Solo Música inova ao comissionar duas obras contemporâneas para o oboé

Um recital com características históricas. É o mínimo que se pode dizer da apresentação que o oboísta Ricardo Rodrigues realizará na Série Solo Música em 17 de agosto, às 20 horas, na Caixa Cultural Brasília. Será um recital de música contemporânea com obras escritas para o oboé solo e por compositores brasileiros. O caráter histórico se dá pelo fato de duas músicas terem sido escritas especialmente para este recital na Série Solo Música, pelos compositores Harry Crowl e Jorge Antunes. Esta será a primeira vez que no Solo Música há obras comissionadas, algo que não é tão comum nas demais programações de música clássica no país.

“Ao comissionarmos obras, fazemos com que a Série venha a enriquecer o repertório de um instrumento”, diz o produtor Alvaro Collaço, idealizador da Série. “O Solo Música possui sete anos de existência, já registrou 104 recitais com 66 artistas participantes. Não será esta a primeira vez que traz obras inéditas ao público, mas é a primeira em que participa ativamente da criação de uma obra, colocando-se assim como espaço aberto a novas reflexões e experiências musicais”, enfatiza Collaço. A escolha do instrumentista e do instrumento para que a obra fosse composta surgiram dele, Collaço, bem como o convite a Crowl e Antunes, dois dos mais significativos compositores do país.

O recital de Ricardo Rodrigues tem o nome de “Mutação” e além das peças comissionadas, traz obras de Cláudio Santoro, Jocy de Oliveira e Augusto Valente. Sobre as obras de Crowl e Antunes, Ricardo Rodrigues enfatiza: “Temos aqui uma enorme contribuição para a Música Brasileira. As duas obras escritas para o projeto são de enorme dificuldade. A primeira versão da obra do Harry era quase impossível para tocar. Depois de diálogos e acordos chegamos a uma boa versão, muito interessante. Jorge Antunes foi sempre muito cooperativo nas dúvidas, facilitando assim o estudo da peça. O resultado do trabalho com os compositores está sendo muito positivo. Assim, quem mais ganha é a música brasileira”.

Obras com características distintas
As duas obras têm características distintas. Jorge Antunes, que é conhecido por obras políticas, optou em tratar a relação entre música e natureza. Crowl, conhecido por abordar a natureza nos seus trabalhos, foi desta vez político. Harry Crowl escreveu “Solilóquio V”. A peça traz como inspiração dois elementos sem qualquer conexão. “O primeiro é o uso das letras CMYK, do padrão gráfico para impressão a cores, para a geração de notas musicais que permeiam toda a obra. O outro é o trágico dia 29 de abril de 2015 no Centro Cívico, em Curitiba, quando professores que protestavam contra uma votação na Assembléia Legislativa foram massacrados pela PM do Estado. Explorando todos os aspectos técnicos e virtuosísticos do oboé, a peça caminha em direção a uma elegia dos acontecimentos desse dia”, explica Harry Crowl, que escreveu mais de 150 obras em sua carreira, sendo esta a segunda para oboé solo.

Jorge Antunes tem um catálogo de cerca de 400 obras escritas e até então nunca tinha composto para oboé solo. “Na obra resolvi colocar em cena o ritual sempre hermético e fascinante de um solista no palco. A palavra ‘hautbec’, que em primeira leitura faz alusão ao hautbois (oboé, em Francês). O ritual pretende penetrar nos mistérios da interseção entre Natureza e Cultura. Assim, o desenvolvimento da série atonal de seis sons, seguido do uso de variações da série harmônica, acaba nos levando à harmonia das esferas e ao quasi-tonal”, afirma o compositor. .

Ricardo Rodrigues
O oboista Ricardo Rodrigues nasceu em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, e recebeu suas primeiras lições de música de José Cocarelli. A bolsa DAAD, concedida pelo Governo da Alemanha lhe permitiu continuar os seus estudos com Ingo Goritzki, Heinz Holliger, Georg Meerwein e na masterclass de Jochen Müller-Brincken. Atuou como primeiro oboista da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e integrou o Quinteto Villa-lobos. Especialista em música contemporânea, Ricardo se apresentou e trabalhou com vários compositores brasileiros, notadamente Jocy de Oliveira. Participou das óperas “Liturgia do Espaço”, “As Malibrans” , “Solo” e “Berio Sem Censura”. Com Jocy de Oliveira, Ricardo fez também música de câmara e estreou as obras “Interlunio V”, “Projeto Soif”, “Solaris”, “Palmyra” e “Raga”.

É professor de oboé na Escola Superior de Música Hanns Eisler de Berlim desde 1994. Possui dois CDs autorais: “Ricardo Rodrigues Oboé”, com obras de compositores da Escola, e “The Oboe in Brazilian Music”, inteiramente dedicado a compositores brasileiros do século XX.
         
        Harry Crowl e Jorge Antunes 
    Harry Crowl nasceu em Belo Horizonte e está radicado em Curitiba desde 1994. Compositor, musicólogo e professor, estudou música, letras e semiótica no Brasil. Nos EUA, estudou composição na Juilliard School of Music. Com um catálogo de 150 obras até o momento, constando de todos os gêneros instrumentais e vocais, incluindo música para cinema e teatro, sua música tem sido executada e transmitida em programas de rádio freqüentemente, tanto no Brasil quanto em aproximadamente 25 países de todos os continentes.

Jorge Antunes ingressou na Escola Nacional de Música da Universidade do Brasil em 1960, onde se formou em violino, composição e regência. Em 1961, se destacou como precursor da música eletrônica no Brasil. É formado em Física pela Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi) e em centros importantes de música como o Instituto Torcuato Di Tella de Buenos Aires, o Instituto de Sonologia da Univesidade de Utrecht,  e o “Groupe de Recherches Musicales da l'ORTF.  É Doutor em Estética Musical pela Sorbonne, de Paris. Em 1973, ingressou no quadro docente da Universidade de Brasília, onde lecionou até março de 2011. Tem vários CDs e livros publicados. É membro da Academia Brasileira de Música e presidente da Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica. Seu catálogo conta com mais de 400 obras, escritas para todos os tipos de formação, entre as quais óperas, música eletroacústica, câmera, orquestra,.

A apresentação de Ricardo Rodrigues na Série Solo Música tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal, e é uma realização de Alvaro Collaço Produções com produção local de Tatiana Carvalhedo Produções.

Programação Solo Música 2015
•           21 de setembro- Cláudio Cruz (violino)
•           19 de outubro- Victor Gama (instrumentos novos: Acrux, Dino e Toha)
•           16 de novembro- Arja Kastinen (kantele)
•           14 de dezembro- Clarice Assad (piano e voz)


SERVIÇO

Série Solo Música – Ricardo Rodrigues (oboé)
Data: 17 de agosto de 2015
Local: Teatro da Caixa (SBS quadra 04- lotes ¾)
Horário: 20h
Ingressos: R$ 10,00 (a inteira)
Informações: (61) 3206-6456 / 3206-9448
Classificação indicativa: 12 anos

==> Foto: Lis Ribeirete

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