A Fórmula 1 está repleta de bons e maus exemplos em seus 64 anos de
disputas. Paralelamente às histórias de superação, de evoluções técnicas
e conquistas baseadas em muito trabalho e esforço, a categoria também
carrega marcas de manobras sujas, nas pistas e nos bastidores, de
pilotos que buscavam alcançar ou manter o sucesso. Uma lista que – não
por acaso – inclui campeões de diversas épocas, de Alain Prost e Ayrton Senna a Michael Schumacher e Fernando Alonso.
No último domingo, Sebastian Vettel,
atual tricampeão, deu mostras de que também entrou para o time dos que
consideram que os fins justificam os meios. Ao ultrapassar o companheiro
Mark Webber, o alemão da RBR assegurou a vitória, mas infringiu uma ordem da equipe para que as posições fossem mantidas.
A atitude rendeu uma bronca do time e um pedido público de desculpas.
Mas, àquela altura, o prejuízo já era irreversível. Algo que surpreendeu
o comentarista da TV Globo, Reginaldo Leme.
- Um piloto pode ser campeão sendo ético, tendo caráter. Não imaginei
que tão cedo eu iria criticar um cara que eu aprendi a admirar tanto,
pelo seu talento, sua alegria e simpatia. Estou vendo que, desta vez,
Vettel está mostrando um lado do ídolo dele, o Michael Schumacher, que
deu muitos maus exemplos – afirma Reginaldo.
Já Lito Cavalcanti, comentarista do SporTV, aprova a atitude do jovem
alemão. Para o jornalista, ao enganar o companheiro e ganhar a primeira
posição, Vettel usou sua importância como piloto para cometer uma
saudável desobediência, enfrentando um ambiente tão contaminado pela
febre do politicamente correto.
- Sem dúvida, o Vettel cometeu uma “trairagem”, uma desobediência à
ordem da equipe. Mas eu estou absolutamente satisfeito. Um piloto de
ponta, que tem peso, enfrentou a hipocrisia politicamente correta, de
que o piloto sempre tem que seguir as orientações da equipe. Para mim, o
Vettel está certo. No final, a Fórmula 1 é um espetáculo e depende de
público – disse o comentarista, durante participação no "Redação SporTV".
Sucesso e jogo sujo andam juntos na F-1
Desobediências a ordens de equipe já custaram vitórias dos companheiros
e, muitas vezes, o próprio emprego dos pilotos que desafiaram seus
chefes. Mas, em muitos casos, a busca pelo primeiro lugar a qualquer
custo extrapolou os limites da ética. Um dos casos mais clássicos foi o
da Renault, no GP de Cingapura de 2008. Comandada por Flavio Briatore, a
equipe traçou um plano para favorecer o primeiro piloto, Fernando
Alonso, que destruiu a carreira de Nelsinho Piquet na categoria. Por
ordem do dirigente, o brasileiro bateu o carro de propósito, provocando a
entrada do carro de segurança. A tramoia acabou descoberta, Briatore
foi banido da F-1 e Nelsinho precisou recomeçar no automobilismo
norte-americano. Mas a vitória de Alonso nunca foi retirada.
Dois anos antes, o espanhol, que disputava o título, havia sido vítima
de uma armação no treino classificatório para o GP de Mônaco. Disputando
a pole, Michael Schumacher aproveitou que tinha o melhor tempo e
simulou uma escapada, parando seu carro em uma posição que impediu que
os demais pilotos – inclusive Alonso – melhorassem suas marcas. No
entanto, os comissários desportivos puniram o alemão, forçando o então
piloto da Ferrari a largar da última posição.
Uma decisão que talvez tenha sido influenciada pelo extenso histórico
do heptacampeão, que ganhou o apelido de “Dick Vigarista” por suas
manobras controversas. Como as decisões de campeonato de 1994 e 1997,
respectivamente contra Damon Hill e Jacques Villeneuve. Em ambas, Schumi
provocou deliberadamente um acidente, jogando o carro em cima do
adversário. A primeira deu certo. Já a segunda custou o título, além de
mais uma mancha que o piloto carregou para sempre em sua reputação.
Pouco antes de Schumacher ingressar na Fórmula 1, a categoria teve duas
decisões de campeonato marcadas por acidentes. A primeira foi em 1989,
quando Alain Prost, então com mais pontos que Ayrton Senna, coibiu uma
tentativa de ultrapassagem do brasileiro no GP do Japão enganchando as
rodas dos dois carros e rumando para uma área de escape. Auxiliado pelos
fiscais, o brasileiro voltou à pista e venceu a prova, mas foi
desclassificado por “cortar caminho e contar com ajuda externa”.
Coincidência ou não, Prost foi pessoalmente à torre de controle falar
com o diretor de prova, na companhia do presidente da FIA na época, seu
compatriota Jean Marie Balestre.
Um ano depois, também na pista de Suzuka, Senna devolveu na mesma
moeda. Dividindo a primeira fila com Prost, o brasileiro – que liderava o
campeonato – disse ao francês que ele não deveria tentar fazer a
primeira curva à sua frente. Dito e feito: com menos de dez segundos de
corrida, os dois bateram no fim da reta, a 290 km/h. Fim de prova para
ambos. Mas o título, desta vez, ficou com Ayrton.
Aos 25 anos, Sebastian Vettel ainda tem uma longa trajetória pela
frente. Tempo suficiente para se arrepender do que fez em Sepang. No
entanto, Reginaldo Leme crê que a tentação de agir de má fé voltará a
perturbar o alemão da RBR.
- Ele viu tantos exemplos, até que usou um deles quando precisou. Acho
que voltará a fazer, mas não com frequência. Porque ele se deu mal,
tomou uma lição. Foi algo muito forte, e por isso vai receber sanções na
RBR. Se o dono do time falasse “garoto, esse tipo de coisa não faz
parte do nosso projeto” seria um grande castigo. Torço para que aconteça
– salienta Reginaldo, que cobre a F-1 há mais de quatro décadas.
==> Fonte: Globoesporte
==> Foto: Agência EFE
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