“Não
quero que me imitem. Não quero ninguém atrás de mim. Tenho muito medo de ser
porta-voz de qualquer coisa”. Nesta
declaração de 1988, Cazuza já profetizava o inevitável. O talento instintivo e
avassalador, o temperamento explosivo, a linguagem única e libertária fizeram
dele um ícone sem precedentes na cultura contemporânea produzida no Brasil.
Muito mais do que isso: ainda que à revelia, foi, mesmo sem pretender sê-lo, o
grande cronista da juventude brasileira dos anos 80. Morto em 1990, aos 32
anos, no auge da carreira, foi alçado a precoce e definitivo mito no imaginário
brasileiro. E que pela primeira vez tem sua breve e trepidante trajetória
contada nos palcos, através de ‘Cazuza Pro Dia Nascer Feliz, o Musical’, de
Aloísio de Abreu, com direção de João Fonseca.
O
musical será apresentado em Goiânia nos dias 14 e 15 de junho, no Teatro Rio
Vermelho.
O
espetáculo reúne alguns dos maiores clássicos de Cazuza em carreira solo ou no
Barão Vermelho, como “Pro Dia Nascer Feliz” e “Codinome Beija Flor”. Canções
como ‘Bete Balanço’, ‘Ideologia’, ‘O Tempo não para’, ‘Exagerado’, ‘Brasil’,
‘Preciso dizer que te amo’, ‘Faz parte do meu show’ estão presentes no roteiro,
que reserva espaço também para composições de Cazuza que ele nunca chegou a
gravar, como ‘Malandragem’, ‘Poema’ e ‘Mais Feliz’.
O
elenco é encabeçado pelo músico e ator Emílio Dantas, de 30 anos, que faz sua
segunda incursão em musicais. Osmar Oliveira, Fabiano Medeiros, Brenda Nadler,
Thiago Machado, Igor Miranda, Bruno Narchi, Diego Montez , Saulo Segreto, Dezo
Mota, Oscar Fabião Cazuza e Sheila Matos completam
a escalação. Dando vida a nomes comoLucinha e João Araújo , Ney Matogrosso,
Bebel Gilberto, Frejat,Caetano Veloso, Dé Palmeira, entre vários outros
personagens que gravitaram no universo de Cazuza.
Para
a construção do texto, Aloísio de Abreu partiu das conversas com pessoas
próximas a Cazuza e fez uma ampla pesquisa para acriação da estrutura dramática
do espetáculo. “Apesar de frequentar os mesmos lugares, eu não conhecia o
Cazuza. Entretanto, sempre tive uma profunda identificação com a obra dele, que
tem um quê de crônica da nossa época, revelando de forma rasgada comportamentos
típicos dos jovens que todos éramos nos anos oitenta”, explica Aloísio.
Como
a vida do personagem foi curta e, ao mesmo tempo, muito intensa, o autor procurou
contar a história de forma ágil, avançando sempre a partir dos momentos de
virada na carreira e na vida dele: a descoberta do teatro, o gosto pelo rock, o
momento em que resolve cantar, montar uma banda, se profissionalizar, o
estouro, as brigas, a mudança no estilo de sua obra, o estrelato solo, a
descoberta da doença, a urgência poética no fim das forças. Enfim, momentos que
levam a história adiante.“As músicas se inserem quase como parte do texto.
Estrutura de musical mesmo. Claro que tem momento show, mas a trajetória do
Cazuza é contada através das letras e da poesia dele. Tudo no texto ‘faz parte
do show’“, complementa.
A
montagem dá continuidade à pesquisa desenvolvida por João Fonseca de uma cena
musical brasileira mais despojada e teatral. “Este espetáculo é mais um passo
do trabalho que comecei com ‘Gota d’água’ e que culminou no ‘Tim Maia’. É uma
nova possibilidade de desenvolver e aperfeiçoar uma linguagem muito autoral de
musical iniciada há alguns anos”. O diretor conta que os depoimentos de Lucinha
Araújo foram fundamentais na estruturação cênica do espetáculo: “A partir das
lembranças dela, vamos conhecendo a vida e a obra desse artista e, tal como sua
obra, a peça alterna momentos exagerados e de puro rock'n’roll a mais intimistas e delicados”, finaliza.
A
cenografia de Nello Marrese traz elementos fundamentais do universo de Cazuza.
“Pensei num cenário poético e limpo. O espaço cênico é formado por seis
praticáveis que representam palafitas. O chão, areia. É a representação do
Arpoador, um dos lugares preferidos do personagem. O único elemento fixo é uma
mesa que se desdobra em diversas representações: bar, o quarto onde ele
compunha (sempre usando uma máquina de escrever), hospital, e por aí vai…”.
Para o cenógrafo, desta neutralidade cênica partirá o jogo teatral, e completa:
“Concebemos três telas onde haverá projeções não realistas que remetem às cenas
e canções, brincando com a estética da época. Imaginei um grande clipe,
representando de maneira lúdica e simbólica a sucessão de acontecimentos na
vida do Cazuza”.
