Matias Mesquita “Impermanência”
5 a 25 de abril, 2014
No
próximo sábado, dia 5 de abril, o artista visual Matias Mesquita
colocará em exibição registros de nuvens representadas sobre placas de
cimento. A dualidade dos contrastes, como uma primeira nota, confere à
obra um equilíbrio tênue entre a materialidade e a efemeridade da
existência. Esta é a primeira mostra individual do artista carioca em
Brasília, em cartaz até 25 de abril, na galeria principal do Elefante
Centro Cultural.
Rita Almeida “Partilha do verso e do vazio”
5 a 25 de abril, 2014
Em
sua primeira mostra individual, a artista visual Rita Almeida expõe um
trabalho de debruçamento íntimo sobre a escrita. Tendo como principal
referência seu acervo de cartas e diários, a artista apresenta obra nas
quais discorre sobre sentimentos como ausência, desejo de fuga,
clandestinidade e solidão. Na mostra em cartaz de 5 a 25 de abril no
Elefante Centro Cultural, Rita ocupa duas salas de exposição do espaço,
com a série de colagens “Postais para C.”, vídeos, fotografias e objetos
e uma instalação site-specific.
Impermanência
Estacionar
o turbilhão voraz que nos arrebata diariamente e voltarmo-nos à
contemplação, um mínimo instante que seja, não encontra mais seu espaço
na ordem do dia. A pausa não surte mais efeito. Mas é neste singelo ato
que inicia o trabalho artístico desenvolvido por Matias Mesquita para a
exposição.
Ao olhar para o céu,
observando as nuvens em sua magnitude, pode-se contemplar a ação
impiedosa do tempo, que desliza, empurra, modela, ergue e desconstrói,
num movimento contínuo, ininterrupto. Cada segundo é único e jamais se
repetirá.
“Pintar uma nuvem é tentar
capturar essa fração de tempo que se esvai, fugidio, num esforço em vão
de eternizar o instante. A ilusão de materializar a sensação de
permanência nos cega. Assim, quanto mais verossímil for a pintura, mais
inebriante a ilusão se torna e mais cego ficamos”, diz o artista.
No trabalho de Matias, a
nuvem é retratada sobre o seu oposto, uma placa sólida de cimento,
desenhada, construída e moldada pelo artista. Uma primeira leitura de
seu trabalho nos passa a sensação de que a obra encontra seu equilíbrio
na dualidade dos contrastes: o processo rudimentar, que prima pela força
bruta, na modelagem e construção das placas, faz um contraponto com a
delicadeza da pincelada, com o uso sensível de luzes e matizes
retratadas para alcançar harmonia na composição da imagem ou da
representação da nuvem.
Se por um lado a nuvem
remete ao efêmero, em eterna transformação, sobre o qual não temos
controle ou posse, por outro, essa nuvem é pintada sobre uma placa de
concreto, que é uma referência de solidez, de peso e de estabilidade.
“Temos a impressão de que o
concreto, matéria em estado bruto, cumpre sua função apenas como
suporte para a pintura, no entanto, a placa transcende esse simples
conceito: ela se dobra ao espaço e ganha vida. Gere a ordem como
necessidade de rigidez”, diz Matias. Na tentativa de permanecer
imutável, a placa de concreto luta contra o movimento e nesse embate se
rompe. “Apesar de sua natureza passar ilusão de durabilidade e solidez,
na verdade ela é frágil, delicada e apresenta fissuras”, complementa o
artista.
Nas obras de Matias Mesquita, imagem e matéria, que supostamente
seriam opostos, sustentando-se num sensível equilibrio simbiótico, agora
fundem-se. Esvaídos de sentido pleno, tornam-se sepulcros da
permanência, numa distopia da ilusão. Esta é a primeira mostra
individual do artista carioca em Brasília, cidade em que reside desde
2013.
Partilha do verso e do vazio
Em sua primeira
mostra individual, Rita Almeida expõe um trabalho de debruçamento sobre a
escrita íntima. Tendo como principal referência seu acervo de cartas e
diários pessoais, a artista discorre sobre sentimentos como ausência,
desejo de fuga, clandestinidade e solidão.
O ato de escrever permanece e se define como cerne do processo
criativo. Mas, ainda que exposto, o texto se mantém velado, por sua
natureza fragmentária e por sua oscilação entre o real e o ficcional.
“Escrevo para dar lugar à outra que tenho entranhada e sem licença”, diz
Rita.
Se a escrita da artista é construída a partir da costura de
fragmentos e de breves anotações, sua principal linguagem plástica, a
colagem, outra técnica utilizada pela artista e apresentada pela a
série Postais para C. (2013), corrobora o processo. “Nos diários,
o uso aleatório do espaço e a desordem dos textos (por vezes
interminados) construíram, com o passar do tempo e com a falha da
memória, um conteúdo praticamente indecifrável. Nas releituras que fiz
desses cadernos, já não sabia identificar autorias, contextos,
motivações. Tudo, apesar da legibilidade e razoável resolução sintática,
me parecia um emaranhado gráfico sem grande distinção narrativa, um
conjunto textual cuja semântica estava sujeita a novas montagens
mentais. Isto me fez pensar na ressignificação a partir do deslocamento e
do novo contexto, o que, no pensamento em artes plásticas, me remeteu
ao recorte e à colagem”.
