Ivone Hoffmann e Anna Cotrim se revezam em quatro papéis, em duas épocas e em países diferentes, Brasil e Rússia. Uma mãe que ainda carrega dentro de si o seu país e as tradições dos guetos e uma filha aculturada, que se casou com um “não judeu”. A ação transcorre em um único dia, véspera de Pessach, a páscoa judaica. Em torno da feitura do peixe tradicional, mãe e filha confrontam com humor amargo suas visões de mundo. Nos limites geográficos de uma cozinha, a mãe, cheia de certezas e valores imutáveis, e a filha, na corda bamba entre o que lhe foi legado e o mundo em que vive, têm que descobrir um afeto que, apesar de todas as diferenças, existe adormecido entre as duas.
Uma peça que poderia acontecer em qualquer cidade onde houvesse uma pequena comunidade ídiche: com o sabor do Violinista no Telhado, na trilha dos irmãos Coen, e com o humor inteligente de um filme de Woody Allen... A Carpa é mais do que um peixe, é um olhar enternecido e irônico sobre a tradição de um povo.
“Escrevemos essa peça assim de um fôlego só, imbuídas de um desejo, talvez a princípio inconsciente, de falarmos de uma questão que parecia adormecida, nossa identidade judaica. Sempre nos intrigou o que ainda carregávamos da Europa e das tradições em nossas vidas tão laicas. E chegou uma idade em que viramos mães e vimos no espelho os rostos de nossas mães. E pensamos: será que isso sempre foi assim? Filhas viram mães e têm filhas que viram mães e assim por diante... E o que se repete nesse processo? O que se carrega de uma geração para outra? Quando falamos de quem é a voz que ecoa? Quando nos encontramos nunca imaginamos que escreveríamos algo assim tão próximo de nossas identidades. Em nossas conversas, as raízes em comum tornaram se cada vez mais presentes quando nos lembrávamos da nossa infância, dos nossos pais e avós que vieram fugidos da Europa em busca de um recomeço num país livre. Eles vinham com esperança, mas traziam em suas malas a Rússia, a Polônia e a Bessarábia. Queriam acima de tudo ser brasileiros, mas não queriam ser góis. Nós, as crianças, podíamos nos misturar mas não muito. E em Pessach, tínhamos que saber cantar o “Manishtaná”, afirmam as autoras.
De acordo com Ary Coslov, o espetáculo aborda as diferenças de gerações, através da relação de uma mãe e uma filha que confrontam suas visões do judaísmo e, mais que isso, suas relações afetivas. “Poderiam ser cristãs, muçulmanas, budistas, não importa. O que importa é a resistência do amor, mesmo com a diferença de pontos de vista, das leis da religião e da vida. O Pessach celebra a libertação e, por extensão, a busca por um mundo melhor. É isso o que fazem essas mulheres judias da peça, cada uma a seu modo”, afirma o diretor.
Uma celebração de Pessach, a Páscoa judaica, representa um momento de muita alegria para o povo judeu porque relembra a fuga do Egito, onde os judeus eram escravos. Comandados por Moisés, caminharam quarenta anos pelo deserto. Toda uma geração ficou pelo caminho e uma outra, nova, sem as lembranças da escravidão, chegou à Terra Prometida.
Serviço:
De 23 a 25 de Março
Local: Teatro Funarte Plínio Marco – Eixo Monumental SDC, lote 2
Telefones (61) 3322.2025 / 3322.2019
Horário: Sexta e sábado, às 21h, e Domingo às 18h.
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
Duração: 80 minutos
Classificação indicativa: 10 anos
Ficha Técnica:
Autor: Denise Crispun e Melanie Dimantas
Direção: Ary Coslov
Elenco: Ivone Hoffmann e Anna Cotrim
Direção de Produção: Celso Lemos
Produção Executiva: Lílian Bertin
==> Foto: Guga Melgar
0 comments:
Postar um comentário