O ator e diretor Marcos Fayad traz a Brasília dois celebrados espetáculos-solo

Consagrado no Brasil por encenações teatrais históricas como Dois perdidos numa noite suja, de 1972, Martim Cererê, 1987, e Cabaré Goiano, 1988, o diretor e ator Marcos Fayad vem a Brasília mostrar seu talento como ator. De 1º a 11 de março, ele poderá ser visto em dose dupla, na pele de um solitário homem do cerrado goiano e relembrando o pensamento de um dos maiores nomes do teatro em todos os tempos, o francês Antonin Artaud. É o projeto DUAS VISÕES DO MUNDO, que leva para o palco do Teatro Goldoni (Casa d’Itália) os espetáculos VOAR... e A REALIDADE É DOIDA VARRIDA. Serão apenas duas semanas de temporada, com limitação de 120 espectadores por sessão. Os espetáculos serão apresentados juntos, com intervalo de 15 minutos entre eles. Sessões de quinta a sábado, impreterivelmente às 21h, e domingos, às 20h. Ingressos a R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia).

VOAR... é um sucesso que vem sendo encenado há quase 10 anos. O espetáculo estreou em 2002 e integra o repertório da Cia. Teatral Martim Cererê, criada e dirigida por Fayad em Goiânia e que já completou 22 anos de atividades ininterruptas. VOAR... foi mostrado em quase todo o País, através do projeto Palco Giratório do SESC, foi escolhido melhor espetáculo no FITEI 2004 (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica), de Porto/Portugal, e fez temporada de um mês no Teatro da Comuna, em Lisboa, e nas cidades de Coimbra e no Porto, em Portugal.

A REALIDADE É DOIDA VARRIDA é o mais recente espetáculo de Marcos Fayad. Marca sua imersão na obra do poeta, ator, escritor, dramaturgo, ensaísta e encenador francês Antonin Artaud (1896-1948). O monólogo foi roteirizado pelo ator Rubens Corrêa e pelo diretor Ivan de Albuquerque, ambos cariocas e já falecidos. Fayad recebeu das mãos de Rubens Corrêa o texto e o conselho para encená-lo “quando se sentisse maduro”. Para o ator e diretor goiano, chegou a hora.

O espetáculo estreou no ano passado em Goiânia, dentro de uma capela desativada e chega agora a Brasília, com o aval de ter sido escolhido como o melhor espetáculo teatral de 2011, pela crítica especializada.

Os dois espetáculos serão apresentados conjuntamente, com um intervalo de 15 minutos entre eles, para troca de cenário. Neste curto espaço de tempo, Marcos Fayad se despirá da caracterização do homem brasileiro habitante do cerrado para assumir a pele de um dos maiores renovadores da linguagem teatral, o francês Antonin Artaud, criador do Teatro da Crueldade.

REALISMO MÁGICO

VOAR... é uma adaptação de Marcos Fayad sobre os contos VOAR e A PEDRA do “Pequeno Livro do Cerrado”, de Gil Perini. No primeiro deles, predomina a linguagem do realismo mágico latino americano para contar a história de um homem que sabia voar: era só tirar os pés do chão e o mundo surgia sob um prisma que ninguém mais conhecia. O segundo conto é sobre outro homem pobre e solitário, mas feliz, que no meio do cerrado encontra uma pedra de diamante quase do tamanho de um ovo de galinha e passa a viver o drama shakespereano do ter ou ser.

Em cena está um homem brasileiro natural do cerrado, com sua linguagem, seus costumes, mitos e lendas próprios. Um brasileiro que não é retratado nas telenovelas, singelo e profundamente sábio na sua simplicidade. A personagem revelada é real, existe de fato e ainda vive no sertão goiano. O autor do texto, Gil Perini, conviveu com ele e decidiu escrever a história fantástica que protagonizou.

O monólogo VOAR é curto, tem 45 minutos, e, segundo Fayad, seu caráter é essencial: “Um monólogo é como uma alquimia manipulada em pequeno frasco e pequenas doses. Interpretá-lo é, para mim, uma reafirmação do ato de fé na humanidade. Acredito que, por sua natureza, um espetáculo teatral permite despertar e revelar o que há de humano no homem, aumentando sua capacidade de melhorar a vida e torná-la mais bela”. Para o ator e diretor goiano, o espetáculo pode ser resumido numa frase: “Um homem conta sua história e ela é a história de todos os homens, com as muitas faces de seus dilemas e sentimentos”.

