Um grupo de pesquisadores da USP e da Unesp investigam uma
nova enzima que é capaz de matar as células cancerígenas da Leucemia
Linfoide Aguda (LLA), responsáveis por cânceres em crianças e
adolescentes. O novo biofármaco foi criado a partir da enzima encontrada
na levedura e está passando por testes. Se aprovado, poderá ser uma
alternativa viável, mais barata e eficiente para o tratamento do câncer
infantil.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a LLA é a neoplasia infanto-juvenil mais comum. As células leucêmicas não podem fazer nenhum trabalho das células sanguíneas normais, o número dessas células cresce rapidamente e a doença agrava-se num curto intervalo de tempo. De acordo com dados do INCA, entre 2016 e 2017 serão diagnosticados cerca 12.600 novos casos de cânceres pediátricos e juvenis no Brasil, sendo aproximadamente 25% destes representados pela LLA.
O
bioquímico Marcos Antônio de Oliveira, do Instituto de Biociências da
Universidade Estadual Paulista Campus do Litoral Paulista (Unesp-LP),
que fica em São Vicente,
diz que um dos medicamentos utilizados no tratamento da LLA é composto
pela enzima asparaginase, extraída da bactéria Escherichia coli.
Apesar da possibilidade de cura ser de 80% na utilização desse
medicamento, até 25% dos pacientes desenvolvem reações imunológicas e
não podem utilizar o fármaco.
Apesar de existirem outros dois
medicamentos alterados, que são utilizadas para “enganar” o sistema
imune e permitir a continuidade do tratamento, eles são protegidos por
patentes e são muito caros, além de não serem aprovados pela Anvisa.
Como o fármaco mais utilizado é importado, houve uma crise no
abastecimento em 2013, que levou a pesquisas sobre novos medicamentos
baseados na biodiversidade. Oliveira, juntamente com a geneticista
Gisele Monteiro (USP),
os pós-graduandos Leonardo Schultz e Iris Costa, sob a coordenação do
farmacêutico Adalberto Pessoa Jr. (USP), começaram a estudar organismos
que fossem fontes de asparaginases.
Eles isolaram fungos
oriundos de diversos ambientes brasileiros, como cerrado e caatinga,
além de ambiente marinho e terrestre da Antártica, e avaliaram bancos
de dados mundiais de genes. Assim, identificaram a Saccharomyces
cerevisiae, uma nova enzima da levedura do pão.
“Encontramos um gene similar da bactéria Escherichia coli. Conseguimos clonar esse gene da levedura e obter essa enzima, fazer a produção dela no laboratório. A levedura está presente na natureza em quase todos os lugares, é muito utilizada para fazer a fermentação. Descobrimos, em um organismo super conhecido, uma coisa que nunca foi estudada”, explica o bioquímico.
Depois da descoberta, os
pesquisadores iniciaram as fases de experimentações. A enzima foi
testada em células leucêmicas e em células normais. “Quando a gente
colocou em contato com as células leucêmicas, elas mataram com
eficiência de 80% e, para as células normais, ela não tem toxicidade,
ou seja, não mata a célula normal”, explica.
Segundo Oliveira, serão feitos mais testes com células e, depois, testes com ratos e, por fim, com humanos. A pesquisa “Produção de L-asparaginase extracelular: da bioprospecção à engenharia de um biofármaco antileucêmico”, foi publicada na edição de novembro da revista inglesa Scientific Reports do Grupo Nature.
Ele e os
pesquisadores também tem outros estudos encaminhados na área. Oliveira
acredita, porém, que essa enzima tem grandes chances de trazer
benefícios para os pacientes com câncer. “Na minha opinião, estamos em
um caminho muito promissor. A taxa que ela (enzina) mostra de morte das
células leucêmicas é muito alta e a taxa que mata as células normais é
praticamente nula”, diz.
Para ele, é possível encontrar na
biodiversidade a solução para muitas doenças buscando a invenção de
novos medicamentos. “Para a gente, que trabalha em universidade, o que
interessa é produzir algo barato para a população. Principalmente os
medicamentos de câncer, que são muito caros. Temos que aproveitar a
biodiversidade no Brasil, que é uma das maiores riquezas que a gente
tem", finaliza.
==> Foto: Marcos Santos / USP
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