Historiadora lança narrativa sobre a trajetória da profissão médica no Brasil

A medicina foi pauta recorrente na mídia ao longo deste ano, como as iniciativas para a regulamentação de algumas áreas com o “ato médico” e o programa do governo federal “Mais Médicos”, que causou inúmeras polêmicas. Para enriquecer o debate nesse contexto complexo, a historiadora Elizabeth Rochadel Torresini lança Construção do campo médico (1891-1932): liberdade e regularização profissional, pela Editora Medianiz, em que apresenta um panorama histórico da regulamentação do exercício da medicina no Brasil.

Organizado em 12 capítulos, o livro aborda alguns aspectos da história do exercício da medicina, do ponto de vista do ato de ajuda médica ou das práticas destinadas a aliviar a dor e o sofrimento humanos, para entender a construção do campo exclusivo da prática médica como um fato da modernidade. A narrativa aborda desde a experiência de tratar as doenças como manifestações dos espíritos, passando pelos diagnósticos clínicos, até chegar às cirurgias mais avançadas. Visita também os autores que fundamentaram a proposta da medicina em questão, de Hipócrates e Leonardo da Vinci a Andreas Vesalius.

Autora de vários livros sobre a história da medicina na literatura, incluindo análise da obra de Erico Verissimo e do Hospital Moinhos de Vento, Elizabeth Torresini retoma aqui a evolução da medicina no mundo ocidental até o século XX, detendo-se no Brasil, com a intenção de situar historicamente os primeiros cursos de medicina (Salvador e Rio de Janeiro, em 1808; Porto Alegre, 1898) e a legislação produzida desde o século XIX, além de reconstituir o cenário de liberdade do exercício profissional no Rio Grande do Sul, depois da Constituição de 1891. 

Seu foco de análise é a atuação do médico diplomado no contexto do desenvolvimento das práticas médicas dos licenciados, práticos, diplomados no exterior e charlatões. A autora mostra a ampliação dos casos de charlatanismo nas primeiras décadas do século XX e o apoio que os médicos receberam da sociedade civil, como a imprensa, os sindicatos e as associações, na luta para regulamentar a profissão e combater as práticas pseudocientíficas em voga no Rio Grande do Sul. Esse apoio resultou no Decreto 20.931, de 11 de janeiro de 1932, o primeiro “ato médico” brasileiro.

A obra configura-se como uma rica narrativa histórica baseada na ideia de que a medicina moderna, do modo que a compreendeu Michel Foucault, resulta do aperfeiçoamento acadêmico desenvolvido nas escolas médicas, faculdades e institutos. Para a historiadora especializada na área de saúde e professora associada da Universidade Federal de Santa Maria, Beatriz Teixeira Weber, que assina o prefácio, o livro interessa a um amplo público, desde acadêmicos e profissionais da área a cidadãos que queiram desvendar como se deu a construção do campo médico no Brasil. “Muitos outros trabalhos serão inspirados por este”, afirma.

Sobre a autora - Elizabeth W. Rochadel Torresini é professora e historiadora com doutorado em História do Brasil (UFRGS, 2002). Autora de: Editora Globo: uma aventura editorial nos anos 30 e 40 (1999); História de um sucesso literário: Olhai os lírios do campo de Erico Verissimo (2003); Hospital Moinhos de Vento: 75 anos de compromisso com a vida (2003); Unicred Porto Alegre: 15 anos de vivência cooperativa (2005); História e Literatura: ensaios (2007); Vonpar: a marca do desafio (2009); Advocacia na Caixa Econômica Federal: trajetória de 150 anos (2011); Filhas de Santa Maria da Providência: 50 anos de travessia e missão no Brasil (2011). Curadora das exposições: Por amor à vida: 100 anos de Erico Verissimo (2005); Hospital Moinhos de Vento: 80 anos de Porto Alegre (2007); Ponto de Memória: Patrimônio Inventariado e Itinerários Culturais da Lomba do Pinheiro (2010).

Título: Construção do campo médico (1891-1932): liberdade e regulamentação profissional 
Autora: Elizabeth Rochadel Torresini
Número de páginas: 160
Formato: 13,5 x 21 cm
Preço: R$ 32,00
ISBN: 978-85-64713-08-6