Muito se fala sobre a importância da educação para a criação de uma
sociedade melhor, baseada em princípios éticos e morais e preparada
tecnológica e cientificamente para os desafios da modernidade. Mas pouco
se discute sobre o que cada um de nós, individualmente, está fazendo em
prol das futuras gerações.
Por isso, nessa ocasião em que se comemora o Dia Mundial da Educação,
proponho avaliarmos o que está ao alcance de qualquer cidadão comum para
criação de um modelo de educação voltado ao desenvolvimento pleno do ser
humano e à construção de uma sociedade mais justa.
A data faz referência ao Fórum Mundial de Educação, que reuniu
representantes de 180 países, entre 26 e 28 de abril de 2000, em Dakar, no
Senegal. De lá, saiu um documento no qual estes países se comprometiam a
não poupar esforços, políticos e financeiros, para que a educação chegasse
a todas as pessoas do planeta até 2015.
Nesse sentido, o Brasil avançou muito nas últimas duas décadas: o
acesso ao ensino fundamental está quase universalizado, com 94,4% das
crianças com idades entre 7 a 14 anos na escola; as taxas de analfabetismo
entre jovens e adultos está reduzindo; aumentou o acesso ao ensino
superior; e a proporção de jovens na idade própria que se encontra no
ensino médio é mais que o dobro da existente em 1995. Apesar disso, ainda
persistem os elevados índices de evasão escolar, pois muitos jovens têm de
parar de estudar para trabalhar. Essa situação impõe aos governantes o
desafio de criar políticas públicas voltadas a cursos de formação técnica
e de incentivo ao primeiro emprego, bem como à manutenção desses jovens na
escola, que deve ser o objetivo norteador das ações governamentais.
O desafio da educação é preparar cidadãos que pensem no coletivo.
Mas isso não basta. Depois de mais de duas décadas de ditadura, quando
o autoritarismo substituiu a capacidade de reflexão crítica e
questionamento, vivemos agora um momento de reconstrução, de busca de
caminhos para crescer com autonomia e liberdade.
Nesse sentido, devemos repensar a educação pela perspectiva da mudança
individual: as pessoas precisam ser reeducadas para o convívio
democrático. As trevas do período ditatorial ainda persistem nos hábitos,
nos comportamentos de intolerância, nos preconceitos que se manifestam
cotidianamente, nos atos de violência que ferem a dignidade humana.
A mudança começa dentro de cada um, de cada comunidade, de cada país. O desafio da modernização da educação é preparar cidadãos que pensem no coletivo, que priorizem o respeito ao outro, às instituições e às leis, que valorizem a cidadania e estejam comprometidos com a defesa dos direitos humanos consagrados mundialmente e com a ideia de convivência harmoniosa, a despeito da natural divergência de opiniões.
Como dizia um dos grandes filósofos do iluminismo, o alemão Emmanuel Kant, “o homem é a única criatura que precisa ser educada”. Temos todos – como indivíduos e sociedade – a responsabilidade de oferecer a cada criança e adolescente a oportunidade de desenvolver suas capacidades individuais, o senso crítico, o gosto pelos valores de igualdade, fraternidade, liberdade e justiça, para se tornar também protagonista e crítico perante os desvios, como o preconceito, a violência e o autoritarismo.
A sociedade que queremos requer uma mudança em cada um de nós, nos comportamentos diários, na relação de respeito entre homens e mulheres, adultos e crianças, jovens e velhos, brancos e negros, ricos e pobres. A construção de uma sociedade verdadeiramente democrática depende de nós, ao começarmos em nosso dia a dia a rever nossas ideias e comportamentos para que assim possamos pensar mais e melhor sobre a condição humana. E educarmos, com nosso exemplo, as futuras gerações.
Jean Gaspar, mestre em Filosofia pela PUC/SP, é
apresentador do programa Filosofia no Cotidiano (TV Cantareira) e
presidente da Liga do Desporto, entidade que promove atividades físicas e
desportivas como instrumento de educação e formação da
cidadania.
==> Foto: Divulgação


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