Em tempos de Guerra Fria ideológica, com o país dividido entre coxinhas e
mortadelas em um clima denso de total descrédito por todos os lados, é
muito difícil partir em defesa de uma instituição, ainda que tal
instituição mereça ser defendida.
A proposta de Ensino Superior
surgiu no Brasil em 1808, com a chegada da Família Imperial. Naquele
mesmo ano foram criadas as escolas médicas na Bahia e no Rio de Janeiro.
Anos mais tarde, em 1820, nasce a Academia Real Militar da Corte e,
somente cem anos mais tarde é que surge a primeira universidade
brasileira: a Universidade do Rio de Janeiro, hoje Universidade Federal
do Rio de Janeiro.
No estado de São Paulo, somente ao fim da
Revolução Constitucionalista de 1932 é que realiza a iniciativa de
criação da Universidade de São Paulo, fundada em 25 de janeiro de 1934.
Além da Universidade de São Paulo, muitos institutos isolados foram
sendo criados, nas diversas regiões.
Em 1965, o Conselho Estadual
de Educação do Estado de São Paulo criou uma comissão para análise e
implantação de novas unidades universitárias, com o objetivo de criar
uma universidade em Campinas, tendo em vista que somente a Faculdade de
Medicina estava em funcionamento. Nascia dessa iniciativa a Unicamp.
Por
fim, uma década depois, em 1976, a criação da Universidade Estadual
Paulista, Unesp, se deu por meio da incorporação de Institutos Isolados
em todo o Estado, em um total de 14 campi.
As despesas que
envolvem a manutenção de uma universidade vão além do ensino: uma
universidade, de acordo com o artigo 207 da Constituição Federal de
1988, deve obedecer o princípio da indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão, ou seja: deve formar alunos de graduação e
pós-graduação, seja em nível de especialização, mestrado ou doutorado;
deve manter em seus quadros pesquisadores que estejam na vanguarda do
saber didático-científico, de modo que esses agentes possam exercer o
papel de produtores de conhecimento na área da pesquisa e propagadores
desse conhecimento na área de ensino, e mais, a universidade deve prover
ações de extensão, de modo a beneficiar a população com suas atividades
ou descobertas.
Em algumas áreas, conceber essas três frentes
pode parecer um pouco complicado. Tomo a liberdade de exemplificar aqui
duas áreas distintas: na área de saúde, a formação de profissionais se
justifica pelo aumento constante da demanda, uma característica do
natural crescimento populacional; não bastasse isso, os pesquisadores da
área da saúde são reesposáveis por descobertas que permitem o
desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas, novos fármacos ou novas
terapias, mais eficazes, tornando o tratamento ou a recuperação ou a
sobrevida do paciente processos mais humanos, menos dolorosos. Por
extensão, pode-se exemplificar os atendimentos realizados pelas
faculdades de Medicina ou Odontologia ou Fisioterapia espalhadas não
apenas pelo Estado de São Paulo, mas por todo o país; outra área em que
para mim a observação do tripé ensino-pesquisa-extensão é simples é a
área de Letras, especificamente o ensino de línguas estrangeiras. Aqui, o
ensino objetiva formar docentes para os ciclos fundamental ou médio ou
para o ensino superior; a pesquisa objetiva, dentre tantas áreas,
desenvolver melhores ferramentas-diagnóstico para avaliação docente e, a
extensão, aparece como os centros de línguas criados pelas
universidades que oferecem, gratuitamente, ensino de qualidade às
comunidades locais.
Em tempos difíceis para a economia, todos se
tornam vilões, mas há de se pesar os resultados antes de defender cortes
ou privatizações no Ensino Superior: as três universidades públicas do
Estado de São Paulo figuram entre as 500 melhores do mundo, de acordo
com a edição 2017 do QS Ranking e, no Brasil, estão entre as quatro
primeiras: 1o (USP), 2o (UNICAMP) e 4o (Unesp) lugar.
Mesmo
diante dos argumentos acima, muitos poderão, movidos pela fúria dos
tempos atuais, dizer que as universidades públicas são espaço de
discussão e fomento de ideologia de esquerda, mas há de se considerar
que as universidades, como qualquer microcosmos, traz em si uma
representação do macrocosmos e o Brasil é hoje um campo de discussão
polarizada. É razoável que nas universidades o mesmo aconteça.
Que
as lutas futuras das universidades públicas do Estado de São Paulo, e
de todo o Brasil sejam por melhorias estruturais, reorganizações
administrativas, livre discussão do pensamento, independente da posição
do indivíduo no espectro político e avanços na gestão universitária,
além do reconhecimento público dos avanços gestados em suas
dependências, e não, por privatização ou extinção de suas atividades.
João
Paulo Vani é Presidente da Academia Brasileira de Escritores. Aluno de
doutorado do Programa de Pós-graduação em Letras da Unesp/SJRio Preto, é
atualmente pesquisador visitante na University of Louisville, nos
Estados Unidos.
==> Foto: Divulgação
0 comments:
Postar um comentário