MOSTRA JAIRO FERREIRA – CINEMA DE INVENÇÃO: CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL BRASÍLIA – DE 22 DE FEVEREIRO A 4 DE MARÇO DE 2012

Crítico de cinema, cineasta, ator, fotógrafo de cena e jornalista, o paulistano Jairo Ferreira é nome imprescindível do cinema dito experimental (ou marginal) brasileiro. Acima de tudo um poeta, Jairo comentou, discutiu e deu visibilidade a filmes assinados por alguns dos mais inventivos cineastas da história do cinema no Brasil. Injustamente desconhecido do grande público, Jairo Ferreira inspira a nova mostra realizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília. JAIRO FERREIRA – CINEMA DE INVENÇÃO, que acontece de 22 de fevereiro a 4 de março de 2012, vai exibir obras raras – algumas inéditas – nas telas brasileiras, acompanhadas de catálogo e debate.

Jairo Ferreira (1945-2003) foi figura essencial para a criação de um pensamento crítico do cinema brasileiro. Foi ele o criador do termo “Cinema de Invenção”, a partir do pensamento do poeta norte-americano Ezra Pound (“inventores são homens que descobriram um novo processo ou cuja obra nos dá o primeiro exemplo conhecido de um processo”), para referir-se a criadores como Júlio Bressane, Rogério Sganzerla, Carlos Reichenbach, fugindo de conceitos já desgastados como “experimental” ou “vanguarda”. É autor do livro Cinema de Invenção, que se tornou um clássico da bibliografia sobre cinema brasileiro, o melhor ensaio crítico-poético já escrito sobre chamado cinema marginal ou underground no País. Jairo Ferreira ajudou o Brasil a compreender o cinema como substrato da cultura pop.

Sob a curadoria do professor e cineasta Renato Coelho, será possível ver o que Jairo Ferreira produziu como realizador de cinema: dois longas, um média e seis curtas que são legítimos exercícios da linguagem de invenção. Os filmes de Jairo são, em sua maioria, rodados em Super-8, de maneira artesanal e nunca foram exibidos comercialmente. Mas a programação inclui ainda cerca de vinte filmes sobre os quais o autor homenageado escreveu, e que de alguma forma fazem parte de seu universo. A mostra será acompanhada também de debate reunindo o curador Renato Coelho, o professor-doutor Alessandro Gamo (autor do livro de críticas Jairo Ferreira – críticas de invenção: os anos do São Paulo Shimbun) e o cineasta André Luiz Oliveira, diretor de um marco do cinema de invenção, o filme Meteorango Kid, de 1969.

A MOSTRA

A programação oferecerá a raríssima oportunidade de o espectador assistir à filmografia de Jairo Ferreira, pouquíssimo exibida. Nunca antes foram reunidos os oito filmes de sua autoria, numa justa revisão da obra. São oito filmes - cinco curtas, um média e dois longas-metragens - feitos entre 1973 e 1980. Dentre os curtas, O guru e os guris ( 35 mm , 1973) é documentário onde Ferreira usa a figura de Maurice Legeard, mítico fundador da Cinemateca de Santos, para falar de cinefilia e as agruras da atividade cinematográfica no Brasil. Já Ecos caóticos (Super-8, 1975) é uma homenagem ao poeta maranhense Sousândrade. O curta O ataque das araras (Super-8, 1975) mostra uma viagem do cineasta à Amazônia, acompanhando uma trupe teatral. Antes que eu me esqueça (Super-8, 1977) é um curta documentário sobre um sarau poético e Nem verdade nem mentira ( 35 mm , 1979) apresenta, de forma poética, o pensamento do autor sobre o jornalismo.

Ainda de Jairo Ferreira estão o média Horror Palace Hotel (Super-8, 1978), que registra depoimentos de cineastas como José Mojica, Ivan Cardoso e Rudá de Andrade sobre o cinema de horror; e os longas O vampiro da cinemateca (Super-8, 1975/1977) e O insigne-ficante (Super-8, 1978/1980). O vampiro da cinemateca é um documentário performático, para o qual Ferreira mistura cenas pessoais com improvisos com atores, narração em off e uma narrativa livre e não-linear. Filme mais discutido do diretor, nele o autor-personagem decreta: “Chupo filmes para renovar meu sangue”. E O insigne-ficante é um filme-viagem, que discute o conceito de invenção cunhado por Ezra Pound.

Serão exibidos, ainda, vários filmes sobre os quais Jairo Ferreira escreveu ao longo da vida, dentre eles clássicos da cinematografia brasileira como Limite, de Mário Peixoto, A Mulher de Todos, de Rogério Sganzerla, O Corpo Ardente, de Walter Hugo Khouri, A Lira do Delírio, de Walter Lima Jr, A Herança, de Ozualdo Candeias e o raro Sagrada Família, de Sylvio Lanna.

Completam a programação A Margem, de Ozualdo Candeias; Jardim da Guerra, de Neville d'Almeida; Gamal, o delírio do sexo, de João Batista de Andrade; Meteorango Kid - Herói Intergalático, de André Luiz Oliveira; Ritual dos Sádicos, de José Mojica Marins; Sagrada Família, de Sylvio Lanna; Nosferatu no Brasil, de Ivan Cardoso; Crônica de um Industrial, de Luiz Rosemberg Filho; Filme Demência, de Carlos Reichenbach; Ave, de Paulo Sacramento; Alma Corsária, de Carlos Reichenbach; Noite final menos 5 minutos, de Débora Waldman; Mariga, de Paolo Gregori; Sinhá Demência e outras histórias, de Christian Saghaard e Carlos Botosso; A Bela e os Pássaros, de Marcelo Toledo e Paolo Gregori; e Demônios, de Christian Saghaard.

A curadoria e organização da mostra são de Renato Coelho, sócio da produtora Lira Cinematográfica, formado em cinema pela FAAP e mestrando em Multimeios na Unicamp. Coelho foi professor na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), nas áreas de Direção e Produção Audiovisual, co-dirigiu o curta-metragem Bomba! (2008), com Lara Lima e Marcelo Lima; fotografou os curtas Chapa (2009) e Herói (2010) e montou o curta Um Par (2010).

==> Foto: Divulgação

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