A arte na mira de Platão

Platão tinha aversão à arte, de forma generalizada? A expulsão dos artistas da cidade ideal no décimo livro da República suscita polêmica e a curiosidade de estetas, filósofos e entusiastas da estética. Para acender esse debate, a editora Barcarolla e a Discurso Editorial (do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo) lançam em parceria o livro “Platão e a Arte de seu Tempo”, de Pierre-Maxime Schuhl. Nele, o autor analisa e se aprofunda na relação do filósofo ateniense com a arte, sustentando que ele não tinha repulsa por ela, mas sim pelos artistas de seu tempo.

Para entender a posição de Platão é preciso recuar aos princípios de sua filosofia. Tudo no mundo físico seria reflexo e imitação do sublime Mundo das Ideias, que ficaria suspenso acima da Terra. Qualquer manifestação do plano físico seria apenas reflexo de algo concebido no mundo de cima – de um objeto físico a uma pessoa bonita. Dessa forma, a arte seria uma cópia da cópia, a imitação da imitação (mímesis). Ademais, ela não seria o resultado do conhecimento, como no caso da filosofia, mas de uma espécie de “transe” que inspira a criação.

Mas Schuhl salienta: “Platão mostrou-se, em toda sua obra, um artista genial demais para que esta atitude possa se explicar por uma falta de sensibilidade à arte”. Mesmo a poesia, à qual Platão assume posição contrária desde os seus primeiros escritos, é objeto de uma revisão. “Ele mesmo reconhece, na República, ao falar da poesia imitativa, que sofre o seu encanto – e é preciso dar à palavra o sentido mais forte: trata-se de um encanto quase mágico.” Seria exatamente esse sentimento de ação profunda que a arte exerce sobre as almas que explicaria a severa atitude de Platão para com os artistas.

A partir de citações, análise dos comentários que o ateniense teceu sobre a arte e sua relação com a Teoria das Ideias, o autor francês delineia um panorama diferente, em que o radicalismo perde terreno. Platão poderia aprovar certas formas particulares de arte, comenta logo no prefácio. Mas, as exigências são altas: “a perfeição de uma obra de arte dependeria de tantas relações que a menor negligência seria suficiente para comprometer o conjunto”, escreve Schuhl.

Sobre o autor

Pierre-Maxime Schuhl (1902-1984) nasceu em Paris. No final da Segunda Guerra Mundial, foi prisioneiro no campo de Colditz. Sobreviveu à experiência e se tornou professor da Sorbonne, onde, a partir de 1962, assumiu a presidência do Departamento de Filosofia. De 1949 a 1952, ele também presidiu a Sociedade dos Estudos Judeus. Passou a dirigir a revista Revue Philosophique em 1952. "Platão e a Arte de seu tempo" é o primeiro de seus nove livros, editado originalmente em 1933.

Platão e a Arte de seu Tempo
Pierre-Maxime Schuhl
Tradução de Adriano Machado Ribeiro
Editora Barcarolla / Discurso Editorial
195 páginas

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