Se Bia Pudesse Protestar, de Ana Dantas

Se Bia Pudesse Protestar... é o segundo livro infanto-juvenil de Ana Dantas que faz parte da trilogia da gata Bia. A história dessa gata continua sendo contada pela narradora, Vitória, uma adolescente que registra a vida de Bia e toda sua trupe. No primeiro livro, “Se Bia Falasse...” o tema abordado foi adoção. Agora em “Se Bia Pudesse Protestar...” o foco é o amor, usando como pano de fundo a relação entre os seres humanos e os animais.

Depois da confusão armada pela chegada de Bia grávida de seis lindos filhotes, na narrativa, Vitória continua a registrar a vida de Bia e toda sua turma. A trapalhada começa quando a mãe de Vitória traz para casa uma cadelinha de rua chamada Luli, uma cadelinha com olhar cativante. Bia não se faz de rogada e resolve protestar veementemente. Pronto! A desordem está instaurada mais uma vez na casa. Mas mesmo sob os protestos de Bia, Luli vai conquistando seu trono com a mãe de Vitória e com toda a trupe de gatos.

Além disso, Vitória conta como o grupo de gatos, intitulada por ela mesma como “tropa de elite” ou “quadrilha”, liderada por Bia e com apoio total de Luli tramaram contra os indesejáveis namorados e pretendentes a marido da mãe. Até que o papai de Vitória apareceu na jogada e a quadrilha se rendeu aos encantos e paixões do jovem homem, deixando, então, que o belo casal se amasse em paz e, claro, casasse.

Fundamentado em fatos reais, Se Bia Pudesse Protestar... é pura ficção. E, mais do que isso, é a validação de que a convivência pacifica entre gatos e cachorros é uma tangível realidade. Com uma leitura adorável e engraçada, com certeza tocará o coração de todos os leitores pela simplicidade e honestidade que retrata os felinos, e agora os caninos.

Sobre a Autora:
A escritora e roteirista Ana Dantas ama o que faz. Foi professora do curso de Comunicação Social na Universidade Católica do Salvador/BA (1995/1999) e publicou os livros "Teatro Baiano 1990-2000" (2004) e o infanto-juvenil "Se Bia Falasse..." (2013), primeiro livro da trilogia. No cinema/TV, ela escreveu e dirigiu o curta-metragem "Red Shoes" (2010) filmado no set de Western da Universal Studios, na Califórnia, bem como escreveu o telefilme "Caju com Pizza" que será exibido na TV Cultura ainda sem data definida.

Entrevista com a Autora:
11.    Por que escrever para o público juvenil e não para o infantil?
Comercialmente eu poderia dizer que escrever para o público infanto juvenil é um grande filão atualmente na literatura. Contudo, pra mim é mais que isso, torna-se desafiador você escrever para uma faixa etária que já sabe ler, é considerado um leitor critico, é bombardeado o tempo todo pelo encantamento do mundo virtual, mas precisa amadurecer na leitura e na escrita para se tornar um adulto de formação completa. Precisa galgar entrelinhas melhores e mais elaboradas já que expostos na Internet o tempo todo, eles parecem desaprender a ler e a escrever.

22.    O que você quer dizer com isso: desaprender a ler e a escrever?
Se pararmos para pensar o que e como essa moçadinha escreve nos chat da vida, encontraremos a resposta. Os professores levam anos para ensinar a grafia correta, a gramática essencial e em segundos eles destroem esse aprendizado com a ansiedade intrínseca que há neles, apenas navegando nela ou digitando palavras errôneas em suas conversas pelo mundo virtual.

33.    Mas você não acha que com a Internet eles estão lendo mais?
Sim. Acho. Mas também estão lendo muita coisa ruim. E, pior que isso, os pais são os que não se preocupam em monitorar o que os filhos veem ou leem. Não sou contra a Internet, mas sou sempre a favor de uma boa educação literária.

