Quanto de significado pode uma palavra
carregar? Será possível caminhar pela cultura chinesa se apoiando em
apenas um termo? Para refletir sobre isso, o professor francês François
Jullien parte da palavra chinesa “che” e de sua ambivalência – dicionários
significam-na como “posição” ou “circunstâncias” e “poder” ou “potencial”
– para construir A propensão das coisas – Por uma história da
eficácia da China, lançamento da Editora Unesp. Seu
objetivo é ambicioso: encontrar, a partir da extrapolação de análises
linguísticas, as linhas mestras subjacentes à cultura
chinesa.
“O termo oscila ostensivamente entre os pontos de vista do estatismo e do dinamismo”, registra Jullien, “É-nos dado um fio que nos guia por trás da oposição de planos na qual nossa análise da realidade se deixa emparedar”. E essa ideia fica clara ao longo dos três capítulos da obra, que perpassam os significados da palavra e suas implicações. O convite do autor, de descentrar a visão, é artefato essencial para avançar pelos campos da estratégia, do poder, da estética, da história e da filosofia da natureza. “A que se deve, para os chineses, a beleza de um traço de escrita, o que justifica a montagem de uma pintura em rolos ou de onde vem o espaço que consideram poético?”, pergunta o autor.
Entretanto, para além de servir apenas para explicar traços da cultura chinesa, o estudo linguístico feito por Jullien tem algo a dizer, num plano mais amplo, sobre todas as culturas, “aquilo sobre o qual o discurso tem tão pouco domínio em geral: a eficácia que não tem origem na iniciativa humana, mas é resultado da disposição das coisas”.
A partir de uma palavra incômoda (posto que limitada a usos práticos e arredia a traduções unívocas), este livro revela uma intuição fundamental propagada pela civilização chinesa como uma evidência. Ao mesmo tempo, esclarecem-se por contraste certos pressupostos da filosofia ou “tradição” ocidental: em especial os que levaram a postular Deus ou pensar a realidade.
Sobre o autor – François Jullien é professor da Universidade Paris VII-Denis Diderot, membro do Instituto Universitário da França e diretor do Instituto do Pensamento Contemporâneo. Seu trabalho é traduzido em diversos países.
Título: A propensão das coisas – Por uma história da eficácia da China
Autor: François Jullien
Tradutor: Mariana Echalar
Número de páginas: 342
Formato: 14 x 21 cm
Preço: R$ 64,00
ISBN: 978-85-393-0663-3
==> Foto: Divulgação
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