Após
algum tempo afastada do violão, Adriana Calcanhotto retoma seu contato com o
instrumento, que, segunda ela, a fascina e provoca. Tomadas e retomadas do
violão são uma constante na trajetória da cantora, que diz ter adquirido
intimidade com os mistérios deste instrumento.
Produzido
por ela em parceria com Daniel Carvalho, Olhos de Onda destaca a elegância da
cantora e sua sintonia com o violão. O show acústico traz no repertório seus
sucessos e também músicas
inéditas em versões voz e violão. Dentre elas estão “Me Dê Motivo”, que fez
parte da trilha sonora da nova novela “Geração Brasil”, e a inédita “Olhos de
Onda”, que dá nome ao show, feita por ela em um dos ensaios.
A artista comenta seu
novo trabalho abaixo:
“Quando recebi o
convite para me apresentar em Lisboa em formato solo, nas comemorações de vinte
anos da casa onde cantei na cidade pela primeira vez, disse sim na mesma hora.
Não tinha um show preparado, não tocava há muito, não saberia se conseguiria e
até aqui, sinceramente, não sei, mas por isso mesmo.
Andava doida para
retomar o violão, portanto para inventar um roteiro pensado para Portugal, para
pegar a estrada, pela janela do quarto, pela janela do carro, trancafiada em
quartos de hotel, tocando compulsivamente para que o show seja lindo e
inesquecível enfim, o convite de Portugal era tudo o que mais eu podia querer
no momento em que ele chegou. Depois pegar a estrada seca, com Diogo ao
volante, comer doces de ovos em Aveiro, partir atrás de baleias açorianas, ir
ao Fado, me emocionar cantando meus poetas amados para as pessoas, pensando
bem, o que mais alguém poderia querer?
Tomar e retomar o
violão é uma constante na minha trajetória, aliás, desde que me apaixonei pelo
instrumento, criança ainda. Uma das minhas memórias mais antigas, na casa da
minha avó, é um violão que havia lá e que me fascinava embora parecesse (e
fosse realmente) um objeto enorme, impossível para mãozinhas. Nas memórias mais
antigas, em que as pessoas são gigantes e as casas grandes feito palácios,
aquela instrumento era monumental, mas lembro bem das minhas primas achando
engraçado o meu deslumbramento e me alcançando o violãozão para fazer algum
barulho, coitadas.
Sempre convivi com
instrumentos os mais diversos porque os ensaios dos conjuntos onde meu pai
tocava eram na garagem da nossa casa. Meu padrinho, Leo Belloni, era
violonista, tocava junto com meu pai (baterista) e me deu toques básicos
fundamentais do violão e de como conviver com ele, contaminado que era pelo
micróbio do samba. Ele morreu cedo e não pude conviver e aprender mais, mas
acredito que ele tenha sido responsável por desmistificar o necessário para que
eu me aventurasse, em vez de escolher qualquer outro instrumento. Certamente
foi ele quem orientou a minha (outra) avó na escolha do primeiro, violão
presente de aniversário de seis anos, e que eu não esperava. Daí, professores e
ídolos foram sendo assimilados sem que nunca eu chegasse a ter experimentado a
sensação de entender como funciona o mecanismo do temperamental instrumento.
Hoje ele prossegue misterioso e intransponível para mim, mas adquiri intimidade
com esse mistério, digamos assim. Fiz turnês solo, pela Europa, toquei na
África, no jardim das esculturas do MoMA, no complexo do Alemão no Rio, em
salas antigas, em salas míticas, em ginásios, em espeluncas, em cima de
engradados. Foi sempre assim, tomando e retomando, que convivemos, o
instrumento fora de moda no Brasil, e eu.
A retomada desta vez
deve-se ao fato de que precisei parar de tocar por conta de uma lesão chatinha
na mão direita, mas o que importa é a volta, e estamos nos reaproximando.
No mais, como sempre
digo, no meu ofício quem comanda são as canções, e não me debato com isso.
Gosto, aliás, de ser levada por elas. Então nunca tenho a menor pretensão de
ser coerente com um set list adiantado, adiantando que ando tocando aquelas das
quais estava com muitas saudades, algumas das quais havia até esquecido,
algumas do micróbio do samba, algumas das quais tenho inveja porque gostava de
tê-las escrito, algumas que escrevi, mas foram gravadas por outros artistas,
poemas que musiquei , e alguma coisa nova que ninguém é de ferro. Olhos de
onda, por exemplo, que batiza o show, qualquer que ele seja, fiz enquanto
ensaiava. Além de inaugurar nova safra de composições, o que sempre é motivo de
alegria, a canção ajudou a dar o norte do recital. Constatei quando essa
canção nasceu, que as outras já estavam também falando do que ela fala e da
língua portuguesa e do mar da língua e por aí vai.
De tudo um pouquinho,
como a receita da felicidade, deixando sempre aberto o espaço para poetas que
me apareçam e para novas canções que podem sempre me arrebatar mais perto da
hora ou que podem ser escritas no camarim, sacrificando para isso certezas absolutas
no repertório, tudo é possível, graças aos deuses.
Aqui estamos, eu, o
violão e algumas canções que adoro, nos reencontrando, como se fosse a primeira
vez, nos encontrando pela primeira vez quando é o caso, desejando viver a cada
noite mais uma "daquelas" noites.
Coração no palco e pé
na estrada, nos vemos em breve”.
Adriana Calcanhoto
Show: Adriana
Calcanhoto “Olhos de Onda”.
Local: CAIXA
Cultural Brasília, Teatro da CAIXA
Endereço: SBS Quadra
4 - Edifício anexo à Matriz da Caixa.
Temporada: de 5 a 9
de agosto de 2015.
Dias e horários:
Quarta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h.
Ingressos: R$ 20,00 e
10,00 (meia).
Classificação: 14
anos.
Informações.
3206.9448
==> Foto: Leo Aversa
0 comments:
Postar um comentário