A comédia O Patrão Cordial é o mais novo
trabalho da Companhia do Latão, dirigida por Sérgio de Carvalho. O espetáculo
foi escrito com base em improvisações dos atores e tem como ponto de partida
duas fontes literárias: o estudo teórico Raízes do Brasil, de Sérgio
Buarque de Holanda e a peça O Senhor Puntila e seu Criado Matti, do
dramaturgo alemão Bertolt Brecht.
A
forma dramatúrgica é a de uma comédia popular. A montagem, que expõe o
procedimento de trabalho da Companhia do Latão, foi concebida como uma peça
para estimular o debate sobre teatro épico no Brasil e prevista para ser
apresentada em quaisquer espaços alternativos, tais como pátios, igrejas,
sindicatos, escolas etc. O Patrão Cordial vem sendo
apresentada na forma de ensaio aberto desde agosto de 2012, em assentamentos,
escolas e teatros de São Paulo e Rio de Janeiro.
A personagem central, Cornélio, se inspira no Puntila de
Brecht. É o proprietário rural que oscila de caráter para manter sua condição
de classe: cordial e fraterno quando bêbado, impiedoso e distante quando
sóbrio. E que através desse comportamento se relaciona com os trabalhadores que
dele dependem. O espetáculo examina, ao mesmo tempo, a “dominação cordial” através
da “ética de fundo emotivo” descrita por Sérgio Buarque de Holanda.
Ao contrário do texto de Brecht, que se passa na Finlândia,
O
Patrão Cordial se situa no Brasil, no Vale do Paraíba, nas encostas
da Serra da Mantiqueira, no início dos anos 1970.
Entre o realismo e a comédia
Do ponto de vista de técnica teatral, a
montagem se baseia na atuação e música. Exige dos atores movimento contínuo
entre narratividade coletiva e representação individual, num trabalho que
tangencia limites, entre o realismo e a jogo cômico explícito.
Comparável A Comédia Trabalho, de grande impacto
popular, a encenação surge como uma ferramenta de debate sobre as
possibilidades do teatro épico-dialético atual, no mesmo movimento em que
reflete sobre questões do desenvolvimento burguês no Brasil, na perspectiva da
chamada “modernização conservadora”.
Breve Histórico da
Companhia do Latão
A Companhia do Latão é um grupo teatral de São Paulo
interessado na reflexão crítica sobre a sociedade atual. Seu trabalho inclui
espetáculos, atividades pedagógicas, a edição da revista Vintém e do jornal
Traulito, bem como uma série de experimentos artísticos.
A origem do grupo está ligada à montagem de Ensaio para Danton (1996), livre adaptação do texto A Morte de Danton, de Georg Büchner, com direção de Sérgio de
Carvalho. A abertura pública do projeto ocorre com a leitura do texto Santa Joana dos Matadouros, de Brecht, seguida de uma palestra de
Roberto Schwarz, em 03 de julho de 1997.
A coletivização da escrita se radicaliza no espetáculo
seguinte, A Comédia do Trabalho, que
nasce de um processo de ensaios abertos, integrado a diversas oficinas teatrais
e estreia no ano 2000. A
montagem amplia o intercâmbio do grupo com setores politizados do país, sendo
apresentada também em sindicatos, encontros estudantis e fóruns sociais.
Entre 2001 e 2003, a Companhia do Latão retorna ao Teatro
Cacilda Becker, no Bairro da Lapa, em São Paulo, onde tinha ocorrido sua pré-história
com Ensaio para Danton. Ali o grupo
produz suas encenações mais experimentais, também baseadas em textos próprios.
A reflexão sobre formas de desmontagem ideológica, capazes de perturbar a
confiança na narrativa cênica, marca a dramaturgia do período, influenciada
também pela leitura de Machado de Assis.
Com o apoio do Instituto Goethe, a Companhia do Latão
realiza alguns importantes intercâmbios com artistas alemães, entre os quais
Peter Palitzsch, colaborador de Brecht no Berliner Ensemble e Alexandre
Stillmark, também oriundo do movimento teatral da Alemanha Oriental. As viagens da Companhia do Latão por todo o
país em 2005, com um repertório de quatro espetáculos (o que não ocorria desde
1999) encerra um ciclo de trabalho do grupo.
O reconhecimento internacional se amplia com o convite a
Sérgio de Carvalho para uma conferência na Casa Brecht de Berlim sobre a
experiência em teatro dialético da Companhia do Latão. O Círculo de Giz Caucasiano é apresentado em Havana onde obtém o
prêmio Villanueva, como melhor espetáculo estrangeiro de 2007, concedido pela União
dos Escritores e Artistas de Cuba. O Estúdio do Latão é inaugurado em julho do
mesmo ano e passa a sediar oficinas e abrigar uma pesquisa teatral e
audiovisual intitulada Ópera dos Vivos.
O Patrão Cordial
Sinopse
O Patrão Cordial, mais novo trabalho da Companhia do
Latão, é uma comédia sobre a cordialidade brasileira, nos moldes da tradição
clássica do patrão e do empregado. Inspirada em textos de Brecht e Sérgio
Buarque de Holanda, a peça mostra as oscilações de comportamento de um
fazendeiro do Vale do Paraíba, no trato com seu motorista, sua filha e outras
personagens do mundo do trabalho.
Ficha Técnica
Elenco: Adriana Mendonça, Carlos Escher, Helena Albergaria,
Ney Piacentini, Renan Rovida, Ricardo Monastero, Rogério Bandeira e Rony Koren.
Direção musical e composição: Martin Eikmeier
Execução musical: Alessandro Ferreira e Martin Eikmeier
Cenografia e Figurinos: Cassio Brasil
Assistência de Cenografia: Ana Rillo e Tarsila Martins Maia
Cenotecnia: Waldomiro Paes
Iluminação: Melissa Guimarães
Operação de iluminação: Larissa
Assistência de direção e dramaturgia: Paula Bellaguarda e
Sara Mello Neiva
Produção: João Pissarra
Encenação e dramaturgia: Sérgio de Carvalho
Serviço
Galeria III
Gênero: Comédia
31 de outubro e 1º de novembro,
sempre às 21h
Classificação Indicativa: 12
anos.
Ingressos: R$ 10,00 (inteira) e
R$ 5,00 (meia-entrada).
Local de vendas: Bilheteria do
CCBB e site www.ingresso.com
Acesso
para deficientes físicos==> Foto: Divulgação


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