Comédia As Rivais estreia em Brasília e propõe uma reflexão sobre o destino

“Valei-me meu São Francisco do Canidé, o mundo vai acabar, tende piedade!” No sertão árido e sofrido, personagens típicos do imaginário popular e do Nordeste do país terão de lidar com a morte. Ou será com a vida? Escrita pelo autor pernambucano Cícero Belmar e dirigida pelo também pernambucano Ernandes Silva, o espetáculo de humor As Rivais ganhará pela primeira vez os palcos da capital federal. A peça terá sua estreia em Brazlândia no dia 22 de março, sexta-feira, no Centro de Ensino Fundamental 03 (QD 46 AE 01 Vila São José), às 13h30 e às 16h. Depois passará pela Estrutural e pelo Plano Piloto. Entrada franca. Não recomendado para menores de 10 anos.

O texto original Umbilina e Sua Grande Rival, de Belmar, ganhará as luzes da ribalta com o nome As Rivais. Com os tons do cordel e do Nordeste, a peça conta a história de Umbilina (Maria Moreira), uma típica nordestina arretada que engoliu sapos e enfrentou a morte. Ela ficou só com seu único filho que restou. Afinal, os outros nove passaram para o lado de lá. Apesar de ser uma mulher forte, Umbilina está doente e terá agora que enfrentar a morte, a sua grande rival. É quando começa a peleja (disputa) dela com a personagem da Morte (Madelon Cabral).

E no meio desta disputa no Sítio dos Espinhos, localizado no Brejo da Misericórdia, local onde é ambientada a peça, que Umbilina terá que enfrentar também o destino, a solidão e a própria vida. A sertaneja, no entanto, não sossegará enquanto não cumprir uma missão: transformar seu filho José Maria do VentroJesus (Lucas Lima) em personagem de literatura de cordel. Para isto, ela contará com a ajuda de Nossa Senhora das Dores (Clara Camarano) e dos anjos da guarda (Lucas Lima e Genice Barego), todos estes personagens humanizados no espetáculo.

“A obra trata de uma alegoria sobre o destino, além de falar sobre a situação da mulher e do nosso enfrentamento diante da morte. A história se passa no interior do Nordeste, mas os temas estão dentro de qualquer região e os sentimentos dos personagens povoam qualquer pessoa. O texto humaniza também personagens como a Morte. Ela é uma mulher rejeitada e não um ser demonizado”, destaca Belmar.

Apesar do enredo profundo e aparentemente trágico, As Rivais é uma peça cômica. Além das clássicas figuras da Morte e de Nossa Senhora das Dores - ambas mulheres como qualquer outra -, personagens como a poetisa Ana Roxinha (Genice Barego) dão o tom da graça, sem perder a crítica.

“Nós estamos falando de pessoas, de situações que refletem o país e não apenas o Nordeste, embora a peça se passe no interior de Pernambuco, no ficcional Brejo da Misericórdia. Mas a linguagem é universal. A gente fala sobre mãe, sobre morte, sobre destino. O sertão está em todo lugar e retratamos isto de forma cômica, como é esperado em textos baseados no cordel”, explica o diretor Ernandes Silva.

E para realçar ainda mais este sertão, a cenografia assinada também por Ernandes Silva será fidedigna à pobreza e ao misticismo presentes no sertão. As xilogravuras de J. Borges farão parte do material de divulgação. O figurino, de Fátima Braga, também exaltará os interiores do Nordeste, além de humanizar os personagens. “Sim. Veremos uma Morte com foice”, adianta Silva.

A trilha sonora original também embala a peça com elementos do xaxado e do baião, típicos ritmos nordestinos. A trilha é assinada pelo compositor mineiro radicado em Cabrália (BA), Caio César Costa.

O espetáculo As Rivais é uma realização da Cia EM COMMA de Teatro. Tem o patrocínio da Secretaria de Cultura do Distrito Federal por meio do FAC- Fundo de Apoio à Cultura.

Nordeste que habita em nós
A labuta e devoção do sertanejo, a seca, a fome, a morte, o abandono, a luta e a esperança. Todos estes elementos são retratados no texto de Cícero Belmar, que agora ganhou versão para o teatro.

Segundo o autor, a obra se banha no Realismo Fantástico e conta com elementos do Movimento Armorial, de Ariano Suassuna. “Sou fã do Suassuna. Ele mescla o clássico com o popular e isto é visto em Umbilina. Eu já vivi no interior de Pernambuco e por lá as pessoas vivem o Realismo Fantástico por meio do catolicismo popular. E isto mostro no livro através da fé, da menina que vê Nossa Senhora”, revela Cícero.

Na versão que será vista no palco, Ernandes Silva mantém como base a dramaturgia de Belmar e opta por uma interpretação realista/naturalista. “Além disto, o universo poético estará fortemente presente. Teremos ainda personagens como o Antônio Crente e a Beata, todos do livro”, coloca o diretor Ernandes Silva.

E a mensagem que fica, tanto para o diretor quanto para o autor, é a do destino, grande mote da peça. “Todos nós nascemos com um destino. Nascer e morrer. O filho que nasce e que morre. A mãe que vê seu filho sair de casa, seguir e que também morre. E se formos parar para pensar, a morte nos causa medo. Mas ela também faz parte do destino e nem é tão ruim assim. Tudo depende da forma que vemos”, pontua Silva.