Com uma cenografia que retrata a poética aridez do cerrado, VOAR tem trilha sonora embalada pelo som de alguns cantos de aves da região. A linguagem do espetáculo resulta de muitos meses de viagens que Fayad fez ao sertão goiano, onde vive o homem que interpreta. A musicalidade da fala, as pausas cheias de significados, as palavras inusitadas que vão revelando até onde pode chegar a riqueza do idioma português reinventado em cada região do Brasil, tudo isso foi sendo gravado e incorporado à interpretação, à maneira de contar a história mágica, com final inesperado e surpreendente.

O autor, Gil Eduardo Perini, é paulista de Igarapava e radicado em Goiânia desde criança. Na capital goiana, completou os estudos, concluindo o curso de Medicina em 1970, na Universidade Federal de Goiás. Trabalhou como médico no chamado “Médio-Norte Goiano”, região que hoje está dividida entre os estados de Goiás e Tocantins. Atualmente, em Goiânia, é cardiologista e professor de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFG. Em 1999, publicou o livro de contos “O Pequeno Livro do Cerrado”. É colunista do jornal O Popular.

Link VOAR:

http://www.youtube.com/watch?v=-aoZbyw8W_8&list=UUYk20Spa9q58DW4zhnYc52w&index=2&feature=plcp

FICHA TÉCNICA

O Homem: Marcos Fayad

Iluminação: Enoch Moya

Sonoplastia: Tião Sodré

Música Original: Pássaros Brasileiros

Programação Visual: Marco Aurélio Chagas

Produção: Cia. Teatral Martim Cererê

Produção Executiva: Tihaná Hirata

Cenário/Figurino: Marcos Fayad

Gravação do CD: Stúdio Can Kambay

Direção: Marcos Fayad

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 12 ANOS

TEATRO DA CRUELDADE

Quando recebeu das mãos de Rubens Corrêa o texto do que viria a se tornar A REALIDADE É DOIDA VARRIDA, Marcos Fayad ouviu também do consagrado ator o conselho: “Monte quando achar que está pronto”. Pois em 2011, 35 anos depois de iniciada sua aventura teatral, o ator e diretor goiano considerou que tinha chegado a hora. E criou o monólogo, a partir da obra do poeta, ator, escritor, dramaturgo, ensaísta e encenador francês Antonin Artaud (1896-1948). Como trilha segura, o roteiro concebido a quatro mãos por Rubens Corrêa e Ivan de Albuquerque – o primeiro interpretou e o segundo dirigiu o espetáculo ARTAUD sucesso de 1986 que consagrou Corrêa e ficou em cartaz no Teatro Ipanema por sete longos anos.

Antonin Artaud é figura ímpar do cenário teatral mundial. Foi ator, encenador, cenógrafo, iluminador, escritor, sonoplasta e produtor teatral. Criador do “Teatro da Crueldade”, um teatro de imagens e signos que oferecem uma “cura cruel” do público, uma experiência mágica coletiva, que, segundo Artaud, levaria a plateia a um estado de transe. Artaud era contrário ao teatro de entretenimento. Para o grande pensador, o teatro precisava voltar às origens ritualísticas, quebrar a distância entre público e palco, unir tudo num mesmo processo.

É exatamente na aproximação entre palco e plateia que a encenação de A REALIDADE É DOIDA VARRIDA aposta. Marcos Fayad seguiu à risca o que propôs Antonin Artaud, não apenas colocando no mesmo plano plateia e ator como também cuidando para que sua interpretação fosse oferecida às pessoas que desejam ver no teatro algo além do realismo simplório de histórias lineares com princípio, meio e fim. O ritual não possui distanciamentos e o ator interpreta olhos-nos-olhos com o público presente à sua frente.

A questão que se coloca é permitir que o teatro reencontre sua verdadeira linguagem espacial, linguagem de gestos, de atitudes, de expressões e de mímica. Linguagem de gritos e onomatopéias, linguagem sonora, onde todos os elementos objetivos se transformam em sinais tão importantes quanto a linguagem das palavras. Diz Fayad: “O Teatro da Crueldade é, sobretudo, a decisão implacável e irreversível de transformar o homem em um ser lúcido. É dessa lucidez que nasce o novo Teatro. Todo nascimento implica também uma morte. Para dar início ao Teatro da Crueldade será necessário, portanto, cometer um assassinato – o assassinato do velho homem, dissimulado, falso, camuflado, controlado, individualista, solitário”. Artaud ensinava: “O público só acredita no sonho no Teatro se o aceitar realmente como sonho e não como cópia idiota da realidade. Porque o Teatro nunca é cópia nem realidade, mas sempre sonho”.

