situação de Rua, na 903 Sul, serviço vinculado à secretaria parceira. Os demais aguardam uma nova oportunidade na fila de espera.
Geração de renda
Para começar a vender, cada um
recebeu 30 exemplares, sem pagar pelos custos. A ideia é que, agora, com
o dinheiro obtido nas primeiras vendas, eles consigam um ciclo de
geração de renda. A partir daí, o exemplar custará R$ 1 aos moradores de
rua, e a revista será comercializada por R$ 5 — os R$ 4 de lucro ficam
para eles.
Para permanecer no projeto, é necessário seguir um código de conduta, publicado na primeira edição. Entre as regras está a proibição de consumo de bebida alcoólica, por exemplo, e da presença de crianças no ponto de venda.
Durante o mês de outubro, os vendedores passaram por capacitação que incluiu uma oficina de fotografia. Os trabalhos podem ser vistos na exposição Rua em Foco, no Museu da República. A mostra conta com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do DF e faz parte de outro projeto, o Equinócios: Atividades em Comunidade, que busca, por meio da arte, resgatar o potencial das pessoas que vivem nas ruas.
Editor-chefe e idealizador, André Noblat destacou a importância do apoio governamental para executar o projeto planejado há dez anos. "A revista é a parte mais fácil, o importante é que seja uma ferramenta de inclusão social." A capa do primeiro número traz o bandolinista Hamilton de Holanda, entrevistado especial. Há também matérias sobre ocupações culturais em locais públicos, bandas e artistas de Brasília e a história de um ex-morador de rua.
Patrocínio
A intenção dos que trouxeram a
iniciativa para Brasília, inspirados em experiências semelhantes em
outros 123 lugares do mundo, é expandi-la. Por enquanto, eles têm
patrocínio para dez meses de trabalho. Por meio da Lei de Incentivo à
Cultura do DF, até agora o periódico captou R$ 820 mil, mas está
habilitado a arrecadar até R$ 1,2 milhão. Empresas interessadas podem
investir a diferença restante. Quem patrocina ganha incentivos fiscais
do governo, como abatimento de impostos.
Amanda Martimon, da Agência Brasília
==> Foto: Andre Borges / Agência Brasília
![](http://starcopos.com.br/esportecultura/dalton.png)
![](http://starcopos.com.br/esportecultura/linha_autor.png)
0 comments:
Postar um comentário