Após mais de duas semanas e meia sendo reavaliada pelas equipes médicas
da Universidade de Miami e do Miami Project to Cure Paralysis, Laís
Souza retornou ao Brasil nesta quinta-feira (19). Os resultados foram
bastante positivos e comemorados pela atleta, que vê em cada pequena
melhora uma esperança a mais para seguir lutando e por servir de exemplo
para muitas pessoas.
O médico da Universidade de Miami e do Comitê Olímpico do Brasil (COB),
dr. Antônio Marttos, explicou que a ideia inicial seria que Laís
permanecesse por uma semana realizando uma série de exames, mas os
resultados iniciais fizeram com que novos testes fossem feitos.
"Realizamos diversos exames, que foram associados às imagens de
ressonância magnética e análise do Líquor (fluído corporal estéril, que
ocupa o espaço entre o crânio e o córtex cerebral) da Laís. Ela
apresentou, após as primeiras injeções de células tronco mesenquimais,
uma gradativa evolução, principalmente da parte sensitiva. Os exames
mostraram, também, evolução da parte motora, com contração voluntária da
musculatura abdominal, lombar e sinais em bíceps", explicou o médico.
"Não podemos afirmar que estas evoluções foram decorrentes do tratamento
ou se elas aconteceriam como evolução natural da lesão, mas podemos
dizer que a mudança da Laís de ASIA A para B, ou seja, lesão completa
para incompleta, é no mínimo atípica."
A junta médica, composta por profissionais da Universidade de Miami e do
Miami Project to Cure Paralysis, discutiu os tratamentos e pesquisas
que vêm sendo realizados ao redor do Mundo e definiu o planejamento para
o tratamento de Laís nos próximos anos. "Inicialmente, decidimos
solicitar autorização ao Food and Drug Administration (FDA) para
continuarmos as aplicações de células tronco. Sabemos que este
tratamento isoladamente não trará a recuperação da Laís, por isso, ela
entrará em dois outros protocolos experimentais de tratamento, frutos de
parcerias científicas entre o Miami Project e outras duas
universidades. Estes novos protocolos podem resultar em evoluções
variadas na parte motora. Um terceiro protocolo, que talvez seja o mais
efetivo para ela, ainda não pode ser aplicado. Laís tem uma lesão
medular muito alta e temos que ter muito cuidado para que os ganhos que
ela teve até hoje, como capacidade de respirar sozinha, não sejam
comprometidos", alertou dr. Marttos.
Para Laís, que esteva no Brasil e teve de pegar um avião para Miami para
fazer os exames, todo o esforço vale a pena. Além desses pequenos
resultados darem ainda mais força para a atleta, ela também tem a
esperança de ajudar outras pessoas com quadros semelhantes. "Alguns
exames são muito longos e cansativos e às vezes doloridos, mas tudo isso
vale a pena, não só por mim, mas para outras pessoas que também podem
ser beneficiadas no futuro. Graças a Deus todos os testes tiveram
respostas positivas. Cada etapa do tratamento é uma porta que pode se
abrir para pessoas do Mundo todo que tenham paralisia. Então toda
melhora é muito gratificante", disse.
Ela conta que procura fazer os exames da forma mais tranquila possível,
sempre tendo em mente o quanto isso pode ajudar, mesmo que o
procedimento não seja fácil. "Procuro não ficar ansiosa durante os
exames e consigo controlar muito bem isso. Eu me senti muito bem com
todas as avaliações", contou a atleta, que ainda não tem previsão de
retorno para Miami para a sequência do tratamento.
Dr. Marttos frisa o quanto é enriquecedor também para o corpo médico
trabalhar com uma paciente como Laís. "É muito gratificante trabalhar
com esta grande atleta. Laís permaneceu em exames até horas antes de seu
embarque de volta ao Brasil. Muitas vezes passou o dia inteiro sendo
submetida a exames sem jamais reclamar. A força de vontade dela, sua
garra e simpatia motivam cada vez mais os médicos, cientistas e toda a
equipe de saúde a continuarem lutando junto com ela. Esta não e uma
competição de 100 metros, mas sim uma maratona e Laís sabe disso."
A fisioterapeuta Denise Lessio, que acompanhou Laís durante os exames,
também falou sobre o empenho e dedicação da atleta. "Ela nos inspira
todos os dias. Continua exigente como um atleta de ponta. Essa
reavaliação é muito importante para a sequência do trabalho e nos guiará
para os próximos passos. A Laís é empenhada demais e isso não tem
preço", concluiu Denise.
Dr. Marttos ainda disse que o caso da ginasta deve servir de exemplo não
só no que diz respeito ao tratamento, mas também para todo o setor
médico, inclusive de prevenção. "Não podemos garantir se haverá mais
alguma evolução ou se o quadro ficará como está, e não apenas Laís, mas
todos as milhares de pessoas com este tipo de lesão no Brasil podem ter a
certeza de que as pesquisas tem avançado e novos tratamentos virão.
Temos que focar neste momento na prevenção de acidentes que causem estas
lesões e, principalmente, no atendimento adequado no pré-hospitalar e
nas emergências em nosso País. Se o atendimento for rápido, adequado e
feito por equipes treinadas, menos pessoas sofrerão com as sequelas
desse tipo de lesão", finalizou.
==> Foto: Divulgação
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