44.    O primeiro livro da trilogia era intitulado “Se Bia Falasse...”, esse segundo chama-se “Se Bia Pudesse Protestar...”. Todas as aventuras de Bia são baseadas em fatos reais?
Sim e não (risos). Bia é uma personagem real. Ela existe e é simplesmente linda. Eu sou encantada e apaixonada por ela e pelos demais personagens dos livros que também existem. Eles são a minha verdadeira inspiração. Contudo, é ao mesmo tempo uma ficção, pois tem muita coisa ali criada. A criação, claro, foi alicerçada em fatos reais, mas não posso dizer que todo o livro é uma biografia. Tem invencionices e tudo mais. Acho que isso faz parte para encantar esse público leitor.

55.    Há possibilidade de a história virar filme?
Sim, sempre teve. Se você reparar, a história vem sendo estruturada para virar um longa-metragem de animação. O primeiro livro da trilogia é mais curto, até em termos de página, do que esse segundo, pois ele representa o primeiro ato da estrutura de um longa-metragem. O segundo livro da trilogia é mais longo, ele está com 70 páginas, porque representa o segundo ato e o terceiro virá mais curto também porque representa o terceiro ato. De um livro ao outro já existe os principais pontos de virada da história com começo, meio e fim. Têm conflitos, verossimilhança e evolução dos personagens, tudo o que um bom longa-metragem pede.

66.    Você já escreveu sobre o teatro baiano, numa pegada mais histórica, por que mudou o foco?
Porque graças a Deus a vida nos possibilita mudanças (risos). Já pensou que enfadonha seria a vida de uma pessoa que frente a obstáculos não muda ou, pior, tendo a chance de sair de sua zona de conforto permanece na mesmice de sempre? Seria um tédio (risos). Contudo, isso não significa dizer que eu não volte a escrever sobre uma ótica mais histórica. Continuo com a mesma vontade, só estou ampliando o meu foco. Não gosto de ser rotulada em nada. Deixem os rótulos para produtos de prateleiras ou garrafas de bebidas! Aliás, e voltando ao assunto, há outro livro sendo idealizado com essa ótica. Eu costumo dizer que a vida é como um filme: o personagem entra de um jeito, passa por inúmeros aprendizados e sai dele completamente mudado.  Se o personagem sair do mesmo jeito que entrou no filme, a audiência muda de canal e, eu não quero que ninguém mude do meu canal (risos).

77.    Seu currículo mostra que teve uma grande carreira como publicitária.
Você que tá dizendo (risos).

88.    Porque e quando decidiu mudar o rumo?
Justamente para sair da zona de conforto e crescer constantemente como ser humano em todos os aspectos que a vida nos proporciona. Eu tenho essa tendência, mas só fui descobrir isso quando a vida me pôs um dos inúmeros obstáculos que tem nela. Eu odiava fazer prospecção de clientes quando era publicitária. Por outro lado, eu amo ser desafiada. Certa vez quando trabalhava numa agencia de incentivos, a cúpula diretiva fez uma mudança em que todos os atendimentos além de atender os clientes da casa, teriam que prospectar. Houve uma resistência no primeiro momento de todos, inclusive minha. Ficamos trancafiados num hotel um final de semana inteiro fazendo um curso e, eu tinha dois caminhos a seguir: ou eu ficava na turma dos “reclamões” ou aproveita o curso de corpo e alma. Optei pelo segundo caminho e sai de lá uma vendedora consultiva exemplar (risos). Acho que mudar faz parte do amadurecimento de todos, alguns se renovam radicalmente e outros sutilmente, mas todos se transformam. Então mudar o rumo não é problema pra mim, o problema é quando o que você faz deixa de ser desafiador e foi exatamente isso que aconteceu com minha carreira publicitária. Chegou um momento que eu achei tudo enfadonho, com cara de igual e sem grandes desafios. Resolvi mudar, pois na época pensei assim: bem, se Roberto Marinho iniciou a Globo com mais de 60 anos, porque eu não posso revolucionar os rumos da minha vida com 40 anos? O inicio de tudo é sempre bom. Tem mais lados positivos do que negativo. Lógico que dá um frio na barriga, mas daí você percebe que bom que o frio na barriga acontece, pois significa que ainda tá vivo, tem lenha pra queimar. Todo inicio têm novidades, você tá a fim de fazer, mas precisa ter foco e persistência, senão você nunca consegue finalizar ou concluir o que se propôs. O erro é você pular de galho em galho sem solidificar nada do que está fazendo.

