Em Brasília, algumas
horas da manhã. Domingo, tempo meio nublado, ameaçando aquela chuva, e
Alex Farias levantou sem ter muito o que fazer. O compromisso que tinha
havia sido cancelado, mas não por iniciativa própria. Alguém bate à
porta; era o amigo Emerson Santos. Os dois então, começam a falar e
emanar a tristeza de não estarem no autódromo local para realizarem um
sonho. De repente, o estalo.
Por que não ir ao autódromo mesmo que a corrida da Indy prometida um ano antes não seja realizada?
Alex e Emerson, então, pegaram seus equipamentos de trabalho e foram.
“A
ideia de ir para lá surgiu pela frustração que eu estava sentindo, pela
decepção de não poder fazer nada para mudar essa situação", disse o
fotógrafo especializado em automobilismo desde 2008. "Queria ver como
estava a pista, queria sentir aquele ambiente totalmente diferente do
que era para estar. Poderia ter sido o final de semana mais interessante
para Brasília em todo ano”, falou ao GRANDE PRÊMIO.
Todo o esforço para receber a categoria americana seria válido, já que Brasília por muitos anos está longe do cenário do automobilismo mundial com um autódromo que leva o nome de Nelson Piquet.
“O autódromo foi inaugurado para a corrida de F1 em 1974 e, depois disso, ninguém mais viu eventos daquele porte na pista. Era a chance que os brasileiros tinham de ver novamente uma categoria internacional correndo em Brasília”, falou Alex.
A foto que tirou ganhou as redes sociais como um viral. Aquele registro simbolizava a mudança de ambiente no autódromo.
“Para entrar lá, a gente teve de pular a cerca. O autódromo estava fechado, assim como esteve desde que começou toda a história do cancelamento da prova. Enquanto estava tudo correndo bem, eu pude fazer várias fotos lá, estava sempre aberto. Hoje, há presença de vigias e o autódromo está todo lacrado", explicou.
15 dias atrás, Alex quase apanhou de um segurança. No domingo que seria da Indy, resolveu arriscar.
"Desta vez, consegui registrar o momento antes que chegassem para nos expulsar."
A paisagem era assumidamente triste, com máquinas na pista. Mas o desejo de demonstrar todo seu sentimento falou mais alto.
“Chegando
lá debaixo de uma chuva danada, me deparei só com tratores. Aí tive a
ideia da foto. Tirei como se estivesse lá pronto para trabalhar. Eu
estava me sentindo como a pista: vazio”, falou.
Alex ainda acredita que era possível sim ter feito um esforço maior para receber a categoria e que as obras não estavam tão atrasadas.
“Eu acho que a decisão de ter cancelado a prova pode ter sido meio precipitada. Sei que o governo que saiu deixou um roubo muito grande, mas as obras estavam bem adiantadas. A pista em si já foi em grande recapeada. Há algumas coisas que estão faltando, mas a obra de alargamento da pista estava feita. O que pegou mesmo foi a reforma dos boxes. A estrutura toda foi destruída, mas acho que dava para ter dado uma improvisada e cumprido as exigências da Indy. Minha maior frustração foi ver que a realização da prova não era impossível com o que tínhamos”, explicou.
Alex teme pelo futuro da praça esportiva. “Hoje, Brasília não tem autódromo", sentenciou.
“Minha maior preocupação é esta. Antes de começarem as obras nós tínhamos um autódromo velho, perigoso, mas que recebia algumas competições. Hoje a gente não tem mais. A obra está completamente parada, os portões estão lacrados e não há a menor perspectiva de retomada das obras. Hoje eu posso falar: Brasília não tem autódromo e não tem previsão de ter nem pista e nem corrida”, completou.
Só Alex e o amigo podem contar bem a Brasília Indy 300 que não viram.
Conta-giro
==> Foto: Emerson Santos / Photo GP
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