Viagem de avião: como transportar animais

Um “integrante da família” transportado em lugar escuro, apertado e longe das vistas do dono. Essa ideia de liberar na hora do check-in o querido cãozinho ou gatinho para a viagem de avião ainda gera ansiedade e receios. Qual a caixa de transporte adequada? Precisa de alguma medicação? Ele pode morrer? Ele vai fugir da caixa? O fato é que o sistema aéreo brasileiro para transporte de animais é organizado de forma que as companhias são obrigadas a seguir o padrão exigido pela Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA). Cabe ao proprietário escolher qual companhia aérea se adapta melhor às necessidades dele e do animal. 

O que exigir da companhia aérea 

Companhias permitem que o dono leve o animal dentro da cabine de passageiros, desde que o peso e as dimensões dele sejam compatíveis com o modelo da aeronave. Isso porque a caixa de transporte ou a bolsa em que o animal está acomodado precisa ser encaixada na parte debaixo da poltrona localizada à frente da pessoa.

Caso as medidas do animal ultrapassem as indicadas pela companhia, mesmo que o peso esteja dentro dos limites, a veterinária Juliana Martins aconselha que o animal seja transportado no compartimento de carga das aeronaves. Isso porque, se o animal fica muito apertado, além de ficar desconfortável, o aparelho locomotor desse animal pode ser prejudicado por ficar flexionado e com movimentos restringidos durante a viagem (até mesmo em vôos de curta duração), explica.

O local destinado à acomodação no compartimento de carga não é o mesmo destinado às bagagens. Geralmente é localizado à baixo da cabine do piloto e possui a mesma pressão e temperatura que a cabine de passageiros. Assim, o animal viaja com o mesmo conforto do dono. 

Como deve ser a caixa de transporte 

A escolha da caixa ou bolsa que acomodará o animal durante a viagem deve ser feita de acordo com o peso e medidas do animal, aconselha a veterinária Francielle Kuchminski. As caixas são classificadas em rígidas e soft (como são chamadas as caixas feitas com tecido e arame).

Para os cães ou gatos que viajarão no cabine de passageiros, a escolha entre rígida ou ‘soft” deve ser feita conforme a preferência do dono; mas para os animais que viajarão no compartimento de carga da aeronave, as caixas devem ser exclusivamente rígidas, por unanimidade das companhias aéreas brasileiras.

As caixas rígidas devem ser escolhidas com cuidado, segundo as veterinárias Juliana e Francielle. O material deve ser resistente a impactos (preferencialmente plástico duro), a porta deve conter trava de dupla e externa, e a caixa deve ser parafusada nos quatro cantos ou conter presilhas resistentes que resistam o peso do animal.

Recomenda-se que o animal esteja presente no dia da aquisição da caixa de modo que o dono possa visualizá-lo dentro dela. O animal deve conseguir ficar em pé, deitar, se movimentar e fazer giros em torno de si (girar 360º), complementa Francielle.

Para uma margem de segurança maior, a veterinária Juliana Martins recomenda que além da trava da caixa, seja adicionado um reforço à porta como lacres de bagagens fornecidos pelas companhias, dentre outras opções. Mas antes o dono deve estar seguro de que a empresa aérea permite essa intervenção.

No dia da viagem a caixa deve estar identificada com os dados do proprietário (nome, telefone e localizador do vôo) e os dados do animal (nome, raça), além do endereço de origem e destino – conforme as regras gerais seguidas pelas empresas aéreas. 

Como preparar o animal para a viagem 

Não basta que apenas o proprietário se programe e se prepare pra viagem. O animal de estimação deve ser acostumado à ideia, principalmente se irá embarcar no compartimento de cargas do avião.

Para que o preparo seja adequado, as veterinárias Juliana Martins e Francielle Kuschminsk dão as seguintes dicas: 

Identificação: Providencie uma coleira de identificação para o animal e ensine-o a usar a novidade. A coleira deve conter o nome e telefone do dono e o nome do animal. 

Acostumando o animal à caixa de transporte: Com antecedência mínima de 15 dias, deixe a caixa com a porta aberta em um local que seu cãozinho ou gatinho goste de ficar. Veja se ele entra espontaneamente. Se sim, parabenize-o e dê o incentivo que você costuma dar. Se não, coloque um brinquedo ou petisco (que ele goste) dentro da caixa e quando ele entrar pra pegar faça festa e dê o incentivo costumeiro. 

Fazendo da caixa de transporte o lugar seguro do animal: Quando o animal acostumar com a caixa, coloque dentro dela o colchão, almofada ou paninho que ele está acostumado a dormir e incentive-o a dormir ali. Não associe a caixa com emoções negativas, de maneira que, quando ele levar uma bronca do dono ou tiver medo de alguma coisa corra pra dentro da caixa e se sinta protegido. “Se o animal se sente seguro ele não vai se machucar, nem querer fugir da caixa. Ele vai entender que ali é o lugar do aconchego, uma canto que ele pode se aninhar”, diz Francielle. 

Para Juliana, o animal precisa se adaptar a caixa com antecedência, pois “um animal que nunca entrou na caixa pode ficar desesperado, o que pode levar a um transtorno de comportamento como ansiedade, estresse…” 

Associando a caixa de transporte ao movimento: Saia de carro para passear com o animal dentro da caixa (devidamente afixada ao cinto de segurança). Na primeira saída, faça um trajeto curto. Vá aumentando o trajeto ao longo dos dias até que ele aprenda que dentro da caixa ele sente movimento ao mesmo tempo que passeia com o dono. 

