O 393, na tarde deste domingo, no Beira-Rio, pela 19ª rodada do Brasileirão, a despeito das frases óbvias de um clássico, ficará na memória de todos. Talvez nunca mais haja um assim. Com barro, escombros, retroescavadeiras no pátio e torcida apenas em um parte do estádio. Os tricolores o guardaram com mais carinho, afinal, saíram vencedores: 1 a 0, gol de Elano.
Resultado que o fez subir na tabela, consolidar a ideia de classificação à Libertadores e manter o sonho de título. Agora, com 37 pontos, é o terceiro - passou o Vasco que perdeu para o Fluminense. O Inter estacionou em quinto, com 31, e ficou quatro após atrás do G-4 (seis longe do maior rival).
Na abertura do returno, na quarta-feira, as duas equipes volta a campo. O Grêmio, às 22h, no Olímpico, recebe o Vasco. O Inter, mais cedo, às 19h30, desafia o Coritiba no Paraná.
Marcou e gol e saiu do jogo
Antes de a bola rolar, um rápido adendo. Com as obras de modernização do Beira-Rio para a Copa de 2014, foi autorizada a entrada de público em jogos apenas no anel superior. A capacidade reduzida do estádio foi alvo de polêmica na semana, já que o Grêmio queria mais igressos do que a Brigada Militar havia recomendado. No fim, conseguiu colocar mil tricolores, contra cerca de 15 mil colorados - que poderiam ser um pouco mais se a chuva tivesse dado uma trégua num domingo mal-humorado, com cara de 0 a 0. O cenário em obras também não ajudava. O jeito foi apelas para a tecnologia: caixas de som no gramado reproduziram o som da torcida, para amenizar a distância.
Esqueçendo as intempéries e falando de futebol, o Gre-Nal começou na porta dos vestiários, com a divulgação das equipes. Fernandão, técnico iniciante em seu primeiro clássico, apostou no mistério durantre a semana e realmente surpreendeu. Inspirado nas máquinas que se empenham nas obras do Beira-Rio, reformou o meio-campo ao sacar Dátolo e apostar em Kleber. Vanderlei Luxemburgo parece ter aprendido com o embate passado, em que escondeu o time e saiu derrotado. Com o time mais bem acabado, confirmou por antecipação a equipe e não mexeu nas laterais, fixando Pará e Anderson Pico.
Os primeiros minutos endossaram a tática de Luxa. O gol saiu cedo, aos 7 minutos. O eleito Anderson Pico levantou a bola na área, Muriel saiu mal das traves e ofereceu a bola a Elano. Em seu primeiro clássico, o homem que arrumou o time do Grêmio mostrou por que é o maestro do meio-campo tricolor. Ou melhor, um legítimo mestre de obras. Experiente, não se afobou e colocou com perícia no canto, enquanto o goleiro colorado tentava se refazer do voo infeliz.
Nem deu para comemorar. Elano já estava sentido dores na coxa esquerda, a mesma que o ajudara a abrir o placar, desde os três minutos. Precisou sair aos 15, para dar lugar a Marquinhos. Os operários de Luxa ficaram sem a sua referência. A partir daí, o Inter de Fernandão avolumou-se, tomou conta dos espaços, atormentou a defesa tricolor.
Inter domina, mas não acerta a 'casa'
Tanto que Fernando foi induzido ao erro aos 22 minutos. Recuou mal a bola. Damião a recuperou, acionou Forlán. Sozinho, o uruguaio de até então cinco jogos e zero gols no Inter só tinha Marcelo Grohe à sua frente. "Só" é maneira de dizer. Afinal, o goleiro iria praticar a sua 25ª defesa difícil no Brasileirão. Agigantou-se como uma retroescavadeira e bloqueou a finalização rasteira do uruguaio.
Apesar do chute de Forlán, o caminho da roça era pelo alto. O Inter vencia todos os duelos no espaço aéreo tricolor. Faltou, no entanto, acertar a meta. Em bolas cruzadas, surgiram duas reclamações de pênaltis. Primeiro, de que Anderson Pico teria colocado a mão na bola. Depois, de que Werley teria feito o mesmo após cabecear a bola contra o seu próprio corpo.
Leandro Vuaden não marcou nada. E abriu apenas três vezes o bolso para sacar cartões amarelos. Aos 35 minutos, Marquinhos chutou a bola sobre Fabrício, deitado no gramado. A rusga virou confusão, com até o sereno e quieto Damião se exasperando. Sobrou amarelo para os protagonistas do episódio. Logo depois, Gilberto Silva fez falta dura sobre o centroavante colorado e também foi advertido.
O apito que deu fim ao primeiro tempo foi um bálsamo para o pressionado Grêmio. E um alento ao Inter, de que, mantendo esse nível, chegaria ao empate no início da etapa decisiva.
- A gente tem que saber finalizar com mais calma - recomendou Bolívar.
- É continuar tendo atenção - pediu Gilberto Silva.
Novo tempo, mesma pressão
Se não mudou peças, o Inter alterou a postura. Começou o segundo tempo alugando o campo do Grêmio. Não deu um minuto e estava quase empatando. Kleber cruzou, Grohe afastou parcialmente e Forlán só não empatou, pois Fernando conseguiu interceptar o lance.
O problema é que, apesar do maior volume de jogo, o Inter não conseguia criar tantas chances. Apostava nos cruzamentos para área ou chutes de longe, sem direção. A pressão ganhou ares de massacre porque o Grêmio não tinha retenção de bola, dificuldade surgida desde a saída de Elano.
Luxemburgo, então, tentou apostar nos contragolpes em velocidade. Sacou Marcelo Moreno e colocou Leandro. A ideia pareceu promissora quando o Gladiador lançou o garoto, de quatro gols no Brasileiro, que só parou na saída arrojada - e agora correta - de Muriel. Fernandão também resolveu mexer cedo, colocando Dagoberto na vaga de Kleber. Ainda sem mudança de placar, o técnico foi além: cotado para ser titular, o meia Dátolo ingressou no lugar do volante Ygor, aos 26 minutos. O questionado Naldo precisou entrar no Grêmi, já que Werley saiu lesionado.
Nesse Gre-Nal de troca-troca, Luxa parece ter levado vantagem. O Grêmio melhorou no ataque, passou a ter posse de bola. Com Leandro, conseguiu aos 29 minutos uma verdadeira proeza: o primeiro escanteio do time no clássico, depois de quase uma dezena de tiros de canto do rival.
Mais do que uma estatística vazia, era um sinal. De que a vitória, construída cedo, aos 7 minutos do primeiro tempo, por um jogador que atuou apenas 15 minutos, não sairia mais das mãos azuis. No Gre-Nal das obras, o time mais bem acabado venceu. Coloca mais um tijolo na parede do G-4, onde se encontra há dez rodadas seguida. Enquanto isso, a palavra de ordem no Inter será reconstrução. Em todos os sentidos.
==> Fonte: Globoesporte
0 comments:
Postar um comentário