O livro Comunidades de Aprendizagem: outra escola é
possível, publicado pela EDUFSCar, de autoria das educadoras Roseli
Rodrigues de Mello, Fabiana Marini Braga e Vanessa Gabassa, foi um dos
vencedores do mais tradicional prêmio literário do país, o Jabuti. Ficou
em segundo lugar, na categoria Educação. Nesta entrevista, as autoras
falam sobre a obra que analisa experiências de comunidades de aprendizagem
no Brasil e na Espanha.
Como surgiu a ideia de elaborar o livro?
A ideia do livro surgiu a partir de estudos e pesquisas realizadas
pelas autoras e pelo Núcleo de pesquisa ao qual nos vinculamos
(NIASE/UFSCar) ao longo de 10 anos de atuação no projeto de Comunidades de
Aprendizagem na cidade de São Carlos. Mais especificamente, o livro aborda
dados de pesquisas de doutoramento e pós-doutoramento que não se
restringem apenas ao contexto brasileiro, mas também ao contexto espanhol,
que é o local de origem das Comunidades de Aprendizagem. Nossas pesquisas
procuraram evidenciar a potencialidade das Comunidades de Aprendizagem
para o contexto brasileiro e, nesse sentido, o livro tinha por objetivo
divulgar esses resultados, dialogando com gestores e professores das
escolas públicas brasileiras sobre esse modelo de transformação das
práticas escolares.
No Brasil, é costume dizer que os professores costumam sofrer
muito para exercer a profissão. Qual foi o principal encanto encontrado na
área de ensino para que vocês seguissem a carreira
educacional?
O fato de desde a graduação termos encontrado professores/as e
pesquisadores/as que estimulassem e fomentassem o estudo de teorias não
pessimistas, que mostram caminhos efetivos para a transformação da escola
e da educação, bem como a possibilidade de sempre poder exercer a reflexão
dialogada. Nesse sentido, as elaborações de Paulo Freire tiveram bastante
impacto em nossa escolha, por se tratar de um educador brasileiro que
vislumbrou as possibilidades da escola, dando destaque à sua função
social. Ao longo de nossa formação aprendemos que a escola é instituição
fundamental na sociedade, responsável pela formação das novas gerações em
valores e aprendizagem instrumental, e que não se pode abrir mão dela.
Quais são os elementos fundamentais para constituir uma comunidade de aprendizagem?
As Comunidades de Aprendizagem se definem como um modelo educativo comunitário que amplia a possibilidade de diálogo como orientador das ações das pessoas, promovendo a ampliação de espaços participativos e formativos que acolham cada vez mais crianças, jovens, pessoas adultas e seus saberes. Para isto, conhecimento instrumental e participação educativa de familiares e da comunidade de entorno são elementos fundamentais para superação de práticas que têm produzido fracasso escolar. Além disso, já há conhecimento constituído e reconhecido pela comunidade científica internacional, que orientam ações educativas nas escolas, tendo por eixo os dois elementos citados.
De
que maneira - e com quem - as comunidades se iniciam?
As Comunidades de Aprendizagem passam por duas etapas de transformação:
uma referente ao processo de ingresso na proposta e a outra que aborda o
processo de sua consolidação. No total são oito fases, sendo destas, cinco
pertencentes à primeira etapa (sensibilização, tomada de decisão, sonhos,
seleção de prioridades e planejamento) e três à segunda etapa
(investigação, formação e avaliação). A primeira etapa se inicia com uma
formação de 30 horas para o professorado sobre as bases
teórico-metodológicas do projeto, seguida, no caso da tomada de decisão
favorável do professorado, de uma formação semelhante para familiares, em
menor período de tempo. Após a sensibilização, passa-se para a fase dos
sonhos, na qual toda a comunidade educativa sonha com a escola que
gostaria de ter. Dessa fase surgem os elementos constitutivos para a
seleção de prioridades. Uma comissão mista (formada por professorado,
familiares, gestão, voluntários da comunidade etc.) organiza os sonhos a
partir de prioridades básicas do projeto (máxima aprendizagem dos
estudantes e convívio respeitoso na diversidade), para a elaboração de um
plano de ação a curto, médio e longo prazo, que será apresentado em
assembleia geral da comunidade educativa. Vale dizer que nenhum sonho é
deixado de lado. A seleção apenas prioriza aquilo que imediatamente
implicará em maior impacto na melhoria da aprendizagem e na convivência
respeitosa na diversidade. Após a elaboração do plano de ação, inicia-se a
etapa de consolidação do projeto, que tem por objetivo colocar em prática
o planejamento elaborado, implementando as ações sugeridas para melhoria e
as práticas de êxito já evidenciadas em Comunidades de Aprendizagem para
potencializar a aprendizagem (biblioteca tutorada, grupos interativos,
tertúlias dialógicas, formação de familiares etc.). Ao longo do
desenvolvimento do trabalho o projeto ainda prevê avaliar e fomentar
estudos e pesquisas entre todos/as para maior ganho de autonomia do grupo
escolar dentro da proposta escolhida.
Além de uma melhora na qualidade do ensino, seria possível afirmar que a formação de uma comunidade de aprendizagem serve também para fomentar a cidadania?
Certamente. Uma cidadania que tem por base a garantia de direitos a todas as pessoas. Uma cidadania que reconheça e valorize as diferenças, tratando-as com igualdade. Em Comunidades de Aprendizagem isso se torna possível pelo envolvimento de toda uma comunidade em prol do direito à uma educação e uma escola de qualidade para todas as pessoas, por meio de um diálogo intercultural.
Qual a importância de se receber um Prêmio Jabuti, em especial
na área de Educação?
A premiação reforça a avaliação positiva que o projeto Comunidades de
Aprendizagem vem ganhando em nosso país, evidenciando uma qualidade
reconhecida pelo meio acadêmico, em especial na área de Educação. Além
disso, consideramos que o prêmio Jabuti dá maior visibilidade a essa
proposta de transformação da escola para todo o Brasil, o que é uma
conquista muito importante.
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