A eleição de Trump e a sua projeção no Brasil

No dia 08/11, muitos foram dormir preocupados,  já era madrugada do dia 9/11 e os primeiros resultados da eleição nos EUA colocavam Trump na frente de Hillary.  Agora já é realidade, Trump é o presidente eleito dos Estados Unidos! O mapa eleitoral falava por si só, uma maré vermelha republicana  de Montana até a Flórida passando por Ohio e Pensilvânia, prevalecia sobre o azul democrata.  As últimas pesquisas que previam a vitória de Hillary Clinton não se confirmaram e o bilionário/não político surpreendeu o mundo. Como explicar a vitória de Trump? Certamente não conseguiremos acertar se olharmos através de nossos conceitos econômicos, políticos e culturais. Para entender o triunfo de Trump, que também terá maioria em ambas casas do Congresso, é necessário auscultar a alma e o espírito do protestante estadunidense  mormente os brancos do sul e do meio-oeste americano, porém essa realidade se encontra em qualquer lugar desse imenso país em Utah ou em Wisconsin.

O essencial parece-me é o despertar da adormecida “doutrina do destino manifesto” dos Estados Unidos como uma nação destinada por Deus para ser cabeça e não cauda no mundo segundo a interpretação da passagem bíblica de Deuteronômio 28:13. Esta doutrina profundamente ancorada na consciência e na alma dos protestantes estadunidenses, mobilizou o País em torno do desagradável, excêntrico e mal educado Donald Trump que lhes falou o que eles queriam ouvir. Alguém que coloque a nação americana em primeiro lugar. Alguém que coloque de novo os Estados Unidos  nos trilhos do destino manifesto, alguém que lute por valores varridos pelos multiculturalismo como a segunda Emenda que garante o direito de portar armas. Alguém que valorize realidades esquecidas pelo politicamente correto como o Deus cristão, a família tradicional, etc.

Nesse diapasão, do alto de seus dez bilhões de dólares, Trump falou: “make America great again”; “evitar a imigração muçulmana”; “construir um muro na fronteira sul” porque os mexicanos “estão trazendo drogas, estão trazendo crime, estão trazendo estupradores”; “se as pessoas que foram mortas [no atentado] em Paris tivessem armas, pelo menos eles teriam uma chance de lutar”; “o conceito de aquecimento global foi criado por e para os chineses, para que a indústria manufatureira amaricana não seja competitiva”; “é tempo de sermos mais duros com os chineses devido à manipulação de sua moeda e à espionagem, a China será taxada...e se eles continuarem vamos taxá-los ainda mais”; “temos que renegociar nossos acordos comerciais...as companhias estão indo embora dos Estados Unidos”, “trarei os empregos de volta”; reconhecerei Jerusalém como capital de Israel”; “não podemos ser a polícia do mundo”...e o povo adorou...e votou nele. Pouco importa que Trump seja um língua solta, um racista, um xenófobo ou um provocador. Pouco importa que seja grosseiro com as mulheres, um bufão ou um burro. Na teologia protestante para o cumprimento de seus propósitos Deus pode utilizar-se até de uma jumenta de acordo com o texto de Números 22. Ora talvez no kairós de Deus a jumenta para falar aos americanos e ao mundo nesses dias seja Donald Trump.

Agora nos assistimos de longe a esse perturbador espetáculo, contudo a sociologia das massas nos ensina que daqui a pouco (num tempo acelerado pelas tecnologias da informação e da comunicação) a maré vermelha da direita americana chegará ao Brasil. Perscrutando essa realidade próxima futura através das mesmas lentes teológicas podemos nos perguntar quem será  o Trump brasileiro? Ou o asinino brasileiro?
Jorge Barrientos-Parra é professor do Departamento de Administração Pública da Faculdade de Ciências e Leras da Unesp de Araraquara.

==> Foto: Sputnik Brasil

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