De 20 de março a 11 de maio, o artista
Carlos Vergara realiza a mostra “Sudário”, no Museu Nacional Honestino
Guimarães, em Brasília. A exposição é formada por monotipias em lenços, pinturas,
fotografias trabalhadas em 3D real e virtual, fotografias, monotipias em grande
formato, vídeos e instalações. Com a
mostra, será montada na área externa do Museu a instalação “Liberdade”, que
retrata a demolição do Complexo Penitenciário Frei Caneca, onde presos comuns e
políticos cumpriram pena e muitos foram torturados no período da ditadura de
Getúlio Vargas e durante o regime militar, de 1964 a 1985. A mostra, que já
passou pelo Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói (RJ), tem patrocínio da
Bradesco Seguros e pode ser visitada de terça a domingo, das 9h às 18h30. A
entrada é gratuita e livre para todos os públicos.
Sudário é um pano que antigamente se
usava para limpar o suor. O mais célebre é o sudário de Turim – uma relíquia
cristã que supostamente teria envolvido o corpo de Jesus Cristo. Embora não
haja propriamente uma relação religiosa neste contexto, é possível estabelecer
relações entre este pano, que foi substituído posteriormente pelo lenço, com a
ideia do homem andarilho que, ao se colocar em movimento, está aberto às
descobertas que ultrapassam a ordem do visível. “Sudário” reflete a busca e a
vontade do artista de imprimir a presença ou a memória ativa do sagrado sobre a
matéria, o pó e as ervas de um solo histórico por onde a humanidade se curvou
no seu destino solidário.
Utilizando uma prática já presente em
sua obra, a monotipia, Carlos Vergara imprime em lenços vestígios dos diversos
territórios por onde passou ao longo de sua carreira. Em “Sudário”, serão
apresentadas obras realizadas em lugares como Índia, Capadócia, Cazaquistão,
Londres, Pantanal, São Miguel das Missões e Salvador.
A exposição aborda, portanto, uma das
particularidades fundamentais na produção de Carlos Vergara: uma prática
artística prioritariamente realizada pela impressão de vestígios que se dá pela
poética do deslocamento e de apropriações dos lugares visitados. “Isso é
possível pela minha origem com a condição de transitoriedade, sem deixar de
considerar as relações interpessoais construídas no processo, as quais se
tornaram importantes no encadeamento da minha poética”, explica Vergara.
Ao longo dessa poética do deslocamento
e por mais de cinco décadas de vida artística, Carlos Vergara acumulou
experiências e uma intensa pesquisa em materiais e técnicas de trabalho. Uma
parte dessa entrega à experimentação, na qual o artista realiza apropriações da
transferência de imagens para o corpo do trabalho, o público poderá conhecer
nesta mostra. “Quero que o espectador experimente o invisível através do
visível. Quando fragmentos de lugares são deslocados para o âmbito do museu,
outras possibilidades de significados se constroem”, explica Carlos Vergara,
que deixa, ainda, algumas perguntas no ar: “Como partilhar o espanto, a
curiosidade, a admiração, o conhecimento, a ignorância, o medo, a estupefação
frente ao sagrado e os vestígios da aventura humana nos seus lugares? Como
trazer isso embrulhado num lenço?” A mostra é um convite à viagem e à imaginação.
“Liberdade”
Junto à mostra “Sudário”, o artista plástico Carlos Vergara traz a Brasília a instalação “Liberdade”. Formada por painéis fotográficos e portas gradeadas das celas Complexo Penitenciário Frei Caneca recolhidas após sua implosão, em março de 2011. A instalação é parte da mostra homônima, inaugurada em 2012, no Parque Lage, no Rio de Janeiro. “Liberdade” será montada na área externa do Museu, de frente para a Esplanada dos Ministérios e o Congresso Nacional. Esta será a última montagem de “Liberdade”, que culmina sua trajetória em Brasília, entre dois marcos históricos, os 50 anos do golpe de 1964, em 1º de abril, e o fim da ditadura militar, que no dia 15 de março completou 29 anos.
O Complexo
Penitenciário Frei Caneca, até sua total desativação e demolição, foi um dos
mais antigos presídios do país. Criado no período do Império, em 1833, para
receber criminosos, mas também servia de instrumento de coerção social ao
receber escravos e mendigos. De 1937 a 1945, no período do Estado Novo de Getúlio
Vargas, o complexo recebeu presos políticos, como Olga Benário, Mario Lago e
Graciliano Ramos. Em 1964, com a ditadura militar, o presídio voltou a receber
presos políticos.
De
seu ateliê em Santa Teresa, de onde podia avistar o presídio, Vergara filmou e
fotografou tanto a implosão da maior parte do Complexo, em março de 2011,
quanto a do Pavilhão Hélio Gomes, ocorrida em julho do mesmo ano. A partir
dessas imagens, ele desenvolveu monotipias que serviram de base para as
pinturas que serão exibidas na mostra.
O local onde a instalação
“Liberdade” ficará exposta foi escolhido de forma a que a mensagem seja vista por
todos os que frequentam as esferas do poder. “Liberdade” é um contraponto à “Sudário”,
resultado de várias viagens de estudo do artista pelo país e o mundo. “Afinal, só viaja quem está livre”, afirma
Vergara.
Serviço
“Sudário”
Exposição de Carlos Vergara
Monotipias, fotografias em 3D real e
virtual, pinturas, vídeos e instalações
“Liberdade”
Instalação
Local: Museu Nacional - Complexo
Cultural da República
Data: Até 11 de maio
Visitação: de terça a domingo, das 9h
às 18h30
Entrada: gratuita e livre para todos os
públicos
Telefones: (61) 3325-5220 e 3325-6410
==> Foto: Divulgação
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