O Brasil é o país que possui a maior reserva de água potável do planeta, com cerca de 12% das reservas mundiais. Mas essa aparente abundância faz com que o seu uso, no Brasil, seja realizado de forma indiscriminada.
Enquanto
a ONU recomenda que a utilização diária por habitante seja de 110
litros por dia, no Brasil, a média chega a 166,3 litros/pessoa. Algo
bastante preocupante. Alguns estados, como o Rio de Janeiro, chegam a
absurdos 253 litros diários por habitante.
Esse
uso excessivo, o aumento do poder aquisitivo médio do brasileiro a cada
ano (quanto maior o poder de compra, maior o consumo de água), o
desmatamento acelerado, a ocupação das áreas de mananciais, a
intensificação da emissão de gases estufa, erosão provocada pelo manejo
inadequado do solo, assim como a sua impermeabilização contribuem para o
esgotamento desse recurso vital.
Mas
podemos dizer que estamos vivendo hoje uma crise hídrica? Talvez, pois
ainda estamos gastando muito mais água do que o recomendado por
organismos internacionais. Mas, talvez, o termo mais adequado seria
“crise de abastecimento”. E por quê? Pois os índices pluviométricos ao
longo do ano de 2014 foram abaixo das médias históricas (1216,8 mm),
mas, mesmo assim, muito superiores aos de Los Angeles (360 mm) e do
deserto de Negev (30 a 300 mm anuais), em Israel. E nessas regiões há
falta de água? Não, pois há um planejamento adequado às necessidades
locais. E em Negev a água é utilizada principalmente para a agricultura,
atividade que mais gasta água no mundo.
A
falta de obras para a preservação de água, de estações de tratamento
(ETAs), de projetos para a redução das perdas por vazamentos, além da
abertura do capital da Sabesp (fornecedora de água para a capital
paulista) obrigando a empresa a repassar os seus lucros para os
acionistas, dentre tantas outras questões é que fazem do governo
estadual um dos principais responsáveis pela crise.
Mesmo
que o país possua riquezas no seu subsolo, como o aquífero Guarani, o
SAGA (Sistema Aquífero Grande Amazônia, o maior do planeta), o rio Hamza
(rio subterrâneo na região Amazônica, com cerca de 400 km de largura),
não podemos contar com esses reservatórios para suprir a falta de
planejamento do sudeste, pois eles fazem parte do equilíbrio hídrico
local. O seu uso poderia trazer graves consequências para o futuro.
A
situação é bastante grave, pois muitas vidas podem estar (e já estão)
em risco por esse problema. E cabe aos planejadores, formadores de
opinião e também à juventude tomar medidas na mudança de cultura da
utilização da água de forma responsável, além de muitos dos atuais
estudantes serem potenciais universitários, que podem atuar de forma
direta nas discussões e na tomada de decisões que podem reverter essa
situação.
Fábio Kazama - Geógrafo e professor do Cursinho da Poli de São Paulo
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