E foi num destes acasos da vida que o diretor conheceu Belmar. A química foi grande e o autor cedeu a obra, sem hesitar. “Sou ator pernambucano e senti a necessidade de montar um texto escrito por um pernambucano para retornar às minhas origens. Foi quando um aluno meu, hoje o grande ator também pernambucano Plínio Maciel, me indicou o Cícero. Eu li o livro (Umbilina e Sua Grande Rival) e amei. E o Cícero foi super gentil ao me conhecer. Assim surgiu a peça As Rivais, baseada no romance deste grande autor", explica, feliz, Ernandes Silva.

Sobre o diretor Ernandes Silva
José Ernandes da Silva conta com 33 anos de experiência em Artes Cênicas, tendo iniciado sua carreira em meados de 1986, em Surubim (PE). Por lá, participou de várias montagens e festivais de teatro, recebendo alguns prêmios. Em 1994, mudou-se para Brasília. Na capital brasileira, ele formou-se em Bacharel em Artes Cênicas pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. Tem habilidade em preparação do ator, dessa forma contribui e promove um mergulho na formação da personagem. Também tem curso de formação em composição de textos para teatro, interpretação para comédia, além de curso de cenografia. Seus textos são críticos e seus temas abordam questões sociais. “Sétimo Dia” e “Cicatrizes” são exemplos de peças que Ernandes dirigiu. Trabalhou com diversos nomes conhecidos no teatro como Prazeres Barbosa, Didha Pereira, Alessandro Brandão, os Irmãos Fernando e Adriano Guimarães, Bárbara Paz, Alice Stefânea, Fábio André, Plínio Maciel, Madelon Cabral, Lilian França, Antônia Vilarinho, Verônica Moreno, Antônio Fábio, Jeffe Moreira, dentre outros. Ernandes possui ainda pós-graduação em Direção Teatral pela Faculdade Dulcina de Moraes.

Sobre Cícero Belmar
Natural de Bodocó, município no Sertão do Araripe, Estado de Pernambuco, filho de Adrina e Cícero (Bé), nasceu no dia 20 de janeiro de 1963. Jornalista, dramaturgo, autor de romances, contos, biografias e peças de teatro. Além de escritor, tem uma larga experiência como jornalista, já tendo recebido duas vezes o prêmio Cristina Tavares de Reportagem. Ele trabalhou em redações de vários jornais e televisões em Pernambuco. Belmar começou sua carreira na escrita através do jornalismo, como ele faz questão de ressaltar – atuou por muitos anos no Jornal do Commercio, onde chegou a ser editor. Na literatura, começou escrevendo obras infantis como Os Vaga-Lumes, O Pintinho Bailarino, A Floresta Encantada, O Presente de Júlia e Sem Pé Nem Cabeça. No mesmo período, se dedicou a criar peças para crianças e jovens, a exemplo de A Floresta Encantada, Coração de Mel, Meu Reino por um Drama, Eu Não Quero Ser Gregor Samsa e Os Vaga-Lumes (as duas últimas inéditas). Outro texto seu, A Flor e o Sol, venceu em 1999 o Prêmio da Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe). Na literatura ganhou duas vezes o Prêmio Literário Lucilo Varejão, da Fundação de Cultura da Prefeitura do Recife, nos anos de 2000 e 2005, pelos romance Umbilina e Sua Grande Rival e Rossellini Amou a Pensão de Dona Bombom. Esse último também recebeu o Prêmio de Ficção da Academia Pernambucana de Letras, em 2005. Além desses dois romances, é autor do livro de contos Tudo na Primeira Pessoa, da biografia Fernando Figueira, O Homem que Arrastou Rochedos (2007/selo Escrituras) e Aqueles Livros Não Me Iludem Mais (2011/selo A Girafa), que mistura os gêneros conto e novela e foi ganhador do prêmio da Academia Pernambucana de Letras (APL), na categoria ficção, em 2013. Em 2017, mais precisamente em julho, Belmar torna-se imortal, passando a ocupar a cadeira 33 da APL, que pertenceu à escritora Lucila Nogueira, falecida em dezembro de 2016. Também recebeu o título de Cidadão do Recife.

Ficha Técnica:
Espetáculo: As Rivais
Dramaturgia: Cícero Belmar
Direção Geral, Cenografia e Produção: Ernandes Silva
Produção Executiva: karita Pascollato
Assistentes de Produção: Fernando Bressan e Maria Eleide
Gênero: Comédia
Segmento: Teatro
Classificação Indicativa: 10 Anos
Elenco: Clara Camarano, Genice Barego, Lucas Lima, Madelon Cabral e Maria Moreira
Xilogravura: J. Borges
Figurino e Adereços: Fátima Braga
Som e Luz: Tauana Barros
Preparação Vocal e Canto: Gislene Macedo
Preparação de Sotaque: Nathalia Ananias
Trilha Sonora Original: Caio César Costa
Sonoplastia: Rosanna de Carvalho
Maquiagem: Andréa Alfaia
Projeto Gráfico e Edição: Erik Batista
Fotografia: Humberto Araújo
Cenotécnicos: Araújo Lima e Theo Neto
Duração: 1h20
Realização: Cia EM COMMA de Teatro 
Assessoria de imprensa: Baú Comunicação Integrada


SERVIÇO:

Espetáculo As Rivais, de Cícero Belmar com direção de Ernandes Silva
Estreia: 22 de março (sexta-feira)
Local: Centro de Ensino Fundamental 03 (QD 46 AE 01 Vila São José), em Brazlândia
Horário: 13h30 e 16h
Entrada gratuita
Não recomendado para menores de 10 anos.
Informações: 99508-4994

==> Foto: Humberto Araújo

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