Após oito anos sem expor em Brasília, Nonato Oliveira retorna com a mostra “Figurantes”, na qual
retrata a gente do nordeste, no seu cotidiano e nos dias de festa.
Personagens que carregam no semblante a dura realidade sertaneja, mas
que trazem no seu íntimo alegrias e contentamentos, traduzidos pelo
artista através das cores fortes e vibrantes, características de sua
obra.
São vinte e cinco obras em acrílico sobre tela com figuras que
personificam a vida do povo nordestino, especialmente o piauiense, com
retratos da vida popular, religiosidade,
usos e costumes. Como analisa o próprio artista: “Esta exposição
representa todos os meus anos de vida, pois vivo em função da cultura
deste povo. Apesar de ter andando pelo mundo quase todo, carrego comigo a
minha terra e a minha cultura”.
O figurante de boi, as moças do interior, a noiva singela, a família,
os músicos, José, Marias... Todos estes personagens ganham seu espaço
nas mãos do artista, adornados por cajus, mandacarus e pássaros do
sertão.
Predominam tonalidades fortes e primárias, especialmente o amarelo que
ele utiliza para definir o semblante pálido do sertanejo. Somado ao
azul, verde e vermelho, reforça uma aquarela de cores sobre a qual o
artista mostra suas ideias, preenchendo espaços com equilíbrio visual.
“Aos
63 anos de vida, quase 40 dedicados à arte, Nonato Oliveira apresenta
seu lado mais contemporâneo, com figuras mais limpas, representando,
talvez, a objetividade dos que chegam à melhor idade. A alma, porém,
segue jovem, alimentada pela vontade constante de espalhar cores e vida
por onde quer que transite.”
Marina Oliveira - curadora
Os murais
Uma das principais marcas da obra do artista Nonato Oliveira
são os murais. Espalhados por toda a cidade de Teresina, os trabalhos
refletem os costumes, a cultura e o folclore do nordestino. "Os murais
são obras de arte voltadas para o povo e é para o povo que eu sempre
direcionei minha arte", diz o artista.
Na
capital piauiense, os murais enfeitam de motéis a igrejas, passando por
sedes de órgãos públicos, empresas privadas e residências. Além de
Teresina e vários municípios do interior, há murais do artista em
Fortaleza, São Luís, Belém, Goiânia, Brasília, São Paulo, Rio de
Janeiro, Madri (Espanha) e Lisboa (Portugal).
Em
cada mural o artista faz questão de inserir características peculiares
do ambiente em que está situado: "Não gosto de fazer uma obra por
encomenda dirigida, mas sempre faço um projeto que contemple aspectos do
local em que estou construindo o mural, adotando novos assuntos, mas
sempre mantendo o meu estilo", explica.
Além
dos murais, o artista produziu várias esculturas e monumentos, muitos
deles com temática religiosa. Entre os trabalhos menos convencionais que
realizou, o artista destaca o da agência central dos Correios, em
Teresina: "é uma obra muito interessante, um dos painéis é pintura sobre
madeira e o outro é uma soldagem em ferro", e também um monumento em
estilo surrealista às margens do rio Araguaia, no sul do Pará: "esta
obra comprova que o povo pode e deve ter acesso até mesmo à arte mais
complexa".
O Artista
Nonato Oliveira
nasceu em 11 de dezembro de 1949 no município de São Miguel do Tapuio
(PI). Começou a pintar ainda criança, utilizando os restos de materiais
deixados pelo pai, que era pedreiro. Esculpia com o que sobrava das
massas e pintava com o restante de tinta. Usava urucum, tabatinga,
nogueira e casca de angico para fabricar suas próprias cores.
Com
12 anos de idade mudou-se com a família para a capital (Teresina).
Poucos anos depois, teve que enfrentar uma cidade ainda maior: Paris. O
jovem artista tinha feito uma série composta por dezessete quadros sobre
a Guerra dos Canudos, que um curioso viu em sua casa e levou para ser
exposta na Maison de France, no Rio de Janeiro, o que acabou lhe valendo
uma bolsa de estudos na capital francesa.
Desde
então, já realizou mais de oitenta exposições, individuais e coletivas,
em diversos estados brasileiros, além da Europa e dos Estados Unidos.
As cores vivas e fortes – usadas para expressar temas como a seca, a
fome, a cultura popular, a religião, o folclore e o semblante nordestino
– são as principais marcas da arte de Nonato Oliveira.
Seu
estilo pode ser caracterizado como uma mistura de primitivo com
expressionista. Bumba-meu-boi, reisado, bandeiradas, pipas, violas,
zabumbas, gente do povo, festas populares, cajus, cactos e mandacarus
ganham vida através da ótica poética, simples e, ao mesmo tempo,
magistral, do artista plástico, resultando em obras que são a cara do
Nordeste.
“A
imaginação funciona pelo fantástico e pelo absurdo. Das cabeças dos
figurantes das festas podem nascer o boi, um fruto ou qualquer outra
forma do estoque da simbologia corrente em nosso mundo ou na infância
transformada em memória. Alegrias, tristezas, inúmeros problemas saem
das telas de Nonato Oliveira para nós, pagando o olhar desprevinido em
meio a ornatos que lembram um certo classicismo distante. Se o
equilíbrio é quebrado alguma vez, logo se repõe. Sua arte excita a
sensibilidade e a inteligência, tem o sabor das cores vivas, o amor das
coisas tristes também, a história de sua terra. Nonato, não obstante, é
muito pessoal e por isso muito bom. Nonato é fabuloso”.
Francisco Miguel de Moura, escritor, 1987
“A
arte de Nonato Oliveira é uma bela explosão de cores, um presente para
os olhos e um afago na alma das pessoas que têm ou vão ter a sorte de
ter um encontro com ela. Ademais, retrata a beleza com inefável
simplicidade, o que, antagonicamente, pode significar sofisticação”.
Cláudio Barros, jornalista, 2013
SERVIÇO
Exposição “Figurantes”, de Nonato Oliveira
Data: de 05 a 31 de março de 2013
Hora: das 09 às 17 horas
Local: Galeria de Arte do Salão Nobre da Câmara dos Deputados
Entrada franca
Informações: (61) 3215-8080 / 3215 8092 (Com Luana Alencar) /cultural@camara.leg.br
Centro Cultural Câmara dos Deputados Zumbi dos Palmares l Câmara dos Deputados l Anexo I sala 1601/02/03, Tels: 61.3215 8080/81/84 - Fax: 61.3215 8091 - E-mail: cultural@camara.gov.br
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