Grama sintética? O Palmeiras fez sua melhor partida fora de casa na
Libertadores no ralo e temido piso do estádio Caliente, em Tijuana, e
volta do México com um bom empate por 0 a 0. Prova de que empenho,
organização e vontade fazem mais diferença do que o terreno da partida.
Não é o bastante para dizer que o Verdão está entre as melhores equipes
da competição. Falta poder de fogo, falta ser incisivo, ter alguém que
intimide a defesa adversária. Se houvesse um craque, só um, a vitória
seria uma realidade. Mas a equipe compensou com muita obediência tática e
disposição para sair do México com um empate.
No dia 14, o Palmeiras vai jogar por qualquer vitória para eliminar o
Tijuana no Pacaembu, e enfrentar Atlético-MG ou São Paulo nas quartas de
final. Novo empate sem gols levará a decisão para os pênaltis, e uma
igualdade com gols classifica os mexicanos. Até lá, muito treino, nada
de jogo.
Difícil achar um só personagem na atuação coletiva do Verdão, mas é
preciso destacar Bruno. O goleiro, a quem todos olham com desconfiança
quando ele precisa atuar, mais uma vez foi bem. Fez três boas defesas e
substituiu o titular Fernando Prass à altura.
Não é apenas a grama que é artificial no estádio Caliente. Vazio para
um jogo de oitavas de final de Libertadores, ele precisava do incentivo
de um locutor para se tornar barulhento. Uma figuraça que se sentava
próximo à imprensa, e, com um microfone, pedia o grito da galera:
- No te escucho, cabecera norte! ("não te escuto, setor norte") -
inflamava o rapaz, quase um animador de auditório, ou então um daqueles
brasileiros que cornetam (no bom sentido) nos jogos de vôlei de praia.
Na entrada dos times em campo, música da Fifa, crianças e latidos
(também artificiais) para receber o Tijuana, já que o mascote é um
cachorro. Uma tentativa de imitar os esportes do país vizinho, os
Estados Unidos. Mas faltou emoção, faltou torcida, faltou paixão.
Grama, árbitro e atacante de soçaite
Sem o barulho da torcida e na grama sintética, o Palmeiras sentiu-se à
vontade como numa pelada de firma. E como em toda boa pelada de firma, o
árbitro faz suas trapalhadas. Inacreditável ele não ter visto o pênalti
em Wesley, na única boa jogada do meia, que perdeu até a chuteira, em
todo o primeiro tempo. Há jogadores que estão em todos os lugares do
campo. Isso parecia ocorrer com Wesley. Só que ele atrapalhou em todos
os setores.
O Verdão surpreendia pela desenvoltura. Marcava com as linhas compactas
e adiantadas, não deixava o Tijuana criar, até que os mexicanos
reagiram. Os pontas Martínez, clone malfeito de Neymar, e Riascos,
inverteram o lado. A marcação dos Xolos também foi ao campo de ataque. O
Palmeiras passou a ficar menos tempo com a bola e levou sustos. Vários.
Tiago Real errou, Henrique rebateu mal, e Martínez bateu muito mal. Ao
menos ninguém disse que ele precisa ir para a Europa para evoluir.
Depois Arce bateu falta com perigo, e Bruno espalmou. A última chance
foi digna daqueles atacantes do futebol de segunda-feira à noite. Moreno
arrancou e, sem vergonha alguma, sozinho na grande área, isolou. Se
fosse no soçaite, fingiria uma lesão e sairia mancando. Sorte que o
primeiro tempo já estava no fim.
Sem definição, mas perto da vaga
Com os nervos no lugar, o Verdão voltou a controlar o jogo. A marcação
chegou a ser exemplar em alguns instantes, com dois ou três jogadores
cercando o mexicano que tinha a bola, e saída rápida em contra-ataque
com Vinícius pela esquerda, em cima do fraco lateral-direito Nuñez. E
Moreno, aquele do gol perdido, logo foi substituído.
Se não fossem os torcedores atrás de um dos gols, com uma banda e
centenas de bandeiras rubro-negras, o silêncio reinaria no estádio
Caliente. A ponto de o locutor testar o microfone e, de repente, no meio
da partida, emitir sons como “sim” e “alô”. Retrato da atuação morna,
sem pimenta, dos Xolos.
O grande problema é que falta definição. O adversário não oferece
perigo nem resistência, mas o Palmeiras sucumbe ao ritmo lento. Isso já
havia ocorrido em Lima, diante do Sporting Cristal. Kleber até acertou
bom chute, mas à esquerda do gol de Saucedo.
Se o Verdão não definiu, o Tijuana tentou. E foi hora de Bruno
aparecer. Primeiro em chute de Ruiz, depois na finalização do forte e
rápido Riascos, o melhor em campo. O goleiro espalmou as duas bolas e
mostrou a todos que podem confiar nele.
Com Souza no lugar de Wesley, o Palmeiras se fechou ainda mais para
explorar os contra-ataques. Faltou “o cara”. O time continua sem fazer
gols fora de casa na Libertadores, mas pela primeira vez não sofreu. E,
para as pretensões de Gilson Kleina, está ótimo. A vaga nas quartas, uma
utopia no início da competição, está próxima.
==> Fonte: Globoesporte
==> Foto: AP
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