Diálogo entre brasileiros, portugueses e franceses foi intenso no século XIX

Seria possível que um leitor parisiense, lisboeta ou fluminense tivesse acesso quase simultâneo às mesmas estampas em pleno século XIX? Levando em conta as distâncias físicas e comunicacionais da época, a resposta óbvia seria não. Porém, contrariando as expectativas do senso comum, a pesquisadora Tania de Luca mostra em A Ilustração (1884-1892): circulação de textos e imagens entre Paris, Lisboa e Rio de Janeiro, lançamento da Editora Unesp, que diálogo cultural e simbólico era intenso e rápido, muito mais do que se poderia imaginar, com riqueza e diversidade impressionantes.

A autora se baseia na publicação A Ilustração. Revista Quinzenal para Portugal e Brasil, editada no final do século XIX, entre 1884 e 1892. “O periódico era editado e impresso em Paris, sob a responsabilidade do português Mariano Pina, e tinha por público principal aqueles que viviam em Portugal e no Brasil”, anota a pesquisadora Márcia Abreu no prefácio. “As enormes distâncias entre a redação e os assinantes não impediram que a publicação tivesse periodicidade quinzenal, colocando à disposição do público um conjunto de textos literários e informativos associados a sofisticadas imagens. (...) Assim, ao longo de quase oito anos, a cada quinze dias uma nova edição saía dos portos franceses em direção a Lisboa e ao Rio de Janeiro, de onde seguia para o interior dos dois países, o que deixa evidente o grau de internacionalização da cultura no século XIX.”

“É importante assinalar a rapidez da circulação, que permitia que um leitor parisiense, lisboeta ou fluminense, para ficar apenas nas capitais, tivesse acesso praticamente simultâneo às mesmas estampas”, aponta Tania de Luca, “convidando a rever concepções arraigadas de recepção passiva e influência e as metáforas associadas ao espelho e ao reflexo quando se trata do suposto distanciamento cultural entre Europa e Brasil”.

Ao longo de três capítulos ricamente preenchidos com informações de variadas fontes documentais pinta-se um quadro que registra claramente o desejo de os leitores do século XIX não só quererem saber o que passava com o mundo, como também de quererem vê-lo. Tania Regina de Luca se debruça sobre a trajetória da revista, analisando-a em minúcias e colocando-nos em contato com um mundo de trocas culturais intensas. A partir dos navios e cartas, o fluxo de circulação simbólica era bastante fecundo.

Sobre a autora – Tania Regina de Luca é graduada em História (1981), mestre em História Social (1989) e doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (1996). É professora livre-docente em História do Brasil Republicano (2009) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Foi editora da Revista Brasileira de História (ANPUH, 1999-2001) e da revista História (Programas de Pós-Graduação em História da Unesp/Assis e Franca). Atua principalmente nos seguintes temas: historiografia, história social da cultura, história da imprensa, história dos intelectuais, construção dos discursos em torno da nação e do nacionalismo. Entre outras obras, publicou A Revista do Brasil (Editora Unesp, 1999) e Leituras, projetos e (re)vista(s) do Brasil (1916-1944) (Editora Unesp, 2011).
Autora: Tania Regina de Luca
Número de páginas: 274
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 68,00
ISBN: 978-85-393-0721-0

==> Foto: Divulgação

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