CLUBE DO CHORO DE BRASÍLIA APRESENTA - MAURO SENISE e GABRIEL GESZTI

Mauro Senise iniciou seus estudos aos 20 anos, tendo como mestres a flautista Odette Ernest Dias e o saxofonista Paulo Moura. Tocou e gravou com Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Wagner Tiso, Luiz Eça, Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre outros grandes nomes da música instrumental brasileira. Junto com o baterista Pascoal Meirelles, Senise é fundador do grupo Cama de Gato, com o qual se apresentou na Europa e nos Estados Unidos. Há 22 anos mantém um duo com o pianista, compositor e arranjador Gilson Peranzzetta. Juntos, têm oito discos gravados. Mauro também é fundador, com o flautista Kim Ribeiro, do Quinteto Pixinguinha, que tem um CD gravado. Em 2002, Senise foi um dos solistas do concerto “The Music by Pixinguinha”, no Lincoln Center, em Nova York, com direção do violonista brasileiro, radicado nos Estados Unidos, Romero Lubambo. Mauro tem um CD gravado em duo com Romero. Senise também mantém um quarteto, que tem excursionado pelo Brasil e pela América Latina. Tem nove discos solo lançados e foi solista de dez edições do Projeto Aquarius. Em 2005, lançou o CD “Tempo Caboclo” em parceria com o pianista, compositor e arranjador Jota Moraes, seu companheiro no Cama de Gato. Este disco reúne obras de compositores clássicos brasileiros e foi indicado para o Grammy Latino 2006, na categoria Melhor CD Clássico. Também em 2006 gravou “Casa Forte”, disco dedicado à obra de Edu Lobo. E em 2007, lançou o DVD correspondente, gravado ao vivo na Sala Cecília Meireles. Em 2008 foi a vez de “Êxtase”, o quarto CD do duo que mantém com Gilson Peranzzetta. No mesmo ano, lança ainda outro CD, “Caixa de Música”, com o pianista Kiko Continentino e o guitarrista Leonardo Amuedo. Em 2009, lança “Lua Cheia – Mauro Senise toca Dolores Duran e Sueli Costa”. Este CD foi indicado para o Grammy Latino 2009, na categoria Melhor CD Instrumental. Em 2010, Gilson Peranzzetta e Mauro Senise lançam o CD “Melodia Sentimental” – o quinto trabalho da dupla, onde os dois convidam a harpista Silvia Braga. Ainda em 2010, comemorando 20 anos de parceria, o duo Peranzzetta - Senise grava o CD “Linha de Passe”, só com standards da música popular brasileira. Também com Peranzzetta, Mauro lança em 2011 o CD e o DVD “100 Anos de Noel Rosa”, uma releitura da obra do Poeta da Vila, com participação de Alaíde Costa, Zeca Assumpção, Amoy Ribas e do Quarteto Bessler. Neste mesmo ano, Senise foi um dos solistas da orquestra holandesa Metropole num concerto em Amsterdam, em homenagem à música de Edu Lobo, com a participação do compositor e de Peranzzetta. Em 2012 ele lança o CD e o DVD “Afetivo”, que celebra seus 40 anos de carreira. O projeto tem participação especial de todos os músicos que foram fundamentais em sua carreira: Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, Wagner Tiso, Gilson Peranzzetta, Edu Lobo, Sueli Costa, Rosana Lanzelotte, Odette Ernest Dias, os grupos Cama de Gato e Quinteto Pixinguinha, Robertinho Silva, Ivan “Mamão” Conti e Zeca Assumpção, entre outros grandes instrumentistas.

Gabriel Geszti é pianista, acordeonista, compositor, arranjador. Começou a estudar piano aos 10 anos com Aida Gnattalli. É formado em Licenciatura em Música pela Uni Rio, teve aulas de piano popular com Rafael Vernet e de piano erudito com Estela Caldi.

Formou-se em harmonia funcional e modal com o professor Ian Guest. Gravou 2 cds instrumentais com as bandas Samambaia e Travalingua. Participou do projeto “A Trajetória de Dois Gênios”, tocando no CCBB do Rio o réquiem de Brahms ao lado de Estela Caldi, do maestro Homero Magalhães e do coro de Campinas. Fez turnê pela Europa com o gaitista Gabriel Grossi. Participou também de turnê pela África com a cantora Wanda Sá.

É integrante das bandas Onze Cabeças e Pequena Orquestra de Mafuás. Atualmente integra a banda de Naná Vasconcelos, com quem fez turnês pela Europa e pelo Brasil. Já tocou ao lado de nomes como Leila Pinheiro, Zeca Balero, Alceu Valença, Lui Coimbra, Nana Vasconcelos e Wanda Sá.

