Professor de
História Econômica e Estudos Internacionais Latino-Americanos da
faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara, Enrique Amayo
Zevallos está no Peru para o lançamento do livro escrito em espanhol
'Mar y Olas: Rito y Deporte: Del Tup o Caballito de Totora a la moederna
Tabla o Surf: su origen en la Costa Norte del Antiguo Perú (1500 a.C -
1532)'.
Amayo aponta que a bibliografia que surgiu no período
colonial e cresceu com o tempo demostra a capacidade das grandes balsas
das civilizações marítimas do Antigo Peru - AP, como a Mochica,
Lambayeque, Chimu, Tiahuanaco e outras, para navegar em alto mar em
viagens até mesmo intercontinentais em grandes jangadas feitas de pau de
balsa.
Mas falta bibliografia que explore a hipótese seguinte: “no Cavalinho de Totora está o origem do esporte conhecido como surf“. O Cavalinho de Totora ou TUP (na língua Mochica) apareceu no AP com o objetivo de atravessar as ondas marítimas para pescar originando assim indiretamente o surf já que sem dúvida era prazeroso cruzar o mar até chegar aos lugares de pesca. "Totora é uma espécie de junco usado desde o período pré–colombiano pelas civilizações do Lago Titicaca e das costas do Oceano Pacífico peruano", explica o docente.
O TUP é um
instrumento de navegação unipessoal muito antigo (tem 3.500 anos de
história comprovada, mas poderia ter até 5.000) que sobreviveu até hoje
sem qualquer mudança essencial na sua conformação sendo sempre, desde
seu remoto origem, usado diariamente na costa peruana do norte para
pescar surfando as ondas do mar. O autor não tem informação de algo
semelhante no mundo sendo, portanto, único. Infelizmente nos dias de
hoje corre o risco de desaparecer.
Em sua longa história originou
outro, um TUP Especial - TUPE com um objetivo lúdico: atravessar as
ondas do mar como diversão ou esporte incluindo uma competição de fundo
religioso conhecida como a Corrida do Homem-Deus-Pássaro. Assim no TUPE
estaria a origem direta do surf. Cerâmicas (Huacos) dos Mochicas, Chimús
e Incas produzidas entre os Séculos X e XVI D.C. retratam surfistas
sentados no TUPE como cavalheiros (sentados: não em pé). Este livro
descreve, analisa e busca as razões do quase desaparecimento do TUPE ao
ponto que hoje quase ninguém sabe que existiu no mínimo por 500 anos (o
mesmo será feito em relação ás grandes jangadas de pau de balsa).
Os
descendentes diretos atuais dos Mochicas, Lambayeques e Chimús em geral
moram em comunidades pobres, apesar de sua historia muito rica, como é o
caso de Huanchaco no norte do Peru, onde enormes ondas impressionam o
surfista moderno. O resgate da relevância determinante das civilizações
marítimas peruanas antigas na origem do surf se reveste de justiça
histórica indo além. Isso porque seu efeito também seria prático já que
contribuiria a ampliar o turismo ecológico em territórios que na
antiguidade abrigaram aos Mochicas, Lambayeques e Chimús nas cidades
atuais de Huanchaco, Pimentel e outras.
O próprio TUPE poderia
ser recuperado para voltar a ser usado para surfar, em vez de continuar
como até hoje, desaparecido. Isso feito principalmente nos territórios
que foram dos Mochicas poderia ajudar a superar a pobreza de seus
descendentes que continuam morando neles como também ajudaria a evitar o
desaparecimento do TUP.
O livro também esclarece o fato que em
termos de historia humana e social o Peru, entre outras coisas, é mais
de doze milênios mais antigo que o Arquipélago de Hawaii e a Ilha de
Pascoa. E também gostaria oferecer fundamentos para uma campanha com o
objetivo de fundar o Museu da Navegação do Antigo Peru:
Naylamp-Taykanamo-Túpac Yupanqui-Heyerdahl, nas redondezas de Huanchaco.
"Finalmente gostaria contribuir para que a luta por obter o
reconhecimento do Peru como o lugar de origem do surfe, um dos objetivos
da FENTA (Federação Peruana de Surfe) e de muitos surfistas entre os
quais está o primeiro campeão mundial do surfe moderno Felipe Pomar,
continue mas sendo feita com o apoio do Governo já que esse
reconhecimento teria que ser política do Estado Peruano", comenta Amayo.
"O
livro é publicado pela Universidad Nacional Agrária La Molina do Peru e
provavelmente será lançado na Biblioteca Nacional do Peru. Venho ainda
recebendo muitos convites de importantes universidades e instituições de
pesquisa marítima, como o Instituto de Estudos Histórico Marítimos do
Peru, da que sou membro, que é a mais antiga instituição desse tipo da
América Latina, para lançar a obra", conta Amayo.
Contato com o pesquisador:
Enrique Amayo Zevallos
eazamayo@fclar.unesp.br
==> Foto: Divulgação
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