Dois amigos se reúnem para comemorar o aniversário de um deles. Aos poucos, novos convidados vão chegando. Todo mundo parece encarar a vida como um jogo no qual eles simplesmente têm de aceitar as regras, mas sem muita certeza do que são.
Essa aparência fraudulenta de sinceridade e convicção sobre as coisas é o que alimenta o enredo de “Valvarius, a fraude”, uma peça escrita pelo espanhol Rafael Sánchez Montojo, agora encenada pelo Teatro Caleidoscópio.
A peça faz uma temporada inicial de um mês, percorrendo três teatros, a Casa dos Quatro (Asa Norte), o Teatro de Sobradinho e o Miniteatro Lieta de Ló (Planaltina), a partir do dia 16 de maio.
A montagem é uma criação coletiva dirigida por André Amahro, que também se empresta a um dos personagens da peça, o filosófico Jaroslaw, dividindo a cena com os atores da companhia, seus velhos amigos: Vanessa Di Farias, Fabiana Tenório, Sandra Regina, Raquel Aló, Flavia Neiva e o violonista e compositor Elias Santos, a quem coube também assumir um personagem da trama.
Não é a primeira vez que o coletivo se debruça sobre o teatro do absurdo. Em 2004, os atores André Amahro e Fabiana Tenório subiram ao palco para encenar Striptease, uma peça do polonês Slawomir Mrozek em que duas pessoas são confinadas num galpão e passam a perseguir saídas contrárias.
Dirigida por Júlio Cruccioli, a montagem incluía trechos de outros expoentes do gênero, como Ionesco, Beckett, Karl Valentim e Maruxa Vilalta. Em 2006, foi a vez de Caixa Preta, comédia do absurdo do dramaturgo brasiliense Maurício Witzack, com direção e atuação de André Amahro e Wol Nunnes.
“O objetivo do teatro do absurdo é refletir sobre a experiência individual do ser humano em um mundo invertido. Em Valvarius, estamos falando de indivíduos ambíguos, que vivem simulações de si mesmos, falsas identidades que tornam a convivência uma sequência de suspeitas, desentendimentos e inconveniências. Vivemos a era das fake news, dos golpes, das fraudes, em que nós criamos falsificações da nossa própria imagem, tentando erguer uma personalidade social enquanto o mundo desmorona, e isso, por mais trágico que seja, é também do plano do risível”, analisa André.
Jaroslaw é o anfitrião de uma casa que não parece sua. Recebe convidados para um suposto aniversário que não parece seu. Pode escolher ser padre, se quiser. Abominável, se quiser. Sua mãe bebeu toda a Vodka da casa. E controla, a chacoalhadas, o árbitro, que não apita nada. Uma advogada é chamada para resolver um suposto caso de adultério. Dois peregrinos parecem saídos de um shopping. Será Shiva a figura esculpida no cadeado? A única coisa certa - parece - é o amigo Manuek. “É isso, mas pode não ser”, diz Emil, um acidente naquela casa. “Essas realidades se cruzam num emaranhado estranho de pseudo-relações que faz tudo parecer absurdo. Ninguém se entende nesse mundo falsário”, diz André.
Para o autor, Rafael Sánchez Montojo, Valvarius é uma peça que nasce da espontaneidade, do próprio “ritmo da vida”, e que reflete aquele sentimento comum e absurdo de ausência de respostas para as grandes questões: “Nele, tudo parece duvidoso e suscetível de ser questionado. No entanto, o aparecimento de um estranho chaveiro, um objeto aparentemente inofensivo, despertará em alguns a suspeita de que há algo além, uma possibilidade de mudar as coisas, dando sentido ao tempo.”
Com 30 anos de atuação, o Teatro Caleidoscópio vem experimentando a cada montagem. Nesta última, são os personagens a inspiração para os caminhos poéticos dos atores: “Esse caminho passa por uma escuta muito sagaz do tempo de cada fala, cada escuta, cada silêncio, buscando dar naturalidade aos absurdos e contando com o velho e caleidoscópico espírito de improvisação”, conta o diretor.
Biografias
Rafael Sánchez Montojo é um escritor espanhol. Já escreveu teatro, novelas, contos e poesia. Vive em Toledo e leciona, como professor universitário, em Madrid, ensinando literatura e história. Acaba de lançar o livro de poesias e dramaturgias Paisajes para abolir los gritos [2024]. Prepara a publicação de um novo livro de poesias e da peça Valvarius. É um dos fundadores do grupo musical A small apartment, com o qual gravou dois discos como percussionista e letrista.
O Teatro Caleidoscópio é um projeto independente de pesquisa teatral fundado, desenvolvido e dirigido pelo ator e diretor André Amahro, que toma emprestadas as dinâmicas do caleidoscópio para orientar o trabalho do ator e da encenação. Nasceu em 1994, como projeto de extensão da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, em Brasília, dando origem ao chamado Coletivo Caleidoscópio, do qual fazem parte, atualmente, os artistas Vanessa Di Farias, Lilian França, Claudio Lago, Sandra Regina, Flavia Neiva, Raquel Aló, Aylan Carvalho, Mirabai e Elias Santos. O projeto lhes rendeu um teatro de bolso, três livros publicados, 25 espetáculos encenados, prêmios e indicações em festivais, o Prêmio Brasília 60 anos, conferido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF, e recentemente o Prêmio Web de Teatro do DF, na categoria Musical, pelo espetáculo T.R.I.N.T.A.
Ficha Técnica:
Criação coletiva | Teatro Caleidoscópio - Dramaturgia | Rafael Sánchez Montojo - Direção geral | André Amahro - Elenco | André Amahro, Elias Santos, Fabiana Tenório, Flavia Neiva, Raquel Aló, Sandra Regina e Vanessa Di Farias - Iluminação | Claudio Lago - Produção | Grupo Caleidoscópio - Direção de arte | Claudio Lago e André Amahro - Trilha sonora original e direção musical | Elias Santos
SERVIÇO:
Valvarius, a fraude
Casa dos Quatro [708 Norte]
De 16 a 25 de maio, sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h
Teatro de Sobradinho [Qd. 12 Sobradinho]
Dias 30 e 31 de maio, sexta e sábado, às 20h, e 1º de junho, domingo, às 19h
Miniteatro Lieta de Ló [Planaltina]
Dias 8 de junho, domingo, às 19h.
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Duração: 80 minutos
Contato: André Amahro, (61) 9.9213-1616
Ingressos à venda: https://www.sympla.com.br/evento/valvarius-a-fraude/2931808
==> Foto: Site de Vendas
0 comments:
Postar um comentário