Um romance violento e saborosamente sombrio que nos transporta ao Japão ocupado após a Segunda Guerra Mundial. Em um clima parecido com o do clássico filme Rashomon, de Akira Kurosawa, Tóquio cidade ocupada (Planeta, 320 págs., R$ 39,90) conta uma história atroz de envenenamento em massa – baseada em evento real -, suas consequências e os horrores ocultos durante a guerra que levaram ao crime.
Em 26 de janeiro de 1948, um homem que se identifica como oficial de saúde pública chega a um banco em Tóquio. Explica que um surto de disenteria havia se espalhado pela vizinhança e que ele fora designado pelas autoridades da Ocupação para tratar de todos que pudessem ter sido expostos à doença. Logo depois de tomarem o remédio, doze trabalhadores estão mortos, e quatro inconscientes. O “oficial” desaparece.
A narrativa é feita pelos doze mortos, em diferentes perspectivas. É na voz deles que o leitor conhece os insanos depoimentos de um dos detetives do caso, as cartas desesperadas de um invasor norte-americano e o testemunho de um sobrevivente traumatizado.
O eclético grupo de vítimas da dose letal inclui ainda um jornalista, um ex-gângster convertido em homem de negócios, um detetive misterioso, um soldado soviético e um pintor prestigiado. Cada voz amplia e aprofunda o retrato de uma cidade e de um povo fazendo o possível para sobreviver, em um local transformado pela guerra em um verdadeiro inferno.
Tóquio cidade ocupada faz com que o leitor mergulhe em uma época extrema, com uma narrativa brilhantemente idiossincrática, expressiva e encantadora. É um trabalho de ficção extremamente detalhista em sua reconstituição histórica. E, exatamente por isso, assombrosamente audacioso, de um escritor único, David Peace, autor também de Tóquio ano zero, lançado pela Editora Planeta em 2011.
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