É simbólico que o calcanhar de Seedorf tenha iniciado aquela jogada aos
35 minutos do segundo tempo. Justo ele, justo o holandês, tão
representativo para o clube, abriu as portas do lance que tornou o
Botafogo, neste domingo, no Engenhão, campeão da Taça Guanabara. A
vitória por 1 a 0 sobre o Vasco rende a primeira taça ao multicampeão
camisa 10 em seu novo clube, em seu novo país, em sua nova casa.
Os cruz-maltinos pagaram um preço caro pelo apego que tiveram ao empate.
Suportaram o quanto puderam. Estiveram em vias de ganhar o turno, algo
que não acontece desde 2004. Mas o Botafogo fez ruir o prenúncio de
festa do oponente. De Seedorf para Julio Cesar, de Julio Cesar para a
área, da área para Bolívar, de Bolívar para Lucas, de Lucas para o gol.
O Botafogo está na final do Campeonato Carioca. E talvez nem precise
disputá-la. Se também vencer a Taça Rio, já será campeão estadual. O
Vasco amarga seu quarto vice-campeonato de turno seguido.
A (des)vantagem do empate
Jogar pelo empate, diz a lógica, é uma vantagem. Mas tem lá seus
perigos. O Vasco, beneficiado pela certeza do título do turno em caso de
igualdade, foi exageradamente cauteloso no primeiro tempo. Mediu forças
com o Botafogo até as cercanias dos dez minutos de jogo. Depois, ficou
passivo, à espera de um adversário necessitado de vitória.
O time cruz-maltino, é bem verdade, segurou a onda. Mas correu riscos.
Os números ilustram a superioridade do Botafogo no período inicial: sete
contra um nas finalizações, 60% contra 40% na posse de bola, mais do
que o dobro de passes certos. Faltou, porém, o gol. Mais do que isso:
faltou uma chance clara de gol para o Alvinegro. Lodeiro incomodou com
três conclusões, mas nenhuma delas ameaçadora. Seedorf e Fellype Gabriel
também tentaram – sem sucesso. Alessandro esteve seguro. Na prática,
apesar da timidez ofensiva, foi o Vasco quem teve a melhor oportunidade.
Eder Luis acionou Carlos Alberto na segunda trave, dentro da área, e o
meia-atacante perdeu. Não conseguiu encaixar o corpo e acabou chutando
para fora.
O calcanhar de Seedorf: Botafogo campeão
Vitinho no lugar de Marcelo Mattos foi o gesto de Oswaldo de Oliveira
para deixar o Botafogo mais agudo, mais agressivo. Mas o panorama do
segundo tempo pouco mudou. O Alvinegro seguiu com posse, seguiu dono do
campo adversário e seguiu incapaz de encaixotar o adversário.
Sucederam-se cruzamentos – em vão. No melhor deles, o próprio Vitinho
venceu a marcação de Nei e conseguiu cabecear, mas para fora.
O Vasco, refugiado em sua defesa, conseguiu marcar bem o adversário,
especialmente na área de criação dele, na zona intermediária. Mas não
teve a mesma competência para sair com velocidade. Bernardo esteve
apagado o tempo todo. Quando conseguiu encaixar um contra-ataque, viu a
jogada morrer em Carlos Alberto. Em seguida, os dois se desentenderam em
campo. Nei teve que separá-los. O camisa 10, pouco depois, quase marcou
de voleio. Jefferson salvou.
Foi o último suspiro do Vasco. Em seguida, saiu a jogada do gol, quando
o Botafogo já dava pinta de não ter forças para furar o bloqueio rival.
Seedorf abriu o flanco para Julio Cesar com o toque de calcanhar. O
cruzamento ultrapassou a área e caiu nos pés Bolívar. O zagueiro teve
calma, teve classe. Recuou para Lucas, que concluiu no cantinho esquerdo
de Alessandro. Gol do Botafogo, gol do título do turno. Gol de taça
para Seedorf.
==> Fonte: Globoesporte
==> Foto: André Durão
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