A história da imigração japonesa começa no Brasil com a chegada do
navio Kasato Maru ao porto de Santos, em 18 de junho de 1908. Dele,
desembarcaram 781 imigrantes vindos de Kobe, vinculados ao acordo
imigratório estabelecido entre Brasil e Japão, em busca de trabalho nas
plantações de café e no cultivo de morango, chá e arroz.
Com o incentivo do governo japonês, em um cenário pós-Primeira Guerra Mundial, o fluxo migratório nipônico para o Brasil cresceu consideravelmente. A intenção era expandir a cultura japonesa para o mundo, sobretudo, para as Américas.
Consequentemente, é em território brasileiro que reside a maior população de descendentes e japoneses fora do Japão: mais de 1,5 milhão de pessoas. Quem são então esses japoneses e nipodescententes que vivem aqui? Indo além do tratamento bibliográfico tradicional sobre imigração, que trata de identidades e etnicidade, os artigos reunidos em Japonesidades multiplicadas: novos estudos sobre a presença japonesa no Brasil, (190 páginas, R$ 32), trabalha com a perspectiva de perceber uma constelação de japonesidades em movimento e em transformação.
Organizada pelo antropólogo Igor José de Renó Machado, a obra compila sete artigos que buscam dar conta da diversidade da presença japonesa no Brasil, unindo abordagens inovadoras e críticas sobre os estudos étnicos da América Latina.
O conjunto de artigos reunidos no livro mostra que existem diferenças entre tornar-se japonês pela prática do kendo ou pela participação na Associação Japonesa; ser japonês à brasileira, como os otakus e cosplays, ou brasileiro à japonesa, como se tornou o sobá em Campo Grande. Evidencia ainda as dissonâncias, como o ser gay na família japonesa e mostra que há múltiplos nikkeis, como na comemoração do centenário da imigração.
Os artigos abordam temas tradicionais, como associativismo, culinária, arte marcial, e outros atuais, como a homossexualidade, o J-pop e a mídia, para desvendar as formas de “ser nipo-brasileiro” como também a de “estar nipo-brasileiro”.
Desafiando os estudos tradicionais, esses novos estudos étnicos confrontam questões de pesquisa que enfatizam a identidade nacional, sem negar a possibilidade de uma identidade diaspórica. Buscam não idealizar os nipodescendentes como membros de grupos fechados, mas consideram que a etnicidade é um fenômeno em transformação, dentro de um mosaico identitário mais amplo. Como resultado, os capítulos de “Japonesidades multiplicadas” ajudam a articular novas abordagens que podem ser aplicadas amplamente aos estudos de etnicidade.
Também organizado pelo antropólogo Igor José de Renó Machado e originado a partir de investigações realizadas no Laboratório de Estudos Migratórios da Universidade Federal de São Carlos (LEM), Deslocamentos e parentesco (212 páginas, R$ 32) busca compreender o entrelaçamento entre parentesco, família e fenômenos migratórios. Os ensaios expõem que os dois fatores, movimento e parentesco, são parte integrante da vida de qualquer migrante, seja ele deslocado ou estudante internacional.
Abordando temas como mulheres e migração, estudantes moçambicanos e os decasséguis no Japão, os artigos exploram diversas situações em que a articulação entre movimento e parentesco dá sentido à experiência de vida dos migrantes. Esses fatores podem ser observados na relação da família que fica no Brasil enquanto se migra, entre estudantes estrangeiros no Brasil e nos diversos parentescos dos descendentes de japoneses no Brasil.
“Quando se analisa, por exemplo, um conjunto de etnografias que se utiliza dos maquinários da etnicidade, versando sobre imigrantes no Brasil, vemos que todas as populações descritas se parecem incrivelmente. Todas constroem a diferença da mesma forma, todas se utilizam de conteúdos culturais para marcar diferenças e todas tendem a ter problemas com a sociedade nacional e seu desejo equalizador”, esclarece Igor José de Renó Machado.
==> Foto: Divulgação
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