A exposição também é integrada por uma instalação site specific na qual Rita Almeida cria um lugar de vivência e de produção de textos. A obra O quarto (2014)
que reúne intervenções de detalhe, obras delicadas, vídeo e objetos
colecionados, é um espaço para imersão no processo criativo da artista
que, estimulada pela ideia de vasculhamento, entende essa partilha como
possível construção de uma cumplicidade com o espectador. “Produzo obras
e escrevo fragmentos para que os outros eventualmente leiam, vasculhem.
Tenho sonhos de clandestinidade. Talvez porque eu queira saber como é
não ser eu mesma", diz Rita.
As mostras de Matias Mesquita e de Rita Almeida estarão em cartaz no
Elefante Centro Cultural, de 5 a 25 de abril. A entrada é gratuita e a
visitação é de terça a sexta, das 14h às 18h30 e aos sábados, das 10h às
18h30. Nos sábados dia 12 e 19 de abril, os artistas receberão o
público para uma conversa sobre seus trabalhos e processos criativos,
das 17h30 às 18h30.
PROGRAMAÇÃO
Abertura das exposições: sábado, 5 de abril, das 15h às 22h.
Conversa com o artista Matias Mesquita: sábado, 12 de abril, das 17h30 às 18h30
Conversa com a artista Rita Almeida: sábado, 19 de abril, das 17h30 às 18h30
ELEFANTE CENTRO CULTURAL
W3 norte, 706 comercial, Bloco C, Loja 45 (atrás das Óticas Brasilienses)
Asa Norte, Brasília - DF
Fones: (61) 3541-3146 / 9369-5002 | www.elefantecentrocultural.com
Horário de visitação: terça a sexta, das 14h às 18h | sábados das 10h às 18h30
Classificação indicativa: livre
Entrada gratuita
SOBRE O ELEFANTE CENTRO CULTURAL
O
Elefante é um espaço autônomo que reúne, em um único local, ateliês,
residências artísticas, espaços expositivos, cursos livres (teóricos e
práticos), grupos de estudo e de pensamento crítico e projetos de
publicações eventuais.
Idealizado por Flavia
Gimenes (projeto Brasília Contemporânea, 2010-2013) e pelo artista
visual Matias Mesquita em junho de 2013, o Elefante tem como objetivo a
produção, a divulgação e promoção e a formação em arte contemporânea.
Desde sua fundação, o Elefante vem priorizando a produção experimental
de jovens artistas e vem movimentando as discussões e a cena de arte
contemporânea de Brasília.
Para o ano de 2014, o centro cultural desenvolveu um programa de
exposições que inclui ateliês abertos e residência de artistas, para
estimular o envolvimento da sociedade no processo criativo dos artistas
que lá produzem, e uma programação de cursos livres que inaugura dia 12
de abril, com palestra da curadora Graça Ramos sobre a escultora
brasileira Maria Martins e seu relacionamento e interferências na
produção de Marcel Duchamp.
Um oásis no beco da 706 norte, comercial
O
Elefante ocupa um imóvel de aproximadamente 200m2, com três pavimentos,
na área de oficinas da Asa Norte. Localizado em um beco atrás das
Óticas Brasilienses, na 706 comercial, o imóvel surpreende quem o visita
pela primeira vez por sua luminosidade, arquitetura interna inusitada,
salas de exposição, espaço de ateliês e espaços de convivência, que
incluem uma biblioteca com área para café e um chuveiro a céu aberto.
A escolha do endereço, nada
óbvio, por tratar-se de um beco atrás das lojas da W3 norte, situado em
meio às oficinas repletas de mecânicos e suas ferramentas jogadas pela
rua, remete a um imaginário decadente das quadras 700 da Asa Norte. Mas
só à primeira vista. “Queríamos um local amplo e com um valor de aluguel
que pudéssemos arcar”, dizem Flavia e Matias. “No início resisti à
ideia do beco da 706 norte, mas então lembrei que muitos bairros hoje
considerados ‘da moda’, como o Marais em Paris, o SoHo em Nova York e
hoje o distrito 798 de Pequim, abrigavam ateliês de artistas e galerias
de arte em seu período decadente, pela oferta de espaços amplos e
alugueis mais em conta. Com o Elefante não é diferente. Hoje percebo que
nossa escolha pelo beco foi acertada, pois temos o desejo de movimentar
a cena de arte contemporânea de Brasília, e essa movimentação começa
pelo local em que o Elefante se encontra”, complementa Flavia.
==> Foto: Divulgaçao
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