Um jovem de 61 anos entra por um portão carregando um estojo de saxofone. A elegância descontraída trai também a profissão de músico: chapéu de feltro, jaqueta de camurça, calça chino, camiseta Miles Davis Kind of Blue e sapatênis, em cores sutilmente combinadas. A casa abóbora de portão verde-garrafa, à sombra do Cristo do Corcovado, é o estúdio da Biscoito Fino. Lá dentro, num ambiente aconchegante, com assoalhos forrados de coloridos tapetes, Mauro Senise grava o CD e o DVD que marcam seus 40 anos de carreira. O título do projeto nasceu de uma música ainda sem nome que Sueli Costa compôs especialmente para ele, com um clima tão afetuoso que acabou se chamando Afetivo. Nesta primeira gravação do DVD já se percebe a rede de afetos que se estendeu ao longo das duas intensas semanas em que Mauro reencontrou seus principais companheiros de jornada musical.

Mauro Alceu Amoroso Lima Senise (tem sinônimo de “afetivo” até no sobrenome), era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones — e também o rock pauleira de Jimi Hendrix, Led Zeppelin e The Doors. Aos 20 anos foi estudar jornalismo na PUC. Seis meses depois, o mundo perdeu um jornalista, mas ganhou um grande músico. Fascinado pelos sons de jazz que ouvia do apartamento vizinho — o piano de Tenório Jr., o sax de Vitor Assis Brasil — Mauro tomou a corajosa decisão de largar a faculdade e estudar música. Como instrumento, escolheu a gaita de boca (inspirado por Bob Dylan), mas se fixou depois na flauta transversa e foi estudar com a professora Odette Ernest Dias na Pró-Arte. Emérito contador de causos — como a maioria de nossos músicos instrumentais — Mauro lembra um episódio em que ele e Odette visitaram Pixinguinha na movimentada Uisqueria Gouveia, no centro do Rio. Quando Odette anunciou que ia tocar uma peça de Debussy, o velho Pixinga, com muita dificuldade, se pôs de pé e falou em tom solene: “Pessoal, silêncio, que agora a música é séria!” Odette, 82 anos, presenteia Mauro tocando com ele em duo de flautas Feitio de Oração, seguido por outro Noel, Pra que mentir, pelo Quinteto Pixinguinha, com Mauro ao sax soprano, mais violão e três flautas, uma delas a filha de Odette, Andrea. O contexto semierudito prossegue em Atrevidinha, de Ernesto Nazareth, com o trio que marcou alguns dos melhores momentos da carreira de Mauro: ele à flauta, Rosana Lanzelotte ao cravo e David Chew ao violoncelo.

A ânsia de Mauro pelo jazz foi preenchida pelas aulas de saxofone com Paulo Moura no Museu da Imagem e do Som. Paulo instruía um batalhão de jovens em “rapidinhas” de dez minutos cada. Sentindo o potencial de Mauro, sugeriu-lhe aulas particulares. Paulo Moura logo lançou o garoto às feras e Mauro aprendeu na prática tudo o que precisava saber, com músicos como os pianistas Wagner Tiso, Luís Eça e o homem-dos-mil-instrumentos Hermeto Pascoal. Mauro dedicou o Afetivo “ao meu grande mestre, Paulo Moura, que acabou indo embora antes da hora e fez uma falta infinita nesta gravação.”

Wagner Tiso toca piano em seu tema Olinda Guanabara, com Mauro à flauta e sax alto, Luiz Alves ao contrabaixo e Robertinho Silva à bateria. Até hoje ele não esquece uma deixa de Wagner: “Mauro, quando for improvisar, tem de contar uma história e não ficar só fazendo escala para cima e para baixo...” Egberto Gismonti remete Mauro à lembrança de outro estúdio na remota Oslo, Noruega, o Talent Studio, onde gravaram juntos para o selo ECM. Gismonti era acompanhado pelo trio Academia de Danças, com Mauro (saxes, flautas), Zeca Assumpção (baixo) e Nenê (bateria). O reencontro dos dois é comovente, na meditativa Bodas de Prata, de Gismonti, ao piano, e Mauro ao soprano. Foi a primeira música que gravaram em duo, há 30 anos (devia mudar o nome para Bodas de Pérola...). Conta Mauro: “Assim como na primeira vez, entramos no estúdio, Egberto me deu a minha parte, ajeitamos as estantes, ficamos ‘olho no olho’ e gravamos esta beleza aí no primeiro take. Emoção pura.”

