Quanto custa o seu trabalho? Quanto custam
seus valores? Até onde as pessoas vão por dinheiro? Estas são algumas das
provocações do espetáculo Quanto
Custa?, montagem do diretor Pedro
Granato para os textos Quanto Custa o Ferro? e Dansen, do
dramaturgo, poeta e encenador alemão Bertolt
Brecht (1898 -
1956). A peça estreia em Brasília dia 14 de novembro, quinta-feira, às 20h,
no Teatro I do Centro Cultural Banco do
Brasil. A direção de arte é de Marinês
Mencio e a trilha sonora original é assinada por Rafael Castro.
O resultado da
adaptação de Pedro Granato é um espetáculo permeado de suspense que une a
dramaturgia própria de Brecht, um dos pensadores de teatro mais influentes do
século 20, a
referências estéticas cinematográficas. Serviram como base para a peça filmes
do diretor Quentin Tarantino; Dogville, de Lars Von Trier; O
Iluminado, de Stanley Kubrick; Delicatessen, de Jean-Pierre Jeunet, e o documentário canadense The
Corporation (A Corporação), de Mark Achbar e Jennifer Abbott.
Com direção e concepção de Pedro Granato
(diretor de Il Viaggio, sobre roteiro de Federico Fellini, e Navalha
Na Carne, sobre texto de Plínio Marcos), o elenco reúne experientes atores
ligados ao teatro de grupo: Luís
Mármora (da Mundana Cia., Cia. São Jorge de Variedades e Cia. do Latão),
Pedro Felício (do IVO 60) e Ernani Sanchez (do Jogando no Quintal
e IVO 60).
O cotidiano de três
comerciantes, que convivem harmoniosamente em uma pequena rua, é interrompido pela notícia de um
cruel assassinato. A morte se deu no entorno das lojas e o principal
suspeito é um empresário forasteiro, que propôs contratos de sociedade com os
três: o açougueiro Sr. Dansen, o vendedor de ferro Svenson e a jornaleira Sra.
Norsen. Percebendo que estes contratos podem levar a novos assassinatos, os
vizinhos criam uma relação de intriga, suspeita e tensão, que dão o tom do
enredo.
“A trama de
assassinatos, dúvidas, traições e interesses comerciais servem de pano de fundo
para retratar e questionar valores da sociedade contemporânea, por meio de um
suspense ininterrupto criando expectativas do que vai acontecer durante toda a
peça”, afirma o diretor Pedro Granato. "Abordamos a violência do comércio, quando
negociantes, muitas vezes, pensam que se estiverem ganhando podem fazer coisas
absolutamente injustas e absurdas", explica Granato.
A montagem propõe
inovações estéticas ao mesmo tempo em que se mantém fiel aos preceitos
dramatúrgicos de Bertolt Brecht, responsável pela criação de uma dramaturgia
própria, em que política, reflexão e entretenimento se misturam, a música é
trazida para o centro da cena e a separação entre palco e plateia é rompida. “Trabalhamos, também, outra característica muito
brechtiana, a fábula. Ainda que estejamos falando de uma rua de comércio e da
vida de comerciantes, essa questão se situa em um ambiente fantástico”, diz
Pedro.
“Brecht teve uma influência
grande na forma de fazer teatro no mundo, porque seus textos fazem críticas
sobre os problemas da sociedade. Estudei suas peças e descobri que duas
delas tinham características muito interessantes, bastante sombrias. Elas
contavam a mesma história, mas com dois pontos de vista diferentes. Gostei e
tive vontade de explorar esse tom soturno", explica Granato, que propõe, nesta montagem, um novo
olhar sobre os textos.
“O texto original servia como uma parábola
irônica para o contexto da Segunda Guerra Mundial. Nossa montagem se concentra
no tom soturno dos personagens e nas mazelas e mecanismos da lógica mercantil.
Buscamos conferir um peso que é específico e atual ao mesmo tempo a esse texto”,
comenta Pedro.
