Morro como um país é um trabalho cênico sobre diferentes formas de
violência institucional. O trabalho, inspirado no teatro documentário, em
Brecht e em técnicas do diretor russo Meierhold, utiliza depoimentos, análises
históricas, canções e imagens para investigar o conceito de “estado de
exceção”, a violação aos direitos humanos, o papel da arte nas sociedades
atuais e as consequências da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985) na
vida do país. O tema é especialmente atual considerando as recentes
mobilizações de rua e o fato de que em 2014 a Comissão Nacional da Verdade
finalizará seus trabalhos e o golpe de Estado no Brasil completará 50 anos.
O
espetáculo utiliza, além de depoimentos de ex-presos políticos das ditaduras
civil-militares na América Latina, uma ampla documentação sobre os temas. Faz
parte do roteiro trechos da novela Morro como um país, que dá nome ao
projeto, do autor grego Dimitris Dimitriadis (nascido em 1944). O texto, em que
relato e poesia se entrelaçam, trata da ditadura dos coronéis (1967-1974), um
dos períodos mais violentos e repressivos da história grega. Embora não escrito
para a cena, Morro como um país tem sido montado com frequência em
importantes teatros ao redor do mundo.
Na
presente montagem, o material literário de Dimitriadis serve como ponto de
partida para a investigação de diferentes formas de opressão e exploração, em
diferentes épocas e lugares. A encenação procura escapar, como escreveu Roland
Barthes, da "impostura dos bons sentimentos". No lugar do jogo
psicológico e da descrição de violências, o trabalho procura revelar processos
sociais da vida nacional e latino-americana. A reunião de material documental e
poético-ficcional evita a dimensão meramente lírica e nostálgica que o tema
pode induzir.
O desenho de luz, executado pela fotógrafa e diretora de cinema Heloísa Passos, explora efeitos singulares de iluminação, buscando nas luzes frias a contramão de expectativas dramáticas. As escolhas musicais provém de origens muito diversas, incluindo música cigana, rock, MPB, composições do período da ditadura brasileira e cânones (de J. S. Bach a Steve Reich), que reforçam um dos conceitos do trabalho, indicando a “repetição de padrões”.
As músicas e canções cumprem um papel essencial na construção dramatúrgica dos trabalhos da Companhia, assumindo a função de personagens. O espaço cênico evita a separação rigorosa entre palco e plateia. A cenografia e os adereços, de Julio Dojcsar, transitam entre a descrição e a sugestão de ambientes, construindo um espaço indutor de ficção sem o recurso à ilusão cênica convencional. A direção geral e o roteiro são de Fernando Kinas.
Fernanda Azevedo - Atriz, produtora e arte educadora e
integrante da Kiwi Companhia de Teatro/Cooperativa Paulista de Teatro. Foi
sócia da Cultura Carioca Ltda., vendedora dos prêmios de Roteiro da RioFilmes
em 2003 – curta-metragem “Flores da Estrada”, do projeto EnCena da prefeitura
do Rio de Janeiro e dos prêmios Shell de melhor iluminação e cenário de 2003
com a peça “Tereza, a Santa Descalça”. Como apresentadora, trabalhou de 2005 a
2007 em diversos programas educativos na MultiRio – Empresa Municipal
Multimeios do Rio de Janeiro; de 2003 a 2005, no Canal Net TV; alé de programas
institucionais para a Fundação Fiocurz e Sesc/Senac, entre outros. Fez parte da
diretoria da Cooperativa Paulista de Teatro – gestão 2011/2013.
Fernando Kinas - Doutor em Artes Cênicas pela USP e
Sorbonne Nouvelle. Dirigiu mais de 16 espetáculos teatrais entre 1996 e 2013,
de textos adaptados de dramaturgos e escritores brasileiros e europeus, em
especial, como de Shakespeare, René Descartes, Bücner, Augusto dos Anjos em
“Tudo o que você sabe está errado” (2000/2001); Franz Kafka em “Um artista da
fome” (1988); Luiz Vidal Giorgi em “O muro de Berlim nunca existiu” (2003);
Elizabeth Bishop, Hilda Hilst, Pier Paolo Pasolini e dele mesmo em “Titânio”
(2004); Nelson Rodrigues “Valsa nº 6” (1996); e de Heiner Müller e Karl Marx
“Mauser/manifesto” (2002). Dedicou-se também à direção cinematográfica, entre
os anos 1997 e 2003, de sete filmes, dois deles selecionados para o Festival de
Rotterdam (Holanda). Trabalhos que lhe renderam inúmeros prêmios nas mais
variadas categorias, como de Melhor Espetáculo, Melhor Direção, Melhor Roteiro,
Melhor Documentário, Filme Nacional, Curta Metragem, Melhor Filme e de Especial
do Júri.
FICHA TÉCNICA: Roteiro e direção: Fernando Kinas; Direção de produção e assistência de direção: Luiz Nunes; Elenco: Fernanda Azevedo; Cenário: Júlio Dojcsar; Iluminação: Heloísa Passos; Pesquisa e música original: Eduardo Contrera e Fernando Kinas.
São parceiros deste projeto diversas organizações e movimentos, como o
Coletivo Merlino, a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos,
o Comitê e a Articulação Memória Verdade e Justiça de São Paulo, a Comissão
Estadual da Verdade de São Paulo, a Defensoria Publica do Estado de São Paulo,
o Grupo Tortura Nunca Mais, o Movimento de Maio e a Frente Esculacho Popular.
SERVIÇO:
Espetáculo: Morro como um país
Local: Teatro I do CCBB Brasília (SCES Trecho 2 –
Brasília/DF)
Dias e horários: de 6 a 8 de junho. Sexta a sábado,
às 21h, e domingo, às 20h.
Indicação: 16 anos. Duração:
95 minutos.
Lotação: 324 lugares. Ingressos: Grátis
Os ingressos serão distribuídos a partir de uma
hora de antecedência do início da sessão na bilheteria do CCBB.
==> Foto: Fernando Kinas
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