99.    Que influência Bia teve nesse processo?
No processo da mudança especificamente nenhum. Mas acho que ela é um agente catalisador e que me fortalece nessa caminhada.

110. Os ensinamentos de Bia podem servir para mães de primeira viagem?
Depende do olhar do leitor. Eu recebo muitos e-mails de gente que diz que se identificou com a história, pois eu soube traduzir perfeitamente as nuances dos felinos já que muitos deles são donos de gatos. Mas também recebo depoimentos de leitores que dizem assim: “olha, eu não gostava de gatos, mas depois que eu li Bia eu tive vontade de ter muitos ou eu adotei um gato”. Cada vez que ouço isso, eu penso com meus botões: pronto, cumpri o meu objetivo, toquei no coração de mais uma pessoa. E eu acho que no meu intimo é isso que me impulsiona a escrever a aventura dessa gata tão carismática que agora vem protestando com a chegada da cadela ruiva, Luli (pensativa). Mas, respondendo a sua pergunta, sim, acho que a leitura de Bia dá muitas dicas para as mães de primeira viagem.

111. A narradora de sua história, a Vitória, ela é por vezes muito critica com as atitudes da mãe. Você não acha que ressaltar esse caráter falho da personagem impulsiona a atitude dos seus leitores nesse sentido?
A Vitória é uma personagem verossímil. Tem qualidades e defeitos. Se eu perguntar a qualquer um: crianças, adultos, velhos, jovens, pobres, ricos, índios, negros ou brancos se alguém algum dia já fez alguma critica para seus pais, eu vou ter como uma resposta: “sim, em algum momento de minha vida, eu já critiquei meus pais, mesmo que só em pensamentos”. Ninguém é completamente santo ou completamente mal e os jovens precisam entender que essa é a dinâmica da vida, eles só têm que decidir pelo melhor caminho e, daí, o melhor caminho pra você pode não ser o melhor caminho pra mim ou vice-versa. Mas o melhor nisso tudo é que eles aprendem rindo, pois é através da critica dessa personagem e do jeito que ela faz a critica que torna a história de Bia engraçada.

112. O que o leitor pode esperar de “Se Bia Pudesse Protestar”?
Amor. O tema desse segundo livro é envolto em puro e verdadeiro amor. Amor pelos animais, amor entre os humanos, amor dos humanos para com os animais e vice-versa, amor no aceitar as diferenças em prol de se constituir uma família feliz e por ai se vai. E com tal essência, além do entretenimento da aventura, tem-se um questionamento que eu faço o tempo todo e agora externo isso nesse livro (respirando fundo). Porque as pessoas em pleno ano de 2014 ainda compram os animais, quando não fazem pior: matam, se o mínimo que deveriam ter por eles é apenas respeito e principalmente amor? Porque ainda insistimos em alimentar esse tipo de indústria? É aqui que questiono e convoco o leitor a mudar de postura. E é por isso que escrever para esse tipo de leitor é desafiante, pois eu sei que se ele comprar minha ideia, ele consequentemente terá mais força de convencer aos pais e pessoas do seu convívio, convidando-os para mudará o mundo pra melhor. E, pasme, ele fará a diferença em todo o conjunto da obra. Não se enganem eles são bastante influentes, principalmente na família (risos).

==> Foto: Divulgação

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