“Jogava na
Ilha do Governador, em Flecheiras, em um campo de barro, duro, com a chuteira
machucando o pé. Aí vim jogar no Maracanã, com aquele gramado maravilhoso, com
uma porção de gente vendo e ainda recebia pra fazer aquilo. Eu me divertia. Ia
exigir o que?”. A simplicidade de Nilton Santos era uma de suas marcas
registradas a ponto de chegar a assinar contratos em branco. Ainda soldado da
Aeronáutica ele jogava no time dos oficiais até ter seu talento reconhecido e
levado para o Botafogo. Toda a trajetória de Nilton é recontada através de
depoimentos no documentário Ídolo, de Ricardo Calvet, que estreará no próximo
dia 26 nos cinemas.
A
carreira vitoriosa no Botafogo, único clube que
defendeu, e na seleção brasileira, o projeto social junto às crianças carentes
em Palmas (TO) e a luta contra a doença são histórias contadas em detalhes
durante os 90 minutos do filme. Ídolo
é uma grande homenagem ao ex-jogador que faleceu no dia 27 de novembro de 2013,
aos 88 anos.
No clube
alvinegro Nilton jogou de 1948 a 1964, disputou 729 partidas e marcou 11 gols.
Na seleção brasileira foi bicampeão mundial (1958/1962). Ficou conhecido como a
Enciclopédia do Futebol e tornou-se o maior lateral esquerdo de todos os tempos.
O documentário é ilustrado com imagens do craque nas
quatro Copas do Mundo que disputou (50, 54, 58 e 62) e também no
Botafogo.
Com seu jeito simples, o próprio
Nilton conta várias passagens da carreira e através de depoimentos é
reverenciado por personalidades do futebol brasileiro e mundial, como Zagallo,
Zico, Junior, Carlos Alberto Torres, Gérson, Djalma Santos, Amarildo, Coutinho,
Evaristo de Macedo, Leônidas, o francês Just Fontaine, o espanhol Enrique
Collar, o austríaco Hans Buzek e o húngaro Jenö Buzansky, entre outros.
Consagrados jornalistas esportivos, como Luiz Mendes e Sandra Moreyra, também
falam sobre Nilton.
Entre tantos momentos de inspiração,
o filme mostra a célebre jogada na Copa do Chile, em 62, quando o Brasil perdia
para a Espanha por 1 a 0, e Nilton derrubou o atacante Enrique Collar dentro da
área. Naquele exato momento, deu dois passos para frente e o juiz marcou apenas
falta. Ídolo relembra também que,
após levar dois dribles de Garrincha em um treino no Botafogo, Nilton terminou
sendo o responsável pela contratação do então futuro craque. “Contrata que esse
é bom de bola”, relembra Zagallo.
Alguns depoimentos do
filme
“Estava no Botafogo no dia em
que o Nilton Santos chegou e o apresentaram ao Carlito Rocha (técnico do time)
que perguntou a posição em que ele jogava. O Nilton respondeu: eu jogo em
qualquer posição da defesa, mas gosto mais de jogar no meio de campo. O Carlito
usava chapéu e nos treinos o Nilton tinha que pular e alcançar com a cabeça o
chapéu que ele colocava no ar. Aí surgiu o maior lateral esquerdo de todos os
tempos” (Luiz Mendes, jornalista)
“Ele fez o Nilton Santos
pular. Você tem que jogar é de beque” (Cacá Borges, ex-lateral
direito do Botafogo e amigo de Nilton Santos)
“Ele é o único jogador
campeão carioca invicto em 48. Porque o Botafogo perdeu o primeiro jogo para o
São Cristóvão e depois não perdeu mais”. (Iata
Anderson, jornalista)
“Eu era América. No momento
em que apareceram o Nilton, e logo depois o Garrincha, não tive nenhuma vergonha
de virar casaca e daí para frente foi só Botafogo”. (Ruy
Solberg, cineasta)
“Confesso que a
primeira vez que joguei contra o Nilton Santos me deu vontade de pedir um
autógrafo pra ele. Eu era garoto, tinha 18 anos, e o Nilton Santos era meu
ídolo”. (Carlos Alberto Torres, capitão do Brasil no
tricampeonato de 70)
“Peguei uma bola no meio de
campo, fui indo e já estava na entrada da área quando eu olho e vejo Nilton
Santos na minha frente. Fiquei pensando: eu não vou passar, nem vou tentar.
Recuei. Vou encarar o homem?” (Mengálvio, ex-jogador do
Santos)
“O Nilton marcou o Pelé, e
muito bem. E o Pelé não fez nada”. (Gérson, ex-Botafogo e
seleção brasileira na Copa de 70)
“Minha maior frustração no Botafogo foi não ter jogado com ele. Porque vim para substituí-lo. A bola quando ia para o Nilton, sorria. Sabia que ia ser bem tratada”, (Leônidas, ex-zagueiro do Botafogo)
“As pessoas sempre fizeram a
comparação entre mim e ele. E eu sempre disse: se eu for aquele dicionário de
bolso já ficarei feliz”. (Junior, ex-lateral
esquerdo do Flamengo e da seleção brasileira)
“O Nilton foi o primeiro a
sacar, lá atrás, que o exemplo dele podia mudar a vida de muita
gente”. (Sandra Moreyra, jornalista, referindo-se à Escolinha
de Futebol Nilton Santos, em Palmas)
==> Foto: Divulgação
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