
O laborioso professor de Farmacologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, Dr. Sérgio Henrique Ferreira (Franca-SP, 1934 – 2016, Rib.Preto-SP), estava interessado nos efeitos daquele veneno no corpo humano. Levou amostras do material biológico para a Inglaterra onde faria estagio em laboratórios de pesquisa e, lá, conseguiu proceder à separação das frações proteicas daquele veneno. Uma das frações separadas mostrou-se efetiva na redução da pressão arterial de mamíferos, testada em camundongos e cobaias. Estava descoberto o princípio biológico (o inibidor do enzima conversor da angiotensina II) que facilitaria o desenvolvimento posterior do medicamento que iria revolucionar o tratamento da hipertensão arterial (captopril e outros vinte derivados).
Conto essa história justamente para enaltecer a persistência e capacidade de superação de cientistas que trabalham a vida inteira na busca incessante de contribuições científicas que ficam marcadas na história das ciências. O caso daquele professor foi um deles.
O Prof. Ferreira estudava uma serpente que só é encontrada aqui na América, descreveu toda a biologia e ação das frações proteicas descobertas a partir do seu veneno levado aos laboratórios estrangeiros; partilhou seu conhecimento com outros pesquisadores; publicou seus dados observados em revistas científicas prestigiadas e... verificou posteriormente que laboratórios de pesquisa outros produziram a molécula sintética que possibilitou transformar sua pesquisa básica em um medicamento de uso mundial. Conta-se que ele ficou feliz... e continuou trabalhando.
O desenvolvimento da nova droga constituiu um marco no tratamento moderno do síndrome hipertensivo e também na insuficiência cardíaca, felizmente, mas o nome do Prof. Ferreira só foi reconhecido décadas depois pelas sociedades científicas internacionais como o pioneiro descobridor do novo princípio biológico que possibilitou a revolucionária descoberta terapêutica moderna anti-hipertensiva.
Nunca recebeu ele compensação monetária nenhuma pelas descobertas científicas que resultaram em bilionárias vantagens comerciais com os produtos medicamentosos decorrentes.
Até recentemente o professor era visto com o mesmo fusquinha... E feliz!
Francisco Habermann é professor da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu: Contato: [email protected]
==> Foto: Divulgação
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