"O VIOLEIRO" com Roberto Corrêa no Teatro da Escola de Música de Brasília

“O Violeiro”, de Roberto Corrêa, tem apresentação marcada para os dias 24 e 25 de novembro, sábado às 20h e domingo às 18h, no Teatro da Escola de Música de Brasília. A aula-espetáculo faz parte do projeto “Pesquisa e arte na invenção da viola caipira contemporânea”, realizado com apoio do FAC, no qual Corrêa alia sua experiência como violeiro e pesquisador.

A aula-espetáculo nasceu da intenção de levar ao público a emoção da arte da viola caipira e o conhecimento do seu contexto cultural. Na construção do roteiro, sob a direção de João Antônio, a criação ganhou formas de espetáculo – com texto, poesia, música e dança – e trouxe para Corrêa novos desafios. Sobre a montagem, o artista se diz “muito feliz com a oportunidade de encontros e reencontros com novos e antigos parceiros. Sem contar os desafios de ter que criar novas canções e de subir ao palco para representar um personagem, pela primeira vez na minha carreira”.

Para as apresentações deste final de semana, Roberto volta à Escola de Música onde foi professor por mais de três décadas. Roberto destaca o simbolismo deste momento: “A Escola de Música foi pioneira em adotar o ensino da viola caipira no Brasil, e eu fui o seu primeiro professor. Em todos estes anos a cena da viola se desenvolveu muito em Brasília e no Brasil. A aula-espetáculo O Violeiro é uma síntese da minha atuação como artista, professor e pesquisador. Foi na Escola de Música que desenvolvi grande parte deste trabalho e é essencial para mim estar ali com esta aula-espetáculo”.

Para o espetáculo, Roberto Corrêa e João Antônio se aliaram a outros “pioneiros” da cultura brasiliense na construção dessa estória que passa por aspectos referencias da cidade como o cerrado e as práticas tradicionais anteriores à construção da nova capital. Rômulo Andrade assina a cenografia, e o repertório conta com uma parceria com Climério Ferreira, especialmente composta para o espetáculo, além de uma composição inédita de Clodo Ferreira.

Recheado de elementos da cultura caipira e interiorana, de encantamentos e memórias ancestrais, O Violeiro narra a vida de um homem caipira, desde o despertar como violeiro até a velhice e morte. “É um espetáculo de essências, onde, na trajetória deste violeiro, assiste-se também a história recente da viola no Brasil”, comenta Roberto, autor do roteiro juntamente com João Antônio e Juliana Saenger.

Para compor a dramaturgia, Roberto foi buscar as referências de seus quarenta anos como pesquisador da viola caipira, pinçou tradições e simpatias do imaginário interiorano. “Reza a tradição que para ser bom violeiro tem que ter o dom de Deus, e quem não nasceu com esse dom precisa fazer um pacto com Diabo”, conta Roberto. Há também as simpatias, como passar uma Cobra-Coral, viva, entre os dedos para torná-los ágeis. Tem a do Cemitério, onde o pretendente a violeiro, ao pé da cova de um grande mestre falecido, pede à sua alma que o ensine a tocar. Típica do Brasil central, é a do Chocalho de Cascavel para a proteção da viola. Muitos levam um chocalho de cascavel dentro do instrumento, cujo poder e magia do guizo anula qualquer mau-olhado.

Enriquecendo a narrativa da montagem, Roberto convidou Hérik Sousa, seu parceiro de dupla caipira, José Nucias, violeiro e guia de folia, e os catireiros Irmãos Vieira. Segundo João Antônio “o espetáculo é uma aula sobre o Brasil profundo, enredado de danças, religiosidade e gêneros caipiras”. Dos gêneros apresentados no espetáculo, estão: Guarânia e Rasqueado, oriundos da fronteira com o Paraguai; do Catira vem o Recortado e a Moda-de-Viola, entoados em dueto; Baião, encontrado em várias práticas tradicionais; Modinha, canção de amor dos tempos antigos; Cantos de Trabalho; Incelenças, entoadas nos velórios; e o Cateretê.

A religiosidade é representada pela Festa do Divino, função de cantos devocionais, ou cantorios, e de brincadeiras ligadas à divindade como o Catira. Característica do centro sul do país, o Catira é dança coletiva passada de geração a geração e preservada dentro do núcleo familiar.

A prosa do texto ganha contornos de poesia no vocabulário caipira de termos como: Enlerar (organizar em fila, dar sequência); Fulorado (cheio de flor); Poribia (proibir); Parpitava (palpitava); Repicoa (ecoa várias vezes); Rebomboa (ato de bombear com vigor); Vênia (gestual de reverência); Guapo (bonito, habilidoso); Diferençar (mudar); Trem mais mió de bão (coisa muito boa); Esbrangir (espalhar); Mais erado (mais velho); Embaço dos óio (perda de visão); Antiquera (relativo a coisas antigas); e Envem (lá vem).

De referência em referência, de causo em causo, “O Violeiro” é uma aula que emociona e um espetáculo que ensina – e aviva a memória para um passado rural recente.

Natural de Campina Verde (Minas Gerais), e residente em Brasília desde 1975, Roberto Corrêa, um dos violeiros mais respeitados do Brasil, é figura imprescindível quando o assunto é viola brasileira. Autor de 19 álbuns lançados, o compositor já rodou o Brasil e fez as suas violas caipira e de cocho conhecidas em 29 países, onde se apresentou em importantes salas de concerto. Doutor em musicologia pela USP e professor, Corrêa contribuiu, em seus mais de 40 anos de carreira, na formação de instrumentistas e na ampliação do repertório da viola, especialmente solista.


SERVIÇO:

“O Violeiro”, com Roberto Corrêa
Local: Teatro da Escola de Música de Brasília - TEMB
Apresentação: dias 24 e 25 de novembro de 2018
Horário: Sábado, às 20h; Domingo, às 18h
Ingressos: Entrada franca. Os ingressos começam a ser distribuídos no teatro uma hora antes da apresentação
Duração: 70 minutos
Classificação indicativa: Livre para todos os públicos

==> Foto: Diego Bresani

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