As lentes de Denise focam a
cultura afro-brasileira ao entrar no espaço mítico-ritual do candomblé,
revelando o processo de criação da artista no território sagrado dos ritos.
“Parti da premissa que o território sagrado das cerimônias de candomblé é um
espaço de experiência, de imersão cultural, de contemplação e respeito ao
acervo de saberes”, detalha.
O resultado do trabalho surpreendeu
até a própria fotógrafa, que sempre pensou em tirar o tema do lugar comum. “Em
geral, o que se fotografa são os rituais públicos, que são lindos. Mas a minha
proposta é reflexo de uma convivência, um mergulho, uma permissão. Quis
acrescentar algo àqueles que não conhecem o candomblé e lancei mão de uma luz
singular para não tornar o registro fotográfico tão óbvio”, observa Denise.
A curadoria de E o silêncio
nagô... é de Diógenes Moura, escritor, editor, roteirista e curador de
fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo entre 1998 e maio de 2013.
Moura endossa que a exposição reforça o debate contemporâneo sobre a
diversidade étnica e cultural do Brasil como um patrimônio imaterial, desconstruindo
visões errôneas e estereotipadas, tão recorrentes, sobre a realidade
afro-brasileira.
Segundo o curador, a mostra
promove
uma ruptura das percepções equivocadas dos terreiros, difundidas, entre outros
fatores, pelo estigma brasileiro de não buscar entender suas próprias raízes. “E o silêncio nagô trata do silêncio
profundo diante do desconhecido, do que poderá ir do ontem ao muito além, desse
corpo índio e africano que temos obrigação em reconhecer, que somos nós, sem
abortar Macunaíma”, pondera.
Diógenes enfatiza que a
coletânea de Denise é a revelação das coisas que nos pertencem, do que temos
direito, do que somos nós. “Trata da existência dos que não gostam de mentir,
dos que assumem o próprio rosto. Dos que não têm medo de seguir adiante como
possuidor de uma humanidade distinta, de uma protocélula impregnada de mitos
que dançam dentro do nosso corpo/memória insistindo em nos fazer despertar”,
adianta.
Silenciando
a exclusão
E o silêncio nagô... coloca
em circulação, de maneira inédita, ideias sobre um objeto artístico geralmente
renegado à invisibilidade. É uma exposição enriquecedora tanto em seu conteúdo
quanto na forma de proporcionar a aquisição de conhecimento.
Acessível aos deficientes
visuais e ao público de todas as camadas sociais, a coletânea alia tecnologia e
arte em um só espaço. Além das imagens, da trilha sonora, de palestras da
artista e de convidados, de oficina de formação para educadores, o projeto contempla sinalização podotátil que
auxiliará a visita de cegos. Eles receberão na entrada da sala um aparelho com
audiodescrição das imagens, garantindo total autonomia durante o percurso
expositivo. “Meu registro será imaginado por eles. É uma troca interessantíssima
e enriquecedora para os dois lados”, empolga-se Denise.
Para a artista, proporcionar
acessibilidade ao espaço expositivo e facilitar o acesso à arte é viabilizar um
aspecto da democratização social. “O Brasil tem diretrizes de acessibilidade e
os artistas e produtores devem se preocupar em cumpri-las”, frisa ela, referindo-se
à Lei nº 10.098/2000.
Fabiane
Beneti, da Empresa Livre, assina a produção-executiva do
projeto, que é patrocinado pelos CORREIOS e realizado pelo Ministério da
Cultura, por meio da Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal. E o silêncio nagô... tem apoio do Museu
Nacional dos Correios, em Brasília – DF, e do Centro Cultural dos Correios em
Salvador – BA, onde a exposição faz itinerância, de 19 de dezembro de 2013 a 22
de fevereiro de 2014.
Sobre...
