Quando subir no palco da sala Plínio Marcos para dar vida à
personagem Aninha, na próxima segunda-feira (27), a atriz Raquel Portela
estará contando um pouco da própria história. "Quando estudei, não
existia sequer a figura do intérprete. Foi já no ensino médio e, depois,
na faculdade, que contei com a ajuda deles em sala de aula", lembra a
deficiente auditiva de 23 anos.
A trama de As mãos que rompem o silêncio mostra a jornada de um casal
simples do interior em busca de inclusão para a filha, Aninha, que é
deficiente auditiva. Com dificuldades para interagir e educar a menina,
eles sequer imaginavam a existência da Língua Brasileira de Sinais
(Libra) — reconhecida oficialmente pela Lei 10.436, de 2002. Assim, a
família parte para Brasília, em busca de educação e do exercício da
cidadania plena para a jovem.
"Nunca se sabe quando vai surgir um
filho surdo na família", reflete Raquel, que fora dos palcos é
professora de educação física e trabalha com o condicionamento dos
atletas da Federação Desportiva dos Surdos. Apesar de experiências
anteriores em peças da igreja, ela não nega o frio na barriga antes de
subir em um dos principais palcos da capital. "Estou ansiosa, será a
primeira vez ante um grande público."
Nas duas primeiras cenas da
trama, um tradutor passa para o português os diálogos em Libras, assim
como traduz para a língua de sinais o que é dito em português. "Depois, a
tradução se incorpora ao espetáculo, faz parte dele", explica o diretor
Thomaz Coelho. Dentro da proposta, atores de misturam ao público em uma
tentativa de transformar o teatro em uma grande classe. Assim, a
audiência tem uma verdadeira aula sobre as origens da comunicação por
sinais, desde a época do Império, no século XIX, de como funciona a
Libras e de que forma ela muda para melhor o cotidiano dos deficientes
auditivos.
"Embora tenha um cunho pedagógico, não é uma peça
somente didática, ela contempla todos os parâmetros teatrais de
entretenimento", conta Coelho, que garante que o enredo possibilita ao
público momentos de muita emoção, assim como muitas boas risadas. O
espetáculo é resultado de uma parceria entre o Instituto Mais Mulher e a
Secretaria de Políticas para as Mulheres, Igualdade Racial e Direitos
Humanos
Segundo Alexandre Castro, integrante do elenco e servidor
da coordenação de Promoção de Direitos da Pessoa com Deficiência
(Promodef), ligado à secretaria, abraçar o espetáculo não foi uma
escolha para a pasta, mas uma necessidade. "A peça mostra o potencial
que o surdo tem e aborda aspectos importantes de acessibilidade". Dos
sete atores, seis são ligados à Promodef.
O enredo também tem um
caráter de serviço, ao explicar como funciona a Central de Interpretação
de Libras, que disponibiliza tradutores para auxiliar no atendimento
presencial e on-line de deficientes auditivos em órgãos públicos. Além
da importância da Central, a autora do espetáculo ressalta a importância
da Escola Bilíngue, da rede pública de Brasília. "Ela é pioneira por
ter sido a primeira no Brasil a ter a Libras como primeira língua, e não
o português", explica Christiane Burnier, do Instituto Mais Mulher. A
data escolhida para a estreia da peça, explica, é uma alusão ao Dia
Nacional da Língua Brasileira de Sinais, comemorado na última
sexta-feira (24)
As mãos que rompem o silêncio
Sala Plínio Marcos — Complexo Cultural Funarte, no Eixo Monumental
Segunda-feira, às 19h
Entrada Franca
Étore Medeiros, da Agência Brasília
==> Foto: Pedro Ventura
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