Um
amplo trabalho de pesquisa também foi essencial para a concepção musical do
espetáculo. Os diretores musicais Daniel Rocha e Carlos Bauzys conceituaram a
sonoridade em quatro situações: Barão Vermelho não produzido; a gravação do
primeiro disco; e depois do sucesso, já consolidados. A banda solo de Cazuza
também será reproduzida com fidelidade. “Adaptar a obra dele tornando-a cênica
e, ao mesmo tempo empolgante e reconhecível ao público, foi nosso maior
desafio. Usamos teclados programados com samplers
e sintetizadores usados nas gravações do Barão. Dois guitarristas se revezam
também entre violão de nylon, de aço e bandolim; além de um contrabaixo
elétrico e uma bateria eletrônica programada com os timbres da década de
oitenta”, define Daniel.
A
escolha de Emílio Dantas para o personagem título foi imediata, segundo João
Fonseca. “Trabalhei recentemente com Emílio em outro musical e o considero um
talento extraordinário. Desde o começo, achava que ele era o ator ideal para o
personagem, o que foi comprovado durante as audições com a aprovação unânime de
toda a equipe e da família do Cazuza”.
Emílio,
que além de ator também é cantor – foi vocalista da banda ‘Mulher do Padre’-foi
pego de surpresa com a escolha: “Quando vi que a Lucinha estava no teste,
fiquei desesperado. Não queria fazer feio na frente dela. João me mandou quatro
cenas, mas só decorei duas. A saída foi incorporar a vibe do Cazuza, já entrei meio como naquela loucura dele no palco,
fui sincero e falei que não tinha preparado nada. Busquei captar a essência do
artista, sua postura na vida”, relata. O resultado, desde então, foi uma
relação de total simbiose entre ator e personagem. “Vi muito vídeo, os
bastidores, assisti a várias entrevistas, antes e depois da doença, doidão,
sóbrio, prestei atenção na questão das gírias. Fui para São Paulo e voltei de carro
ouvindo e cantando Cazuza, captando o jeito dele cantar, o carioquês, a língua
presa…”.
O
ator precisou emagrecer cinco quilos para o personagem: “Estava predisposto até
a perder mais, mas chegamos ao consenso de que não seria necessário, porque há
toda a fase dele saudável. Então, para representar a doença, vamos usar uma
energia física mais baixa, maquiagem, luz e figurino”, finaliza.
Completando
a ficha técnica, Paulo Nenem e Daniela Sanches (iluminação), Carol Lobato
(figurinos) e Alex Neoral (coreografia). A banda que se apresenta ao vivo é
formada por Marcelo Eduardo Farias e EvelyneGarcia(teclados), Bernardo Ramos e
Daniel Rocha (guitarras), Raul D’Oliveira (baixo), Rafael Maia (bateria) eHebert
Souza (programação).‘Cazuza pro dia nascer feliz, o musical’ é apresentado pelo
Ministério da Cultura, com patrocínio da Sulamérica, Sem ParareMills.
E
assim, uma das trajetórias mais impressionantes da música brasileira é recriada
pela primeira vez nos palcos. Aliás, nada mais oportuno, num momento em que se
reascende no país, como poucas vezes se viu, articulações e movimentos em torno
da ética, de transparência pública, de honestidade em diversos planos, de
dignidade. “Não sei quem foi o ufanista que jogou essa bandeira. É uma pessoa
louca, porque o Brasil não está em condições de receber manifestações como
essa. Inflação de 900%, um monte de denúncias de irregularidades, fora o
assassinato do Chico Mendes. Eu estou é triste! Desiludido!”, disse Cazuza para
mãe, após cuspir na bandeira pátria durante um show em 88. Hoje, 15 anos
depois, “eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes
novidades…”, Cazuza estaria se perguntando: mas, afinal, cadê o Amarildo?
FICHA
TÉCNICA
Texto de Aloísio de Abreu
Direção
Geral João Fonseca
Produção Geral Sandro Chaim
Direção Musical Daniel Rocha
Supervisão Musical Carlos Bauzys
Preparador Vocal Felipe Habib
Coreografias Alex Neoral
Cenário Nello Marrese
Figurino Carol Lobato
Visagismo Juliana Mendes
Design de luz Daniela Sanches e Paulo Nenem
Design de som Gabriel D´Angelo
Apresentado pelo Ministério da Cultura
Realização: Miniatura 9, Chaim
XYZ Produções
Patrocínio: Sulamérica,
Sem Parar e Mills
Elenco:
Elenco:
Emílio Dantas ou Osmar
Silveira (Cazuza)
Atores
convidados: Susana Ribeiro
(Lucinha Araújo), Marcelo Várzea (João Araújo), André Dias (Ezequiel Neves)
Com:
Fabiano Medeiros (Ney Matogrosso), Brenda Nadler(Bebel Gilberto), Thiago
Machado (Frejat), Igor Miranda (Maurício Barros), Bruno Narchi (Serginho), Diego Montez (Guto
Goffi), Saulo Segreto, (Dé Palmeira), Dezo Mota (Caetano Veloso),Oscar Fabião
(Swing masculino) Cazuza e Sheila Matos (sub Lucinha e Swing feminino).
Serviço
‘Cazuza Pro Dia Nascer
Feliz, o Musical’
Dia:
14 e 15 de junho de 2014
Preços
Plateia Inferior
R$120,00
– meia entrada
Plateia superior
R$
80,00 – meia entrada
Pontos de venda
Tribo
Restaurante
TicMix.com
2x
nos cartões Visa/ Master
Informações:
(62) 3219-3400
==> Foto: Divulgação
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