Hermeto foi o único que não pode comparecer ao estúdio. Mauro gravou com ele em condições atípicas em Curitiba, onde o Bruxo se esconde nos últimos anos. Hermeto sugeriu que Mauro gravasse um solo, saiu para tomar um café e voltou para colocar sua parte ao piano. Num lance típico do Bruxo, esta acabou sendo a primeira composição assinada por Mauro em toda a sua carreira. Na verdade, Mauro é o arquétipo-protótipo do Intérprete, que prefere trabalhar sobre material já composto. Mas, ao improvisar sobre um tema qualquer, ele nunca escapa de recriar e de se tornar uma espécie de “compositor instantâneo”. Os sons da bela Feita à mão sublinham as imagens iniciais da (nada inútil) paisagem carioca na abertura do DVD. No encarte, Mauro diz a Hermeto: “Você me ensinou tudo na vida durante os sete anos em que toquei com você e também naqueles dez dias em que morou na minha casa (e devorava o sorvete de café que a minha mãe fazia...)”.

Edu Lobo mereceu de Mauro um CD e um DVD gravados respectivamente em 2006 e 2007, Casa Forte. Para sua homenagem a Mauro (e vice-versa), Edu escolheu o Choro Bandido, sua parceria com Chico Buarque: Mauro ao sax e flauta e Gilson ao piano acompanham o canto de Edu, realçado pela Orquestra dos Sonhos, maravilhosa invenção de Peranzzetta, com um time campeão de onze cordas, entre violinos, violas, violoncelos e contrabaixo.

Depois do primeiro disco com o Alquimia, em 1982, Mauro deslanchou com o Cama de Gato. Foram seis álbuns em quinze anos de atividade intercalada por outros discos e projetos. O Cama é celebrado em Afetivo com Jota Moraes (teclados), André Neiva (baixo elétrico), Pascoal Meirelles (bateria), Mingo Araújo (bongô) e Mauro ao sax soprano na inédita Tié Sangue, que, segundo Mauro, “o sempre inspirado Jotinha compôs especialmente para o projeto.”

A faixa Afetivo é um momento especial. Homenageada por Mauro em metade do CD Lua Cheia (2009) — a outra metade coube a Dolores Duran — Sueli Costa, autora do tema, toca piano; Mauro, sax soprano; o amigo recente, Leonardo Amuedo, uruguaio de alma brasileira, contribui com um belo solo de guitarra; e Peranzzetta volta ao seu primeiro instrumento, o acordeão da infância.

Uma boa metade destes 40 anos foi marcada, para Mauro, pela intensa parceria de 22 anos com Gilson Peranzzetta. Em 1990, eles fizeram o primeiro disco, Uma parte de nós. Gilson está superpresente em Afetivo. Participa da faixa-título, é o arranjador de Atrevidinha, arranjou e toca piano em Choro Bandido; em Choro sim, porque não, uma parceria com Chiquinho do Acordeão, com o sax e o piano realçados por um agilíssimo quarteto de cordas; toca piano e arranja suas composições Mauro e Ana e Ondine. Essa é uma incursão debussyana com o trio do álbum Melodia sentimental: Gilson ao piano, Mauro à flauta e Silvia Braga à harpa.

Mais um detalhe afetivo em toda essa história. Nos últimos 12 anos Mauro reencontrou Ana Luisa Marinho, sua companheira de vida e carinhosa curadora do seu trabalho. As fotos de Ana Luisa para o encarte de Afetivo consolidam a qualidade do seu trabalho nos álbuns mais recentes do marido: a imagem em preto-e-branco de Mauro soprando o sax sob o chapéu é uma verdadeira declaração de amor.

E outra boa notícia: Mauro e Gilson gravaram, no apagar das luzes de 2011, um novo CD, na Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso, notável por sua acústica, ao lado da Santa Casa, no centro do Rio. Com temas de Gilson e do catalão Frederic Mompou (1893 -1987), Jasmim vai brotar em 2012 e inicia uma nova etapa de Mauro Senise rumo aos 50, 60 — e quantos anos mais forem — de uma luminosa vida e carreira.

Roberto Muggiati

Escritor, crítico, jornalista


As apresentações acontecem dias 26, 27 e 28 de Setembro de 2012 – Quarta, Quinta e Sexta-Feira a partir das 21:00 horas. Ingressos a R$20,00(inteira) e R$10,00 (meia).

Informações: Tel.: 3224.0599. Ingressos: Clube do Choro de Brasília – SDC BLOCO “G” - Funcionamento da bilheteria: 2ª a 6ª feira: 10:00 às 22:00 horas. Sábado a partir de 19:00 as 21:30 horas, ou através do site: www.clubedochoro.com.br

O Clube do Choro de Brasília fica entre a Torre de TV, o Centro de Convenções e o Planetário.

Produção: Marco Guedes (0xx-61-3225-1199 / 0xx-61-7816-5341-ID 97*-50701).

Contato artista: Oxx-21-9979-1001

Não recomendado para menores de 14 anos


==> Foto: Ana Luisa Marinho

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