Nos anos 1970, economistas neoliberais passaram a defender a ideia de que o crescimento e o desenvolvimento dependiam da competitividade do mercado. A partir daí, a maximização da concorrência e a permissão para que os princípios de mercado de trabalho permeassem todos os aspectos da vida moldaram uma nova classe social, emergente e ainda em formação, chamada “precariado”. A Autêntica lança o livro O precariado – A nova classe perigosa, do economista britânico Guy Standing, que apresenta as características desse novo grupo social, de quem faz parte dele e de suas consequências políticas, econômicas e sociais no mundo globalizado. O autor vem ao Brasil para lançar a obra no domingo, dia 22 de setembro, às 18h10 durante o evento Invenções Democráticas Construções da Felicidade, no II Colóquio Internacional NUPSI/USP, em São Paulo. Antes, às 17h30, Guy Standing e o senador Eduardo Suplicy palestram sobre o tema do livro.
O precariado, neologismo que combina o
adjetivo “precário” e o substantivo “proletariado”, é uma classe social
emergente, surgida de uma estrutura global mais fragmentada, composta por
pessoas de grupos socioeconômicos distintos, com diferentes
reivindicações, que vivem sem estabilidade no mercado de trabalho,
trocando de empregos com frequência, sem vínculos empregatícios, sem
segurança, garantias e perspectiva de permanência no emprego.
A partir das práticas adotadas por países
neoliberais a favor da flexibilidade do mercado de trabalho e da
meritocracia, juntamente com a terceira revolução industrial e a
superexploração de populações da Ásia em todo o mundo, criou-se um
“precariado” global. Por consequência dessa nova configuração, surgiram as
primeiras manifestações; em 1º de maio de 2001, quando 5 mil pessoas, em
sua maioria estudantes e jovens ativistas sociais, se reuniram em protesto
no Dia do Trabalho em Milão, Itália, em um movimento chamado de
“EuroMayDay”, que assumiu um caráter global e espalhou-se entre pessoas de
perfis e estilos de vida diferentes. Em 2008, o EuroMayDay de Milão
mostrava cartazes em que se liam as palavras migranti e precarie
(migrantes e precário), e em Berlim, em 2006, jovens e idosos faziam parte
da manifestação. Em 2008, na cidade de Prato, na Itália, uma grande massa
de trabalhadores chineses, que representava aproximadamente um quinto da
população da cidade, explorados pelas empresas de tecidos e vestuário
chinesas fixadas em Prato, provocou uma concorrência desleal e, nesse meio
tempo, demissões em massa nas empresas italianas locais. Meses depois, os
imigrantes chineses foram reprimidos, demonizados e chamados de “o
exército do mal” pelo então primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi.
Essa cidade tornou-se um símbolo de globalização e dos dilemas levantados
pelo crescimento do precariado.
A variedade dos indivíduos que fazem parte
do precariado é bem definida por Guy Standing: “[...] o precariado está
longe de ser homogêneo. O adolescente que entra e sai o tempo inteiro de
um cibercafé enquanto sobrevive de empregos transitórios não é o mesmo que
o migrante que usa a inteligência para sobreviver, estabelecendo
febrilmente uma rede de contatos enquanto se preocupa com a polícia.
Tampouco é semelhante à mãe solteira que se preocupa de onde virá o
dinheiro para os alimentos da próxima semana, ou ao homem de 60 anos que
aceita empregos eventuais para ajudar a pagar as despesas médicas. Mas
todos eles compartilham um sentimento de que seu trabalho é útil (para
viver), oportunista (pegar o que vier) e precário (inseguro)”. De acordo
com o autor, embora não seja possível apresentar números precisos, neste
momento, pelo menos um quarto da população adulta do planeta faz parte do
precariado.
Este livro trata de responder a cinco
questões fundamentais do precariado: O que é essa classe? Por que devemos
nos preocupar com seu crescimento? Por que ela está crescendo? Quem está
ingressando nela? Para onde está nos levando? Esta última questão é
crucial. Para o autor, há um perigo de que, a menos que o precariado seja
entendido por governantes e seja criada uma estratégia política para a
nova classe, seu aparecimento possa levar a sociedade para uma “política
de inferno”, baseada em ações paternalistas.
Guy Standing revela neste livro que o
resultado do descompromisso político com essa nova classe pode gerar uma
crescente massa de pessoas com raiva, anomia, ansiedade e alienação, que,
por sua vez, pode desencadear movimentos e revoltas: “um grupo que não vê
futuro de segurança ou identidade sentirá medo e frustração que pode
levá-lo a atacar severamente as causas identificáveis ou imaginadas de seu
destino. E o desinteresse proveniente da corrente dominante da abundância
econômica e do progresso econômico é propício à intolerância”.
No último capítulo, o autor apresenta ao
leitor uma proposição de soluções para essa emergente classe, com a
criação de uma “política de paraíso”, necessária para responder aos medos,
inseguranças e aspirações do precariado. O autor sugere o desenvolvimento
de uma agenda progressista a partir da perspectiva dessa nova classe,
baseada em “liberdade, igualdade e fraternidade”, somando-se ao resgate da
identidade e da educação, na segurança, renda básica e defesa dos direitos
trabalhistas para todos.
De acordo com o senador Eduardo Suplicy,
que assina o posfácio do livro, “Guy Standing nos relata a respeito do
fenômeno social que crescentemente tem caracterizado tantos países do
mundo em função das consequências da globalização e de como evoluem as
economias capitalistas, tanto do mundo desenvolvido, quanto em
desenvolvimento, e mesmo as economias do mundo socialista, como a chinesa
e a vietnamita.”
O precariado – A nova classe perigosa
é uma obra que reflete não apenas sobre a emergente classe e sobre os
rumos do mercado de trabalho. Guy Standing oferece aos leitores uma
reflexão política e socioeconômica necessária e urgente para se pensar em
políticas includentes, para compreender a nova ordem social global e,
especialmente, para responder aos anseios e às inseguranças dos indivíduos
de uma nova classe, que não se sentem ancorados em uma vida de garantias e
promoções trabalhistas, não possuem empregos permanentes, e sequer sabem
que integram a classe dos precariados.
Título: O precariado –
A nova classe perigosa
Autor: Guy Standing
Tradução: Cristina Antunes
Número de páginas: 288
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 49,00
ISBN: 978-85-8217-245-2
Autor: Guy Standing
Tradução: Cristina Antunes
Número de páginas: 288
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 49,00
ISBN: 978-85-8217-245-2
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