Tempo de permanência na caixa de transporte: É importante lembrar que além do tempo do vôo, o animal precisará permanecer na caixa desde o check-in até o embarque e depois durante a viagem. As companhias aconselham que os donos cheguem ao aeroporto com duas horas de antecedência ao vôo, por isso é importante acostumar o animal a permanecer por longos períodos na caixa. 

Para isso, coloque seu animal por um minuto dentro da caixa com a porta fechada, depois cinco, dez minutos até que ele consiga permanecer por uma hora ou mais. Sempre que ele sair o parabenize do jeito que ele está acostumado. Assim, quando ele precisar ficar mais de uma hora na caixa, no momento da viagem, entenderá que esse é mais um treino e que logo ele verá o dono. 

O dia da viagem 

A ansiedade do dono pode ser passada para o animal logo, aconselham os veterinários. As emoções devem ser controladas no dia da viagem de maneira que o animal não se sinta intimidado e siga tranquilo de casa até o destino final.

Recomenda-se jejum hídrico e alimentício. A comida deve ser dada de seis a oito horas antes da viagem e a água deve ser restringida quando faltar duas horas para o embarque, segundo Juliana. A veterinária explica que a razão do jejum é evitar enjôo e vômito durante a viagem – prevenindo a desidratação do animal. 

Ao desembarcar no aeroporto de destino, o dono pode oferecer ao animal água em pequenas quantidades e quando alcançar o destino final pode oferecer a comida na quantidade que o animal já está acostumado a ingerir (após o animal ter reconhecido o novo território).

O dono deve reservar com antecedência a vaga do animal na aeronave, não apenas no dia da viagem pois o número de animais por vôo é restrito (de acordo com a empresa e o modelo da aeronave). 

Animais braquicefálicos (focinho curto) 

De acordo com as normas da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), as empresas aéreas restringem o transporte dessa classe de animais no compartimento de carga. São eles: Cães como Buldogue Americano, Chow Chow, Pug, Shih tzu, Lhasa Apso e gatos como Persa, Burmês, Himalaio, dentre outros (cabe ao dono checar a lista de raças braquicfálicas).

A veterinária Juliana Martins explica essa restrição visa o bem-estar do animal já que os animais braquicefálicos têm o canal respiratório mais curto e, o que resulta em dificuldade para respirar. Com o ambiente novo, o estresse da viagem e as diferenças de temperatura e pressão (mesmo na cabine pressurizada), a respiração do animal pode se tornar mais acelerada e dificultosa, levando a distúrbios metabólicos, que podem ocasionar o óbito. Sendo assim, os donos que possuem animais braquicefálicos devem procurar a empresa aérea que oferece maneiras alternativas para fazer o transporte desse animal. 

Sedação 

A maior parte das empresas aéreas aconselha que o animal viaje acordado, e algumas até mesmo se recusam a transportar o animal sedado. De acordo com Juliana, essa é uma medida protetora, já que não há ninguém no compartimento de carga para acompanhar o ritmo cardíaco e respiratório do animal, além de outras alterações causadas pela sedação. Acostumar o animal à caixa de transporte é uma das soluções indicadas pela veterinária para que o uso de sedativo não seja necessário e o animal faça uma viagem tranquila. 

Documentação necessária 

A documentação-padrão exigida por todas as companhias brasileiras que transportam cargas vivas é o documento que conste a vacina anti-rábica (contra a raiva) e o atestado sanitário emitido por um médico veterinário que declara que o animal está saudável para viajar.

Segundo a veterinária Francielle Kuchminsk, o animal deve ter todas as vacinas em dia, não só a anti-rábica – já que no Brasil muitas doenças ainda não são controladas. E, além das vacinas, o controle de ectoparasitas (pulga, carrapato, verme) também deve estar em dia, apesar de não haver fiscalização nesse sentido, complementa. 

A veterinária Juliana Martins lembra que em alguns casos será necessária a apresentação da Guia de Trânsito Animal (GTA), que é emitida pelo Ministério da Agricultura. Para saber em quais casos usar esse documento o proprietário deve entrar em contato com a companhia aérea escolhida. 

Vacina anti-rábica 

A vacina anti-rabica deve ter sido administrada há no mínimo 30 dias e com menos de um ano antes do embarque, regra que se aplica à todas as companhias brasileiras, exceto por alguns dias a mais ou a menos na validade. Por isso, a veterinária Francille Kuchminski aconselha que os planos de viagem sejam feitos com antecedência e que o proprietário do animal pesquise as exigências da companhia de escolha. 

Vale ressaltar que vacinas anti-rábicas dadas em campanhas de rua podem não ser aceitas em algumas companhias, isso porque, é exigido que o comprovante dessa vacina discrimine o nome do laboratório, o tipo da vacina e o número do lote utilizado, além da assinatura do veterinário. Alguns desses dados podem ser suprimidos nesse tipo de campanha. 

Preparo financeiro 

Em relação aos gastos, Francielle aconselha que o proprietário tenha uma reserva que permita que as vacinas estejam em dia, possibilite a aquisição de uma boa caixa de transporte – onde, de acordo com a veterinária, não deveria haver economia já que visa a segurança do animal – e cubra as taxas cobradas pela empresa aérea escolhida pelo dono do animal. 

As taxas cobradas podem ser consultadas nos sites, atendimentos online ou por telefone de acordo com o trecho comprado e com a companhia aérea que interessa o proprietário do animal. 

Aline do Valle / Agência de Notícias UniCEUB

==> Foto: creativecommons

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