Denise Camargo
Fotógrafa e pesquisadora,
doutora em Artes (Unicamp), mestre em Ciências da Comunicação (ECA-USP), graduada
em Jornalismo (ECA-USP). O currículo de Denise contempla as exposições
fotográficas Antologia da fotografia
africana (Pinacoteca do Estado, São Paulo – SP, em 1998), e São os filhos do deserto onde aterra desposa
a luz (Espaço Porto Seguro de Fotografia, São Paulo – SP, 1999). Em 2005
foi convidada pelo Consulado Americano para integrar o projeto Herança Compartilhada, ensaio
fotográfico feito nas cidades de Nova York e Nova Orleans, sobre as influências
da cultura africana nos Estados Unidos (trabalho exposto em maio/2005); Em
2006, realizou o projeto curatorial e a coordenação geral da exposição Quilombolas, Tradições e Cultura da
Resistência (fotografias de André Cypriano), e foi responsável pela edição
do livro homônimo. Denise também foi contemplada com Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras (2010 e
2011) e com o Programa Cultura e
Pensamento (2007 e 2010). Os mais recentes prêmios de reconhecimento pelo seu
trabalho vieram da Fundação Cultural Palmares (Prêmio Palmares 2012, para publicação da tese de doutorado Imagética do Candomblé, uma criação no
espaço mítico-ritual, cujas notas visuais geraram a exposição E o silêncio...) e o Prêmio Brasil Fotografia 2013, para o
desenvolvimento da série Memórias da
espuma rosa. Os temas a que recorre artisticamente exploram questões da
identidade cultural brasileira, imagem na cultura afro-brasileira, processos de
criação, cujo objetivo é a difusão da imagem fotográfica, por meio de projetos
socioculturais.
Diógenes
Moura
Escritor, editor e curador
de fotografia independente, entre 1998 e maio de 2013 foi Curador de Fotografia
da Pinacoteca do Estado de São Paulo onde realizou exposições, reflexões sobre
o pensamento fotográfico e possibilitou o reconhecimento do acervo do museu
como um dos mais importantes da América Latina, hoje com cerca de 700 imagens
de fotógrafos brasileiros. Em 2013,
realizou a curadoria/edição das mostra Busca-me, de Boris Kossoy (Galeria
Berenice Arvani) e A Construção de um Olhar – Fotografia Brasileira no Acervo
da Pinacoteca do Estado de São Paulo, no Centro León Jimenes, na República
Dominicana. Diógenes também publicou o livro São Paulo de Todas as Sombras,
edição que reúne fotografias (Lucia Guanaes/ Marc Dumas) e contos/polaróides
urbanas de sua autoria. Em julho último realizou a mostra e o livro homônimo
Butterflies and Zebras, de Mario Cravo Neto, que ficará em cartaz até novembro
na Estação Pinacoteca, em São Paulo. Foi eleito o Melhor Curador de Fotografia
do Brasil pelo Sixpix/Fotosite, em 2009. No ano seguinte recebeu o prêmio APCA
– Associação Paulista dos Críticos de Arte de melhor livro de contos/crônicas
com Ficção Interrompida – Uma Caixa de Curtas (Ateliê Editorial). Com o mesmo
título foi finalista do Premio Jabuti de Literatura 2011. Em 2012 foi curador
de mostras importantes como Andy Warhol – Superfície (Museu da Imagem e do Som
São Paulo), Interior Profundo – Mestre Júlio Santos (Pinacoteca do Estado de
São Paulo) e Dos Filhos Desse Solo? exposição que representou o Brasil no
PHOTOIMAGEM 2012 e que acaba de receber o grande Prêmio da Crítica pela
Associación Dominicana de Críticos de Arte, INC/2013.
Serviço:
Exposição
- “E o silêncio nagô calou em mim”
Entrada
Gratuita
Data:
de 17 de outubro até 30 de novembro
Local:
Museu Nacional dos Correios
Endereço:
Setor Comercial Sul, quadra 4, bloco A, n° 256, ed. Apolo, Asa Sul. Brasília -
DF
Telefone:
(61) 3213-5076
Horário:
terça a sexta-feira, de 10h as 19h. Sábados, domingos e feriados, de 12h as 18h
Informações:
[email protected]
Site: www.silencionago.oju.net.br==> Foto: Denise Camargo

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