Antonin Artaud nasceu em 1896, em Marselha, na França. Com cinco anos de idade, foi acometido de grave meningite que deixaria sequelas – Artaud sofreu constantes distúrbios do sistema nervoso central que o levaram a diversas internações em sanatórios. Em 1920, mudou-se para Paris e conquistou espaço no universo teatral, atuando como ator, encenador, cenógrafo, iluminador, escritor, sonoplasta, produtor, tornando-se uma das figuras mais polêmicas da arte de seu tempo. Artaud criticava a ditadura do texto e propunha um teatro visceral. É autor de obras referenciais como O Teatro e seu Duplo, Manifesto do Teatro da Crueldade, Cartas desde Rodez e Para Acabar de Vez com o Juízo de Deus. Antonin Artaud faleceu em 1948, depois de passar três anos internado num manicômio em Rodez. Seu talento foi eternizado em duas participações no cinema: A Paixão de Joana D’Arc, de Carl Dreyer (1928) e Napoleão, de Abel Gance (1925-27).

Link A REALIDADE É DOIDA VARRIDA:

http://www.youtube.com/watch?v=VpnfgD1tCnA

FICHA TÉCNICA

Ritual celebrado por Marcos Fayad

Colagem de textos de: Rubens Corrêa e Ivan de Albuquerque

Sobre: o ator/poeta/dramaturgo francês Antonin Artaud

Interpretação/Cenografia/Músicas/Figurinos/Direção: Marcos Fayad

Iluminação: Enoch Moya

Sonoplastia: Tião Sodré

Programação Visual: Josemar Callefi

Produção: Cia.Teatral Martim Cererê

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 12 ANOS

MARCOS FAYAD

Ator e diretor nascido em Catalão, Goiás, Marcos Fayad cedo se transferiu para o Rio de Janeiro onde estudou. Formou-se em Psicologia pela PUC – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em 1976, criou o Grupo Engenho de Teatro, estreando profissionalmente com a encenação do clássico Esperando Godot, de Samuel Beckett, apontado como um dos cinco melhores do ano. A partir daí, inicia uma carreira feita de várias encenações de sucesso: Ralé, de Máximo Gorki (1977), Ato Cultural, do dramaturgo venezuelano José Ignácio Cabrujas (1979), Peer Gynt, de Henrik Ibsen (1980), Três Vezes 21 de Abril, em Brasília (1985).

Em 1987, a convite da Secretaria de Estado da Cultura de Goiás, volta para Goiânia, onde cria o Centro Cultural Martim Cererê, com três teatros. No ano seguinte, estreia o espetáculo Martim Cererê, a partir da obra de Cassiano Ricardo. A encenação circula por várias capitais brasileiras e é indicada a quatro Prêmios Mambembe (premiada pela cenografia para Siron Franco e Marcos Fayad). Seguem-se Cabaré Goiano, Danhorê, Cara-de-bronze, Puro Brasileiro, Voar…, Escuta, Zé, Mitos do Eldorado, Café Cantante Punhal Reluzente, Por Prazer, Theatro Muzycal Profano, Puro Ouro Brasileiro e A Realidade é Doida Varrida.

Paralelamente, desenvolve carreira na televisão, como diretor assistente da sérieQuarta Nobre”, da TV Globo, em 1983, participando de programas como O FANTASMA DE CANTERVILLE, de Oscar Wilde, O INSPETOR GERAL, de Nicolai Gogol, e ESQUADRÃO DA VIDA, de Aguinaldo Silva. Como ator, esteve nas séries: Carga Pesada, Malu Mulher, Romeu e Julieta e Plantão de Polícia. Também atuou no cinema, em personagens dos filmes A Rainha do Rádio, de Luiz F. Goulart, Memórias do Medo, de Alberto Graça, O Homem do Pau Brasil, de Joaquim Pedro de Andrade, e Terra de Deus, de Iberê Cavalcanti.

SERVIÇO

Local: Teatro Goldoni da Casa D`Italia (108 sul) - Estacionamento no Local

Datas: 01 a 11 de março

Sessões: de quinta a sábado, às 21h; Domingo, às 20h

Ingressos: R$ 40,00 (inteira) e R$20,00 (meia) - Pagamento em dinheiro ou cheque

Reservas: 32443333

Número limitado a 120 espectadores por sessão

==> Foto: Divulgação

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