Dieta adequada deve substituir suplementos, afirmam especialistas em nutrição esportiva no Forum Internacional De Nutrição Esportiva

SÃO PAULO, 30.08.2011 – A cultura da automedicação e o uso indiscriminado de suplementos alimentares são problemas graves para a sociedade, pois não existem mecanismos de controle nacionais ou internacionais que garantam níveis seguros para o consumo. Esta foi uma unanimidade entre os especialistas que participaram hoje (30.08) do último dia de debates do Fórum Internacional de Nutrição Esportiva, promovido pelo SESI-SP em São Paulo.

Na mesa “Doping: Mitos e Verdades”, o diretor do Departamento Antidoping do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e membro do Comitê Médico do Comitê Olímpico Internacional (COI), dr. Eduardo de Rose, afirmou que o doping involuntário será evitado ao máximo no evento. Como exemplo, o médico afirmou que as carnes que serão consumidas pelos atletas na Vila Olímpica de Guadalajara durante os jogos Pan-Americanos deste ano, passarão por rigorosos testes. Segundo dr. de Rose, a substância Clembuterol, quando utilizada para engordar o gado, pode passar posteriorente da carne contaminada para o atleta que a consumir.

No Brasil, os esportes que acusam percentuais mais altos de doping são o levantamento de peso, boxe, equestre (cavalheiro), tiro com arco e basquete. Estima-se que aproximadamente 70% dos casos internacionais de doping sejam causados por anabólicos, enquanto no Brasil a maioria é provocada por estimulantes ingeridos por meio do consumo de suplementos alimentares. Para evitar o doping acidental é fundamental que os atletas não tomem remédios involuntariamente. Um exemplo citado pelo dr. de Rose é o analgésico, substância não dopante. “O analgésico é permitido. O que pode vir a ser proibido é a formulação de determinado analgésico. Se na formulação houver estimulante, por exemplo, o atleta que consumir o analgésico com esta formulação terá cometido doping”, explicou.

Muito se falou sobre a necessidade de mudar a cultura do brasileiro trabalhando as categorias de base enquanto os futuros atletas ainda são crianças. O dr. Marco Michelucci, oficial médico da FIFA e consultor da OMS e da Agência Mundial antidoping (WADA em inglês), denunciou o uso excessivo de anabólicos nas academias, onde se pratica o esporte como lazer. É nesse ambiente que, segundo ele,os adolescentes adquirem hábitos perniciosos à saúde e à prática do esporte. “Os super-heróis do passado eram franzinos, enquanto os de hoje ganham pelo volume dos músculos e não pela inteligência”. O dr. Michelucci concordou que o doping realmente melhora a performance do atleta, mas lembrou que ainda é possível vencer sem que o atleta precise apelar para o uso de substâncias ilegais.

A falta de uma lei, nacional ou internacional, que fiscalize os suplementos alimentares faz com que não haja limite seguro para o consumo destes produtos. O médico especialista em Medicina Esportiva e Fisiologia do Execício, Paulo Zogaib, afirma que nenhum suplemento está isento de substâncias ilegais. “A solução não é fácil. Eu sempre aconselho a não tomar suplemento. Mesmo porque, na verdade, não é preciso. Além disso, as substâncias utilizadas costumam ser importadas e difíceis de controlar”, conta. Segundo Zogaib, em uma pesquisa realizada por um laboratório de Colônia, na Alemanha, foram testados 634 suplementos alimentares. Em 94 deles (14,8%) foram encontradas substâncias que não estavam listadas no rótulo e que resultaram testes antidopagem positivo. Outros 66 produtos (10,4%) retornaram valores limítrofes para substâncias não listadas. Em relação aos suplementos, Zogaib foi taxativo: “o próprio nome já diz o que ele é. O suplemento não passa de um complemento alimentar. O mais importante para qualquer pessoa é realizar uma dieta nutricional adequada. Principalmente porque os suplementos resultam em efeitos colaterais como sobrecargas hepáticas e renais, retenção de líquidos, vícios em certas substâncias entre outros”.

Se os suplementos não substituem uma dieta adequada, a nutrição sozinha também não é capaz de fazer milagres pelo esporte. Em sua segunda participação no Fórum, o professor de Nutrição Esportiva Ron Maughan, da Loughbourough University (UK), garantiu que “se de um lado, o que você come afeta o seu desempenho, por outro lado a nutriç]ão não faz e você um capeão se você não tiver talento e motivação para ser um atleta de ponta”. Maughan afirmou que todos os estudos feitos até hoje estabeleceram poucas relações entre dieta e desempenho esportivo e os poucos resultados obtidos até hoje mostram que ao melhores resultados são fruto de treinamento intensivo e controlado. “Os atletas precisam ser protegidos dos mitos e lendas que se criam em torno de dietas e suplementação alimentar”, afirmou o professor.

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