Escritora para crianças revela trajetória e processo de criação

Natural de Marília, a escritora Telma Guimarães foi incentivada desde pequena ao hábito da leitura pelos pais, que compravam livros em abundância, revistas e até seis jornais diários. Fascinada pela literatura e com a imaginação bastante fértil desde as primeiras redações escolares, Telma passou a escrever em diários na adolescência e depois cursou Letras Vernáculas e Inglês pela Unesp.

Foi professora efetiva de inglês, aprovada em Concurso Público Oficial do Estado de São Paulo em 1979, e ensinou na rede estadual de ensino em Campinas, até 1995, quando tomou a difícil decisão de dedicar-se somente a literatura infantil e juvenil. “Lecionar sempre foi, além de uma paixão, o meu trabalho. Ao decidir pedir exoneração do cargo, eu já havia publicado 40 títulos”, afirma a vencedora do prêmio "Melhor Autora em Literatura Infantil" da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de 1989. “Concluí que não ia conseguir fazer as duas coisas. Fiquei com o sonho e abandonei a sala de aula. Sinto falta até hoje!”.

Assim como sua mãe fez com ela e seus nove irmãos, a autora contava histórias para entreter os filhos, muitas delas inventadas. Ao perceber o seu sucesso com as crianças, começou a anotá-las a partir de 1983. “Era a maneira que tinha para arrumá-las, dando mais forma e sentido. Passar a limpo se tornou tarefa diária. Comprava cadernos novos e até fazia alguns desenhos”, conta o momento em que decidiu se dedicar a ser uma escritora. “Durante quatro anos eu enviei as histórias para as editoras. Em 1987, lancei os três primeiros livros e não parei mais”.

No dia 30 de agosto, a escritora lança seis livros pela Editora do Brasil, na 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Em As aventuras de Sherlock Holmes, a autora afirma ter levado mais de um ano traduzindo e adaptando o texto e quatro meses lendo e elegendo os textos que iriam compor o volume. 

“Foi difícil escolher, mas finalmente decidi-me pela A liga dos ruivos, que tem um tom de humor muito bacana, A aventura da banda pintada, com toques de horror e A aventura do vampiro de Sussex, que mistura amor, ciúmes e com uma surpresa ao final.”E realmente não parou. Atualmente, é autora de mais de 170 títulos e pretende criar muitos ainda.

Telma Guimarães dá um conselho precioso os iniciantes e pretendentes à carreira de escritor: “Estar atento ao que os autores escrevem, frequentar livrarias semanalmente, ir aos sebos e não desistir, nunca. Não desanimar com os palpites. Vá em frente, arrisque!”

Telma Guimarães apresenta também A viagem de Fofo e a nova Coleção Nice to read you!, que traz divertidas histórias contadas em inglês, por meio de enredos curiosos e envolventes. Todas elas trazem vocabulário detalhado, importante ferramenta de apoio ao ensino de Língua Inglesa. As ilustrações são um caso à parte: criativas e lúdicas, acompanham de forma exata o texto e favorecem sua compreensão. A coleção estreia com os títulos A Smart Grandma, Pink & Blue Punks, An Amazing Story e Goodbye, Ms. Parker.

De onde surge a inspiração para escrever essas histórias?
Inspiração não surge como passe de mágica. Digo para mim mesma, sempre, que é como um gravetinho que você recolhe a cada passo. Depois de vários gravetinhos recolhidos, é sentar-se em frente ao papel e fazer uma, duas, dezenas de tentativas de escrita. Quais são esses gravetinhos? Ir às livrarias, ver o que há de novo, sentar-me à mesa do café e folhear os livros novos, olhar atento, coração sendo abastecido, página após página. Caminhar e manter o olhar atento ao que me cerca, bom, assim como prestar atenção ao que os leitores perguntam, escrevem, questionam, ouvir atentamente as histórias, os “causos” contados pelos amigos, por crianças, familiares. 

Como é o seu processo de criação? Você tem um horário fixo para escrever?
Depende do tipo de livro. No caso dos didáticos, tenho regras de trabalho bastante rigorosas, prazos para entrega. Mas mesmo nos textos de literatura costumo ter hora para começar: entre uma e uma e meia da tarde. E não costumo ter hora para parar. Só não passo mais madrugadas acordada. Já fiz muito isso.  Muitas vezes entro em meu escritório para escrever e pens: “escrever sobre o quê?” É sempre um desafio. Quando a história dá certo, acho o tom e ela voa, sem nem esperar por mim, aí sim, sinto que a inspiração é minha parceira. Senão é “transpiração” mesmo. 

Quais são as principais dificuldades em fazer a tradução de um livro para que ele seja bilíngue?
A época em que ele foi escrito. É bastante desafiador lidar com um texto que foi escrito há duzentos, trezentos anos. Muita coisa mudou. É bem bacana ajustar um novo adjetivo a um em desuso, deixar uma frase mais coloquial, dar um frescor ao texto. Primeiro faço a tradução para mim. Só então passo para a adaptação. Daí vem a terceira fase, que é lidar com o Inglês mais atual. Aspas no lugar de travessões, os trajes de época. Minha mesa de trabalho fica empilhada de referências e dicionários.   

Como escritora e ex-educadora, como você vê a importância da literatura na infância no processo de formação das crianças?
A literatura abre um mundo imenso de possibilidades, sonhos, magia e inquietações, além de nunca deixar você ficar sozinho. O livro é o melhor companheiro que se pode ter. Uma criança que lê é um adulto que muda o mundo. É alguém que questiona, sonha e toma decisões.    

Como é a sua relação com a literatura e o que ela representa na sua vida?
Ela faz parte da minha vida. Leio, vivo e respiro livros. Sem livros, nada para mim é possível! Ler abastece a minha alma, me dá combustível para rodar pela vida de forma alegre, bem-humorada, abre a minha cabeça, me faz questionar, espernear quando é preciso, entender, contemplar, modificar. Sem literatura, a vida não teria sabor!

==> Foto: Divulgação

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