A trilha sonora e narração são assinadas por
Rafael Castro, expoente de uma nova geração de compositores. A direção de arte
de Marinês Mencio cria uma atmosfera de tom fantástico: sombria e rica em detalhes. Fugindo
do realismo, o trabalho esmiuçado de atuação se soma à inventividade do cenário
e figurino, que mescla as lojas aos comerciantes, cada um caracterizado com um
tipo diferente de material. A iluminação cria jogos de luz e sombra,
instaurando o suspense das situações.
Os atores e seus personagens
Luís Mármora – Dansen, o açougueiro, e Sr. Brit
“Os personagens estão em uma situação limite e não conseguem desapegar
de seus valores, lucros, seus modos individualistas de pensar. Faço com que
essa história me atravesse, que o Dansen apareça em cheque, que isso seja
visível. O Dansen tem um apelo cômico muito interessante, do parvo, do ingênuo.
Ele é totalmente corrompido e corruptível, só que ele é movido pelo afeto, de
alguma maneira. Como seu negócio não vai tão bem quanto do Svenson, há um
ciúme, uma inveja, uma disputa. E eles se negam a ver que existe um poder de
transformação, de inversão nas mãos deles. O comportamento deles é um ato
contínuo que vai gerar sempre a violência”.
Ernani Sanchez – Svenson,
o vendedor de ferro
“A minha construção do Svenson partiu fisicamente de um homem que
trabalha nesses serviços braçais, ferreiro, mecânico, bruto, muito
individualista, pensa nele e só, e tem essa ‘tampa quente’, é de cabeça quente.
O Pedro Granato me deu essa indicação de torná-lo um cara que por muito pouco
já está explosivo, febril. Acho que para o público, o Dansen é mais fácil de
enganar, já o Svenson nem tanto, porque ele também se acha esperto, não se
passa para trás assim tão fácil. O Svenson não deixa de vender o ferro mesmo
sabendo que ele está fornecendo as armas para que a violência se sustente. Ele
não tem nenhum problema com isso. Mas, ao mesmo tempo, acaba sendo ingênuo,
porque uma hora isso pode se voltar contra ele. Esta é sua falha trágica.”
Pedro
Felício - Sra.
Norsen, a jornaleira; Austin, o vendedor de tabaco, e cliente
“O cliente vai desvelando máscaras, ele transforma os
outros não a si próprio. Temos trabalhado uma construção épica, mas, ao mesmo
tempo, que deixe que os atores se atravessem pela história. É uma interpretação
quase identificada, que é quebrada por uma movimentação nada naturalista.”
FICHA TÉCNICA:
Texto: Bertolt Brecht
Tradução: Christine Röhrig e
Marcos Americo Renaux
Coordenação geral e direção: Pedro Granato
Assistente de direção: Diego Dac
Elenco: Luís Mármora,
Pedro Felício e Ernani Sanchez
Direção de arte:
Marinês Mencio
Iluminação: Uirá Freitas
Trilha sonora original: Rafael Castro
Direção de produção:
Carla Estefan
Assistente de produção: Ariane Cuminale
Operação de som: Igor Sane
Operação de luz: Uirá de Freitas
Fotos: Ding Musa
Design gráfico:
Anna Turra
Vídeo: Beto de Faria
SERVIÇO:
Teatro I
Até dia 1º de dezembro
De quinta a domingo às 20h.
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada para
estudantes, maiores de 65 anos e clientes e funcionários do BB)
Duração: 60 min
Classificação indicativa: a partir de 12 anos
Vídeo com
trechos: http://vimeo.com/70535549
Os ingressos começam a ser vendidos dois domingos
antes para os eventos da semana e podem ser adquiridos na bilheteria do CCBB de
terça a domingo, das 9h às 21h, ou pelo site www.ingresso.com.br ou pelo televendas 4003-2330, das 9h às 21h, de
segunda a segunda.
==> Foto: Ding Musa


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